O Tesouro dos EUA não vai comprar Bitcoin como estava-se especulando. Vai só parar de vender o que já confiscou e manter essa pilha como “reserva”, hoje algo entre US$ 15 e 20 bilhões, segundo ele mesmo, após meses de idas e vindas sobre um “estoque estratégico”. O mercado ouviu, reagiu na hora e o BTCUSD escorregou abaixo de US$ 119 mil. Quando o governo diz que não será comprador marginal, você elimina uma perna importante da narrativa de demanda soberana que parte do mercado vinha precificando desde março.
Do lado da demanda, o impacto é negativo no curto prazo porque o “comprador de última instância” estatal simplesmente não existe. Em março, Bessent havia sinalizado estudar mecanismos para ampliar a reserva além das apreensões e isso sustentou expectativas. Agora, a régua mudou: nada de compras, apenas retenção do que já está nas mãos do governo. Resultado prático: zera-se a hipótese de um DCA soberano e tira-se prêmio de narrativa do preço.
Do lado da oferta, há um contraponto que o mercado vai precificar rápido: se o Tesouro parar mesmo de leiloar moedas confiscadas, você remove uma fonte recorrente de pressão vendedora. Não é pouca coisa, estimativas públicas apontam que o governo americano detém algo na casa de centenas de milhares de BTC, herdados de operações como Silk Road e afins. Congelar essa base reduz o “float” efetivo e, por definição, o risco de dumps oficiais no meio de períodos frágeis de liquidez. Isso é levemente positivo no médio prazo.
A pergunta que interessa: isso para o rali?
Difícil. O ciclo atual é ditado por dois vetores mais pesados do que um não-comprador estatal:
1) A matemática pós-halving: emissão nova de apenas ~450 BTC por dia, e;
2) O apetite institucional via ETFs e, agora, 401(k) liberados para cripto em parte do mercado americano. Na aritmética: a 120 mil por moeda, a nova oferta diária é algo em torno de US$ 54 milhões; não é raro vermos dias com entradas líquidas acima disso nos ETFs, que por si só absorvem a emissão inteira e mais um pouco. Se essas torneiras continuarem abertas, o rali tem perna.
O choque de hoje foi de expectativa, não de estrutura. A estrutura é menos emissão e mais canais institucionais de compra e deve permanecer. Sim, o headline derruba preço no intraday, liquida alavancagem e assusta quem compra notícia. Mas a mensagem de fluxo é mais sutil: “não haverá demanda pública nova”, porém “não haverá oferta pública forçada”. No balanço, curto prazo azeda e volatiliza. médio prazo tende a neutro-positivo se a política de não-venda for crível.
O que pode, de fato, travar o rali?
Três coisas.
- Primeira, reversão de fluxo nos ETFs. Já vimos que oscila, mas a tendência recente voltou a ser de entradas; se virar para saídas constantes, é outra história.
- Segunda, choque macro de dólar e juros que encolha o apetite por risco.
- Terceira, qualquer sinal de que um futuro governo volte a leiloar grandes blocos de BTC aí sim, você reintroduz um vendedor previsível. Enquanto nada disso acontece, a decisão de Bessent é, na prática, um banho de água fria na narrativa, não um pino na roda do ciclo.
Para finalizar, não se desespere com headlines de curto prazo. Acompanhe o desenvolvimento do mercado para manter a posição segura, afinal o Bitcoin é um ativo relevante para o mercado.