O dólar (USDBRL) volta a se aproximar de R$ 6, com alta de 1,87% a R$ 5,91, e o Ibovespa (IBOV) cai 1,5%, aos 127.990 pontos, após notícias revelarem que o pacote de gastos do governo Lula virá com também com despesas. Os investidores reagem mal a relatos que o governo anunciará a isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, no mesmo dia em que tenta fechar o pacote de corte de gastos com o Congresso.
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“Se já havia dúvidas sobre a efetividade do pacote de corte de gastos em segurar a trajetória da dívida pública, agora com o possível anúncio de receita menor devido à isenção de IR o cenário tende a piorar bastante. Lembro que a isenção de IR para rendas de até R$ 5 mil por mês é promessa de campanha do presidente Lula. A conferir as medidas anunciadas mais tarde, mas as expectativas deterioram-se bastante”, pontua o estrategista da EQI Research, Felipe Reis.
“No mínimo não é o momento mais adequado para sinalizar uma medida assim, que piora o déficit fiscal. Não faz sentido. Vem numa hora em que tem feito um trabalho difícil para reduzir o déficit fiscal”, opina Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria.
Na visão de Bruno Takeo, estrategista da Potenza Capital, a eventual redução do IR neste momento vai na contramão da expectativa do mercado de um pacote robusto de corte de gastos.
“A sensação é de que tentará inflar o pacote com medidas que não sejam tão realísticas, fica difícil o mercado não ficar cético”, afirma Bruno Takeo, estrategista da Potenza Capital. Às 14h24, o Ibovespa caía 1,34%, aos 128.176,46 pontos, após ceder 1,66%, na mínima aos 127.767,82 pontos. Só 9 ações subiam, de um total de 86.
Pacote de gastos
O pacote de corte de gastos a ser anunciado nesta quarta-feira (27) pelo governo federal abordará supersalários no serviço público e imposto sobre grandes fortunas, disse há pouco o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho. Em entrevista coletiva para explicar a criação de 132,7 mil postos de trabalho em outubro, o ministro adiantou alguns pontos das medidas.
“Supersalários, imposto para super-ricos, vem tudo aí. Pacote completo”, disse Marinho. Perguntado se o pacote também envolve aumento de correção na tabela do Imposto de Renda, o ministro simplesmente disse: “Tudo”, sem entrar em detalhes.
Em relação ao seguro-desemprego, Marinho declarou que não haverá mudança de regra. Segundo o ministro, a ideia chegou a ser discutida no pacote, mas não avançou.
“Não há mudança de regra para o seguro-desemprego, por exemplo, mas vamos aguardar os detalhes. Se não eu vou furar o olho do colega [ministro da Fazenda, Fernando Haddad]. [O pacote] será muito diferente do que estava sendo desenhado até então”, disse. Em relação ao abono, Marinho nem confirmou, nem negou alterações.
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Marinho confirmou que o pacote a ser anunciado às 20h30, em cadeia de rádio e TV, pelo ministro Haddad será detalhado nesta quinta-feira (28) em entrevista coletiva.
Há um mês, o governo tenta enviar medidas de corte de gastos obrigatórios que impeçam, até 2027, o estouro do limite das despesas do arcabouço fiscal. Em vigor desde o ano passado, o marco fiscal restringe o crescimento real (acima da inflação) das despesas do governo a 70% do crescimento real das receitas, limitado a 2,5% acima da inflação por ano.
Debates
Em outubro, Marinho chegou a anunciar que pediria demissão se o Ministério do Trabalho não fosse ouvido na elaboração do pacote. Nesta quarta-feira, o ministro disse ter mudado de opinião porque conseguiu botar as “impressões digitais” nas medidas.
“Eu disse [em outubro] que, se não fosse ouvido, eu pediria demissão. Mas fui envolvido. Participei do debate. Hoje Haddad fará o pronunciamento. Amanhã serão anunciados os detalhes. Lá tem as minhas digitais nos debates lá colocados”, declarou.
Outras medidas
Na segunda-feira (25), Haddad confirmou que o pacote também trará medidas para reformar a previdência dos militares, reformular o Vale Gás e limitar os supersalários no funcionalismo público federal.
Na entrevista de hoje, Marinho disse que o pacote de corte de gastos é necessário para ajustar o ritmo de crescimento dos gastos ao das receitas. “A PEC [proposta de emenda à Constituição] da Transição resolveu um problema herdado do governo anterior e resolveu que a economia funcionasse por dois anos. Agora é preciso ajustar a velocidade de despesas com receitas. No ano passado, o Congresso não aprovou todo o desejado [pelo governo]”, declarou.
(Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)