Tratar a questão financeira de uma família é uma grande responsabilidade. Diariamente, milhões de brasileiros negligenciam esta realidade e baseiam suas decisões simplesmente em desejos momentâneos e promoções “imperdíveis” encontradas nesta ou naquela vitrine. Consomem de maneira exagerada, sem pensar na sustentabilidade de suas ações ao longo do tempo – o que significa, em essência, negligenciar também o planejamento financeiro e o futuro da família.
A questão é delicada, por isso um primeiro parágrafo tão “pesado”. Afinal, é muito fácil encontrar cidadãos ávidos por novos produtos eletrônicos, carros e outros sonhos de consumo. O crédito, um benefício incrível para o estímulo da economia, transforma o objeto de desejo em uma dura e persistente lembrança: as muitas parcelas ferem o orçamento doméstico e mudam, ainda que de forma indireta, as prioridades do lar. Pense em você e responda:
- Vale a pena trabalhar só para pagar contas?
- Quais realizações você e sua família realmente atingiram através do esforço contínuo de economizar, evitando prestações e juros nocivos ao seu bolso?
- Que significado tem a palavra objetivo dentro de sua casa?
As questões são propositalmente simples, mas provocantes. O constrangimento ao respondê-las representa a situação de quase 80 milhões de brasileiros, que sustentam dívidas e vivem mantendo aparências e comprando bens que estão além de sua real capacidade de pagamento e necessidade. Isso mesmo, estão entre nós diversos personagens – representados por quem quer viver a vida de outra pessoa.
Discutir os desequilíbrios e as agruras financeiras de nossos pares fatalmente leva a discussão ao seu ponto mais quente: o padrão de vida. Sustentando a simplicidade usual de minhas opiniões, gosto de defini-lo como um conjunto de hábitos capaz de garantir dignidade, conforto, lazer e futuro à uma família. Mas, é claro, a definição é subjetiva e dificilmente há quem dela discorde. E então?
Ora, concordamos que é preciso viver com dignidade. Ser respeitado é o mínimo diante de uma sociedade tão agitada; respeitar é contra-partida para merecer espaço e reconhecimento; ser gentil, poder trabalhar e incentivar a felicidade nas pequenas coisas faz bem. Dignidade, pois bem.
Ora, concordamos que é preciso viver com conforto. Ter onde dormir é tão aconchegante; oferecer espaço para o crescimento dos filhos é gratificante; sentir nos gestos de todos a emoção de uma família unida em prol da unificação de objetivos traz alívio; um bom sofá, acompanhado de uma TV, pode trazer paz e informação; um livro como porta para sonhos e novidades. Conforto, pois bem.
Ora, concordamos que é preciso viver com lazer. A vida há de ser divertida; momentos de prazer, alegria e diversão devem ser valorizados e trazidos ao cotidiano do lar; um filme novo no cinema garante ótimas lições; assistir ao jogo de futebol ao lado do irmão faz o coração bater mais forte; ao sorrir deixamos de lado os problemas. Lazer, diversão, pois bem.
Ora, concordamos que é preciso viver com futuro. Não há o que exaltar sobre o futuro, porque ele ainda não se faz presente. Sobre ele, só há uma verdade absoluta: ele chega. Quanto do que temos e somos ainda estará à nossa volta quando o futuro chegar? Quanto do que conquistamos ainda poderemos orgulhosamente acariciar quando ele chegar? O que seremos quando o presente der lugar ao futuro?
O padrão de vida é uma medida de sustentabilidade, nada mais. Como indicador, não vale nada. Como fator de mudança, é fundamental. Se você é do tipo que não valoriza um (ou mais) dos fatores aqui retratados, você provavelmente se encontra em um padrão de vida fora da realidade adequada. Por que? Simplesmente porque exagera ou deixa de lado atitudes que podem fazer a diferença; gasta muito, pensa pouco!
Simplificando: se quanto você recebe (líquido) não é suficiente para garantir dignidade, conforto, lazer e futuro, você precisa rever seus conceitos sobre finanças pessoais. Tenho certeza de que você é digno do que tem, usufrui de uma vida confortável e também se diverte de vez em quando. A estatística comprova que somos um povo deste tipo. Falta alguma coisa. O que?
- Você reserva parte de seus rendimentos para investir no futuro?
- Economiza no dia-a-dia pensando no poder do dinheiro aplicado?
- Tem um plano para o dia em que você não puder mais trabalhar?
- Garante, desde já, a possibilidade de seu filho estudar e se manter enquanto trata de sua formação?
Falta futuro. Experimente incorporar o amanhã ao seu dia de hoje e pense em tudo o que pretende manter quando envelhecer ou decidir mudar. E faça o que tem que ser feito. Um carro, um celular, uma TV, uma viagem, tudo isso faz parte. Assim como o seu futuro. Você já sabe quanto vale cada um destes objetos, mas já parou para pensar em quanto vale seu futuro?
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Conrado Navarro, educador financeiro, formado em Computação com MBA em Finanças e mestrando em Produção, Economia e Finanças pela UNIFEI, é sócio-fundador do Dinheirama. Atingiu sua independência financeira antes dos 30 anos e adora motivar seus amigos e leitores a encarar o mesmo desafio. Ministra cursos de educação financeira e atua como consultor independente.
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