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Aproveitando a crise para comprar mais barato

por Conrado Navarro
3 min leitura

Aproveitando a crise para comprar mais baratoCrises são sempre momentos de muita cautela e preocupação. Óbvio, já que o futuro apresenta-se como alvo especulativo de previsões e “chutes” por parte de quase todos os setores da economia. No fundo, cada grupo quer apenas “manter os pés aquecidos” e garantir sua sobrevivência (leia-se lucratividade). O consumidor, também soa óbvio, se assusta, sofre com as mudanças (encarecimento do dinheiro[bb], escassez do crédito, falta de planejamento, desemprego e etc.) e consome menos.

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As previsões oficiais do governo dão conta de que o Brasil crescerá cerca de 2% em 2009. Isso quer dizer que a equipe econômica acredita que o PIB (Produto Interno Bruto) nacional aumentará em relação ao valor apurado ano passado. Sim, mesmo diante do problema global de confiança e dos muitos prejuízos e questões estruturais sérias trazidas pela “falência” do moderno sistema financeiro norte-americano, há esperança.

Não é tão simples. O governo se mexe para ir muito além da simples expectativa de que as coisas continuem boas em um ano tão ruim. Como veremos, novas mudanças tributárias já afetam os preços de produtos de grande procura. O governo luta, sem esconder sua intenção, contra as previsões do mercado e de especialistas, que falam em retração de até 0,5% ao final do período. Confiáveis ou não – assunto extensamente abordado pelo articulista da Folha, Clóvis Rossi –, parece que o ano promete emoções.

Nova redução do IPI
Os famosos produtos da linha branca[bb] – geladeiras, fogões, máquinas de lavar roupa e tanquinhos – tiveram a alíquota de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) reduzida em até 10%. Além disso, cinco novos produtos foram acrescentados à lista de materiais de construção cujo tributo havia sido reduzido em março. A mudança tem validade de três meses e já está em vigor. Entenda o que mudou:

  • Geladeiras tiveram a alíquota de IPI reduzida de 15% para 5%, o que pode representar desconto médio real de 5% a 8% na compra por parte do consumidor;
  • Máquinas de lavar tiveram a alíquota de IPI reduzida de 20% para 10%, o que pode representar desconto médio da ordem de 5% no preço final ao consumidor. Há quem venda alguns modelos com descontos de mais de 10%;
  • Tanquinhos tiveram a alíquota de IPI reduzida de 10% para 0%. Algumas empresas já oferecem o produto com descontos de até 8%;
  • Fogões tiveram a alíquota de IPI reduzida de 4% e 5% para 0%, o que pode representar descontos de até 5% nos preços ao consumidor. Há casos de promoções com descontos da ordem de 10%;
  • As misturas betuminosas à base de asfalto (e outras), os ladrilhos e lajes para pavimentação ou revestimento, as válvulas de gaveta e as telhas de aço também tiveram a alíquota de IPI diminuída de 5% para 0%. Os Cadeados sofreram queda mais significativa, caindo de 10% para 0%.

A crise pode beneficiar quem sabe planejar e pesquisar
O governo age de forma intensa na redução dos preços e na injeção de ânimo na economia (oferta de crédito). Ele quer que todos continuem consumindo para, desta forma, manter a demanda interna aquecida e estimular as empresas a produzir, contratar e crescer mais. O governo quer um Brasil forte, economicamente sustentável e que possa oferecer qualidade de vida à sua população. Ótimo, eu também quero.

Mas o ato de consumir em excesso está ligado ao hábito de endividar-se, usar o crediário e as muitas formas de financiamento. E isso eu reprovo. Quantas vezes, aqui mesmo no Dinheirama, abordei a importância de pensarmos em nossas compras como reflexo de nosso planejamento? Pois é, o leitor que me acompanha desde sempre sabe como valorizo crises e como as tenho em conta como excelentes oportunidades de negócios[bb] – literalmente.

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Aquele que economizou, poupou e investiu, com objetivos claros e respeitados, está diante de um ótimo momento para reformar e mobiliar seu imóvel. Este poderá comprar um novo eletrodoméstico, aproveitando o dinheiro poupado para tal, com um belo desconto – e à vista. Quem planejou e hoje tem condições reais de compra poderá, efetivamente, comprar barato. Tudo o que precisa fazer é pesquisar bastante, já que os descontos variam de loja para loja, e lembrar-se de que o pagamento à vista oferece descontos para quem usa, por exemplo, o boleto.

O outro, aquele que gosta de usar o dinheiro que não quem, pagará barato pelo bem (em seu valor de mercado[bb]), mas caro pelo que ele representará em termos de dívida ao longo do ano – que, como já sabemos, não será fácil. Que garantias existem de que o cidadão empolgado com os novos preços e facilidades de pagamento honrará o compromisso assumido? De qualquer maneira, isso não parece importar – basta se lembrar, também, de como o spread é altíssimo por aqui e que motivações de compra surgem muito mais a partir do comportamento. Em suma, ganha-se muito dinheiro em cima daqueles que pagam em dia.

A facilidade como desculpa para comprar…
A crise surtiu efeitos nefastos em diversas famílias e setores da indústria e da sociedade, isso não se discute. Paradoxalmente, deixar de consumir parece ser o grande fantasma que assombra as possibilidades de um ano economicamente fraco. A que custo futuro queremos ver um 2009 tão menos vermelho? Interpreto as medidas como um incentivo ao endividamento – e não posso afirmar que faria diferente se fosse governante; felizmente, não sou. Ok, comprar mais, mesmo não sendo capaz de pagar, faz o PIB crescer. Mas será que faz o país melhorar?

Infelizmente, a educação financeira parece ser uma luta de poucos, quase como vantagem competitiva diante da abundante campanha de consumo. Afinal, só quem a tem como hábito é capaz de desfrutar das inúmeras vantagens comerciais trazidas pela crise. Só quem planeja, economiza e investe pode realmente afirmar que as medidas trouxeram real motivação para o consumo. Estes comprarão não porque está mais fácil, mas porque o custo de oportunidade é deveras atraente.

Quem planeja pode aproveitar a hora e comprar barato. Os demais, uma vasta maioria, assustados com o noticiário e hipnotizados apenas pelo valor das prestações anunciados em comerciais e que “cabem” no seu bolso, têm nas medidas e nos novos preços uma razão para levar para casa um novo fogão[bb] (leia-se um novo carnê, uma nova dívida). Uma razão discutível, traduzida por uma facilidade de momento, anunciada como incentivo, e levada adiante com grande sacrifício. E, quem diria, tudo isso pelo seu país. Será?

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Conrado Navarro, educador financeiro, formado em Computação com MBA em Finanças e mestrando em Produção, Economia e Finanças pela UNIFEI, é sócio-fundador do Dinheirama. Atingiu sua independência financeira antes dos 30 anos e adora motivar seus amigos e leitores a encarar o mesmo desafio. Ministra cursos de educação financeira e atua como consultor independente.

Crédito da foto para stock.xchng.

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