Home EconomiaBrasil Galípolo se alinha a Lula e pode parar alta da Selic em março

Galípolo se alinha a Lula e pode parar alta da Selic em março

Houve a quebra do link entre a perda de credibilidade do Arcabouço Fiscal e uma dinâmica inflacionária mais adversa, ressalta um economista

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central

O novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, parece ter indicado uma postura mais pró-governo Lula do que para o controle da inflação em sua decisão sobre a Selic de ontem. Isso acontece, ao mesmo tempo, em que a popularidade do presidente tem caído, e as projeções para o IPCA subido.

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Na quarta-feira à noite, o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve o que foi projetado na reunião de dezembro e subiu a Selic em 100 pontos-base, a 13,25% ao ano. O mesmo deve acontecer em março, tendo em vista o projetado também na última reunião do ex-mandatário, Roberto Campos Neto.

O ponto está no que foi avaliado no comunicado atual. Para o Itaú, por exemplo, o comitê não forneceu sinalização clara para além desse ponto.

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“O comitê não forneceu sinalização clara para além desse ponto. No geral, o comunicado tem um viés um pouco mais brando. Isso ocorre porque as projeções de inflação parecem relativamente moderadas, e as mudanças no texto sugerem preocupação com riscos à atividade econômica doméstica, bem como uma avaliação relativamente benigna (do ponto de vista de inflação) sobre o impacto potencial de choques no comércio global e nas condições financeiras”, explica Mario Mesquita, economista-chefe do banco.

O classificador iSent de Sentimento da comunicação do Banco Central, produzido pelo Itaú, segue em território positivo (0,45), mas já é possível ver uma queda da linha laranja. O indicador, baseado no GPT-4, usa frases publicadas em documentos oficiais dos bancos centrais, rotuladas por dovish, neutral ou hawkish.

iSent, Classificador do Itaú de Sentimento do Banco Central

Gráfico ijiqwniq
(Fonte: Itaú e BCB)

Segundo ele, além disso, o texto reage de forma contida à severa deterioração das expectativas de inflação nas últimas semanas – a pior registrada entre reuniões do Copom em mais de dez anos.

“Prevemos mais um aumento de 100 pontos-base na próxima reunião de política monetária (em 18-19 de março) e uma taxa terminal de 15,75% ao ano, mas os riscos indicam que o Copom pode encerrar o ciclo antes disso”, ressalta Mesquita.

Presidente da República, Luiz Inácio da Silva, durante coletiva à imprensa, no Palácio do Planalto
Presidente da República, Luiz Inácio da Silva, durante coletiva à imprensa, no Palácio do Planalto (Imagem: Ricardo Stuckert / PR)

Esperando a ata

A mesma avaliação foi realizada pelos analistas do BTG Pactual, que viu o tom da comunicação que elevou a Selic mais “dovish” do que o esperado, “sugerindo sensibilidade a sinais (incipientes) de moderação do crescimento doméstico e atenção a um cenário menos inflacionário impulsionado por choques no comércio internacional e nas condições financeiras globais. A principal incerteza para os próximos meses será a capacidade do Banco Central de ancorar as expectativas de inflação”, ressaltam Claudio Ferraz, Bruno Martins e Bruno Balassiano.

Eles mantêm, por enquanto, a projeção de elevação da Selic a 15,25% ao ano. “No entanto, continuaremos a monitorar os sinais do comitê e aguardaremos a ata da próxima semana para avaliar mais detalhes sobre os próximos passos da política monetária”, ressaltam.

E o problema fiscal?

Outro ponto relevante do comunicado foi o que Galípolo “esqueceu” do problema fiscal brasileiro.

“No parágrafo do comunicado que dizia respeito ao fiscal, houve a quebra do link entre a perda de credibilidade do Arcabouço Fiscal e uma dinâmica inflacionária mais adversa”, ressalta Lucas Farina, analista de economia da Genial Investimentos.

Fim do ciclo em março

Para Jason Tuvey, economista-chefe da Capital Economics para mercados emergentes, a falta de indicação para novos aumentos além de 19 de março são uma surpresa, dado o aumento nas expectativas de inflação.

“Por enquanto, achamos que o aumento de março marcará o fim do aperto — as condições monetárias estão, afinal, muito apertadas. Dito isso, os riscos para nossa previsão de taxa de juros estão firmemente para cima. O governo não parece estar com pressa para delinear medidas adicionais de aperto fiscal para lidar com o déficit orçamentário. Uma nova liquidação na moeda e/ou surpresas positivas nos dados de inflação nos próximos meses provavelmente seriam suficientes para convencer o Copom de que ele precisa fazer mais”, mostra o relatório.

Um reflexo dessa visão é o comportamento dos mercados de juros futuros hoje, que mostram a taxa de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 caindo para em torno de 15,030%, de 15,214% na véspera.

Lula nega interferência

O presidente disse nesta quinta-feira (30) que não se surpreendeu com a decisão do Copom.

“Uma pessoa que já tem a experiência de lidar com o Banco Central, como eu tenho, tem consciência de que, num país com o tamanho do Brasil, com a responsabilidade do Brasil, o presidente do Banco Central não pode dar um cavalo de pau no mar revolto, sabe, de uma hora para outra”, disse, em conversa com jornalistas.

“Já estava praticamente demarcada a necessidade da subida de juros pelo outro presidente [do Banco Central, Roberto Campos Neto]. O Galípolo fez aquilo que ele entendeu que deveria fazer. Nós temos consciência de que é preciso ter paciência”, completou Lula.

Durante a coletiva, o presidente disse ter “100% de confiança” no trabalho do novo presidente do Banco Central. “E tenho certeza de que ele vai criar as condições para entregar ao povo brasileiro uma taxa de juros menor, no tempo em que a política permitir que ele faça”, afirmou.

“Nós, como governo, temos que cumprir a nossa parte. A sociedade cumpre a parte dela e o companheiro Galípolo cumpre a função que ele tem, que é de coordenar a política monetária brasileira e entregar para nós, dentro do possível, a inflação mais baixa e o juro mais baixo possível. É isso que vai acontecer. Eu já esperava por isso, não é nenhuma surpresa pra mim.”

Autonomia

Lula disse ainda que, em seu governo, o presidente do Banco Central terá “autonomia de verdade”. “O [ex-presidente do Banco Central Henrique] Meirelles já teve, durante oito anos. Não foi um dia, foram oito anos”, lembrou, ao se referir ao período em que Meirelles assumiu a política monetária, entre 2003 e 2011.

Segundo o presidente, o recado dado por ele para Galípolo foi: “’Você vai ter autonomia. Faça o que for necessário fazer. O que eu quero que você saiba é que o povo e o Brasil esperam que a taxa de juros seja, dentro do possível, controlada’. Para que a gente possa ter mais investimento e mais desenvolvimento sustentável, gerar mais empregos e gerar mais distribuição de riqueza nesse país”.

“Eu não esperava milagre. Eu esperava que as coisas acontecessem da maneira que ele [Galípolo] entendeu que devem acontecer”, concluiu Lula.

(Com Agência Brasil)

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