Ao comentar o aumento de 1 ponto porcentual na taxa básica de juro da economia (a Selic), para 12,25% ao ano, nesta quarta-feira, o economista-chefe do Banco Itaú, Mario Mesquita, ex-diretor do Banco Central, chamou a atenção o comunicado do Copom não ter destacado que a decisão foi unânime.
Por isso, ele levanta a possibilidade de dissenso entre os integrantes do comitê, apesar de todos terem votado pelo aumento de 1 ponto porcentual.
“Curiosamente, embora todos os membros do conselho tenham votado pelo aumento de 100 p.b. (1 ponto porcentual), o texto não mencionou que a decisão foi unânime”, afirma Mesquita, em relatório. “Isso, em nossa opinião, levanta a possibilidade de que não houve consenso sobre a sinalização.”
Segundo Mesquita, é possível, “embora menos provável”, que alguns integrantes do Copom tenham optado “por um ritmo diferente de aumento”, talvez de 0,75 ponto porcentual, “mas acabaram apoiando a maioria para minimizar ruídos”.
Para o economista, essa dúvida pode ser dirimida na ata da reunião do Copom, que sairá na terça-feira, 17, e no Relatório Trimestral de Inflação, que será divulgado na quinta-feira, 19.
“Por enquanto, esperamos que a taxa básica seja elevada em 100 pontos-base (1 ponto porcentual). na próxima reunião de política monetária, e muito provavelmente na seguinte também”, afirma Mesquita.
Racha de maio
Atualmente com “dois presidentes” – Gabriel Galípolo, indicado por Lula para 2025, e o atual Roberto Campos Neto, o BC teve, em maio, o seu momento mais “constrangedor”. Naquela ocasião, o Copom havia optado por um corte de 0,25 ponto percentual na Selic.
Era o último do ciclo, que levaria o juro para o nível atual de 10,5% ao ano. Os diretores do Copom, contudo, se dividiram em duas “alas políticas”, conforme fizeram a leitura os economistas naquela ocasião.
O lado “lulista” de diretores indicados pelo presidente, com 4 votos para uma redução de 0,5 p.p., e a ala do mandatário atual, com 5 votos para a decisão de 0,25 p.p..
Haddad vê “surpresa”
Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a decisão representa “surpresa por um lado”, mas já estava prevista pelo mercado financeiro. Ele disse estar perseguindo as metas fiscais e ressaltou que o pacote de corte de gastos enviado ao Congresso é “adequado e viável politicamente”.
“Foi surpresa por um lado. Mas, por outro lado, tinha uma precificação [do mercado financeiro] nesse sentido. Vou ler com calma, analisar o comunicado, falar com algumas pessoas depois do período de silêncio”, declarou Haddad ao deixar o Ministério da Fazenda cerca de uma hora após o fim da reunião do Copom, sem entrar em detalhes sobre a decisão do BC.
Até meados do ano passado, Haddad comentava explicitamente as decisões do Copom, criticando o atraso do Banco Central em começar a reduzir os juros e o tom de alguns comunicados. Quando a autoridade monetária começou a reduzir a Selic, em agosto do ano passado, o ministro celebrou a decisão.
Pacote fiscal
Sobre o pacote fiscal, Haddad disse que uma semana é suficiente para as medidas serem aprovadas na Câmara dos Deputados e no Senado, mesmo com o impasse na liberação de emendas parlamentares. Segundo o ministro, o ajuste fiscal, estimado em R$ 71,9 bilhões até 2026 e em R$ 327 bilhões até 2030, foi o viável politicamente.
“Esse tipo de coisa é difícil de processar no Congresso Nacional. A gente mandou um ajuste que consideramos adequado e viável politicamente. Você pode mandar o dobro para lá, mas o que vai sair [ser aprovado] é o que importa”, afirmou.
(Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)