O comportamento recente dos mercados de ações nos EUA está chamando a atenção por sua concentração histórica (mercados estreitos). Segundo a Richard Bernstein Advisors, 2023/24 foi o período mais estreito desde a bolha tecnológica de 1998/99, com apenas 30% das empresas do S&P 500 superando o índice. “Com apenas três períodos assim nos últimos 50 anos, mercados estreitos são a exceção, não a regra,” destacam os analistas.
Esse fenômeno contrasta com os princípios fundamentais do capitalismo, que se baseia na competição e inovação. A escassez de oportunidades de crescimento reflete um ambiente preocupante, onde poucas empresas dominam o cenário econômico. “A liderança extremamente estreita implica em uma escassez de crescimento,” explicam os analistas, sugerindo que isso pode indicar um período prolongado de contração econômica.
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A concentração atual não é justificada pelos fundamentos econômicos, pontua a Richard Bernstein. Diferentemente da Grande Depressão, quando mercados estreitos faziam sentido devido à sobrevivência das empresas, a economia de 2023/24 foi saudável. Isso levanta questões sobre como o capitalismo moderno está funcionando hoje.
Olhando para o S&P 500 hoje, o co-chairman da Oaktree Capital, Howard Marks, indicou que, embora o otimismo tenha prevalecido no mercado nos últimos dois anos, a atmosfera não é necessariamente de exuberância selvagem. Ele alerta, contudo, que as altas avaliações no S&P podem dificultar a obtenção de retornos futuros fortes, com altos múltiplos P/L efetivamente significando que os investidores estão contando com empresas gerando lucros por muitos anos.
“Não deveria ser uma surpresa que o retorno de um investimento seja significativamente uma função do preço pago por ele. Por esse motivo, os investidores claramente não devem ser indiferentes à avaliação de mercado de hoje”, disse em uma carta enviada a clientes em janeiro.
Lições do passado
Historicamente, mercados estreitos tendem a se expandir de forma abrupta e duradoura. Após a bolha tecnológica de 1998/99, por exemplo, o setor de tecnologia começou rapidamente a desempenhar abaixo da média, sem se recuperar plenamente nem após cinco anos. “Quando mercados se ampliam a partir de períodos estreitos, isso ocorre de forma súbita e por anos,” afirmam os analistas.
A falta de diversificação durante esses períodos pode ser perigosa. A concentração em poucas empresas cíclicas aumenta os riscos específicos ao mercado. Além disso, a Goldman Sachs apontou em uma análise feita em dezembro de 2024, que a volatilidade tende a aumentar significativamente no ano seguinte a mercados extremamente estreitos. “Diversificação restringe tipicamente a volatilidade do portfólio,”, mas mercados estreitos distorcem os índices, tornando-os menos diversificados.
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Apesar disso, investidores parecem relutantes em reequilibrar seus portfólios. Após 1998/99, muitos esperaram que a liderança estreita se reafirmasse, em vez de se prepararem para um mercado mais normal. Esse comportamento pode se repetir hoje, deixando investidores despreparados para a volatilidade futura.
Confiança extrema e os riscos do presente
Os investidores atuais estão demonstrando níveis históricos de confiança. Um gráfico da Conference Board mostra que as expectativas de alta no mercado de ações nos próximos 12 meses estão em níveis nunca vistos antes. “Investidores parecem excessivamente confiantes apesar do aumento do potencial de volatilidade,” alertam os analistas.
Essa confiança é ainda mais alarmante quando observamos o beta agregado das carteiras de investidores individuais. Segundo dados do Bank of America, o beta médio subiu para impressionantes 1.7, indicando uma exposição agressiva ao mercado. “A aversão à diversificação reflete a ganância durante períodos especulativos,” comentam os analistas.
Temas como “The Magnificent 7” e “excepcionalismo americano” têm levado investidores a ignorar a diversificação, vista como um entrave aos retornos altos. No entanto, 2025 pode ser o ano em que essa confiança extrema colide com a realidade de um mercado em expansão. “Se a volatilidade confrontar a superconfiança, então a diversificação pode salvar portfólios,” concluem.