Gabriel Galípolo, recém-nomeado presidente do Banco Central (BC), terá que enfrentar o desafio de justificar estouros na meta de inflação com maior frequência em 2025, devido às mudanças no sistema de avaliação. A nova regra avalia a inflação continuamente, mês a mês, ao invés de usar o calendário anual.
Assim, “se a inflação ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, é considerado descumprimento da meta”. Segundo Enrico Czz, da Levante Investimentos, o cenário atual sugere que novas cartas de explicação não serão uma exceção.
Na primeira Carta de Galípolo, publicada na sexta-feira (10), o BC apontou que a inflação elevada de 2024 foi influenciada por quatro fatores principais: alta do dólar, aquecimento da economia, efeitos climáticos adversos e a desancoragem das expectativas de inflação. Para Czz, “nenhum desses fatores deixou de existir com a virada do ano”, o que aumenta a incerteza para 2025.
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O que Galípolo irá enfrentar?
• Inflação de 2024 superou o limite de tolerância. De acordo com o BC, “a inflação em 2024 ficou acima do intervalo de tolerância em decorrência do ritmo forte de crescimento da atividade econômica, da depreciação cambial e de fatores climáticos”. A persistência desses elementos é um alerta para 2025.
• Alimentos e combustíveis foram os principais responsáveis. A inflação dos alimentos atingiu 8,22% no ano passado, influenciada pelo “ciclo do boi e a depreciação cambial”, enquanto a carne subiu 20,84%. A gasolina também contribuiu, com aumento de 9,70%, mesmo diante da queda no preço internacional do petróleo.
• Inércia inflacionária amplifica os desafios. A inflação acumulada em 2023 impactou 2024 devido ao “carregamento estatístico”. Isso significa que “a inflação passada significa pressão corrente de custos”, afetando tanto bens e serviços quanto reajustes atrelados a índices anteriores, como planos de saúde.
• Crescimento econômico pressionou os preços. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 3,3% até o terceiro trimestre de 2024 e deve fechar o ano em 3,5%. Segundo o BC, “o crescimento do consumo refletiu o aumento da massa salarial real, a elevação das transferências governamentais e a expansão do crédito”.
• Novo sistema de metas aumenta rigor na avaliação. Com a mudança nas metas de inflação, cada mês será comparado com o intervalo de tolerância acumulado nos últimos 12 meses. Segundo Enrico Czz, isso amplia a possibilidade de novos descumprimentos e, consequentemente, de mais cartas de justificativa por parte do BC.
• Expectativa de continuidade na política monetária rígida. Galípolo segue adotando o discurso ortodoxo de Roberto Campos Neto, mas a primeira reunião do Copom em 2025 será crucial para confirmar se a política de juros elevados será mantida como ferramenta de controle inflacionário.
• Cenário de incertezas para 2025. Czz alerta que os fatores que pressionaram a inflação em 2024 continuam presentes e combinam-se com um componente adicional de incerteza. “Nenhum desses fatores deixou milagrosamente de existir porque 2024 se encerrou e 2025 começou”, destaca o analista.
Veja a carta de Galípolo