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O valor precioso da realidade como ela é, e o que podemos aprender

por Renato De Vuono
3 min leitura
O valor precioso da realidade como ela é, e o que podemos aprender

Pense nos chefes e pessoas em cargo de chefia que você conheceu ou conhece. Pensou? Agora vem comigo.

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Você já reparou como as pessoas andam intolerantes? Como você ou seus conhecidos tem dificuldade de aceitar o erro alheio? Como todos adoram apontar seus dedos, mas raramente assumem os próprios erros? E no fim disso tudo, como as coisas são esquecidas do dia para noite?

Não é engraçado em uma era em que temos milhares de milhões de Terabytes como uma monstruosa memória virtual, para armazenar tudo o que quisermos, as coisas fiquem esquecidas tão rapidamente?

Ninguém se lembra de nada, principalmente das coisas erradas que fizeram ontem. Todos simplesmente as apagam ou ignoram. Absolvem bandidos como se fossem santos. Memória curta ou hipocrisia?

A verdade de fácil digestão

Ser hipócrita faz parte do comportamento humano, afinal, nossa sobrevivência parece estar ligada à hipocrisia. Não toleramos a verdade como ela é: rude. Gostamos de afagos no ego e temos grande dificuldade – ou medo mesmo – de desferir aquilo que realmente pensamos em relação aos demais, como não aceitamos que façam conosco.

E assim, a verdade vem sempre fantasiada para amenizar seu caráter brutal e cruel. As poucas vezes em que ela é dita, acontece em forma de manifestações exaltadas cheias de agressões verbais, psicológicas e até mesmo físicas; como se para falar a verdade tivéssemos de agredir.

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Falar a verdade virou sinônimo de briga. Do contrário, ela será sim mascarada e amenizada. O pior desse cenário é que nem nas brigas a verdade é dita como deveria. Nesse caso, ela vem com uma carga emocional exacerbada onde o que é ruim tende a ser dito de uma maneira muito pior.

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Isso significa que, não se trata mais de só dizer a verdade, e sim de ferir quem a está ouvindo. Será que a sociedade sempre foi assim? Já notou que pessoas que falam o que pensam tendem a se isolar – ou serem isoladas – dos grupos sociais? Elas se tornam personas non gratas. Aquelas que ninguém quer por perto.

Por quê isso acontece? Porque essas pessoas são chatas, só falam de assuntos muito profundos, gostam de discutir problemas e falar abertamente o que sentem sobre algo. São pessoas de opiniões fortes que as defendem de maneira ferrenha. E o que acontece? Ninguém gosta disso.

Um dedo que você aponta, três apontam para você

É engraçado ver como essas pessoas ignoram seus erros – ou os ocultam – para apontar apenas os erros dos outros, que, na maioria das vezes, são bem mais brandos que os seus próprios.

Como não importa quantos acertos ou coisas boas uma pessoa faça, sempre o mínimo erro faz como que tudo seja esquecido. É uma era de muita intolerância. Todos têm sempre uma crítica a fazer sobre tudo, mas raramente são capazes de enxergar que tal crítica pode estar fundamentada em seus próprios erros.

Nada que ninguém faça esta à altura dessas pessoas, quando elas próprias têm uma capacidade duvidosa ou limitada para resolver problemas semelhantes aos criticados.

Todos são responsáveis

Lido com pessoas assim todos os dias. O pior disso, a maioria em posições de destaque, de chefia. E quando eu ajo dessa maneira, me cobro de forma severa para tentar não repetir mais essa atitude.

As pessoas perderam o valor? Ou nunca tiveram? Você vale tanto tempo quanto durar o interesse alheio, seja empresa ou amigos? Assustador, mas real. E todos estamos envolvidos nisso em algum nível.

Ninguém se preocupa com mais ninguém. As pessoas não se colocam no lugar das outras. A cegueira é generalizada. Tudo o que todos fazem é julgar. A pergunta que fica é: quem pensamos que somos para fazer julgamento de valor? Esses somos nós; os seres mais arrogantes e pretensiosos.

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Estamos levando as empresas e o planeta ao colapso dada nossa arrogância. A pergunta persiste é: quem somos nós? Como podemos julgar e condenar uma pessoa que passa fome por pedir esmola?

Sentimo-nos bem quando damos lições de moral gratuitas em mendigos do tipo “Por que você não vai trabalhar?”, mas jamais paramos um momento sequer para pensar como aquela pessoa chegou em uma situação de tamanho desespero, a ponto de mendigar.

Como se o mendigo fosse miserável por opção própria; como se ele não preferisse ter um trabalho digno e uma vida confortável fruto de seu esforço (ok, alguns não querem). Nem imaginamos as dificuldades atrozes que essa pessoa passa todos os dias apenas para se manter viva até o dia seguinte.

E por que não fazemos isso? Porque somos arrogantes a ponto de julgar uma pessoa que está em uma situação tão precária que, nem em nossos piores pesadelos, seríamos capazes de entender.

Aliás, jamais procuramos entender nada, apenas julgamos e condenamos. Ou para dormirmos bem, vez ou outra, esticamos um punhado de moedas pela janela do carro, como se este fosse o maior dos gestos humanitários.

Terceirizando a responsabilidade

Tudo se trata de nos sentirmos bem, porque, mais uma vez, não conseguimos sobreviver à verdade dos fatos que nos cercam. Preferimos pintar o mundo de azul, mesmo sabendo que ele sempre será cinza.

Acredite, no fundo, todas as pessoas querem a mesma coisa: ter um meio legítimo de sustentar uma vida com o mínimo de conforto para si e sua família. Ninguém quer viver fugindo, com medo, à margem da sociedade. As pessoas querem pagar impostos, querem andar na linha, sim!

Parece louco dizer que alguém quer pagar impostos? Mas é real. A sociedade cria essas distorções; o governo gera tantas dificuldades que há sonegação de impostos, quando deveria simplificar e diminuir a carga para que todos pagassem numa boa.

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Pergunte a um camelô e ele dirá que preferia pagar impostos e trabalhar de forma legal a ficar sempre com medo da polícia e incerto sobre o amanhã.

Preferimos vociferar sobre as mazelas do mundo em uma roda de ouvintes, apontando a grande culpa do governo, para simplesmente não assumirmos a parcela culpa que nos cabe perante uma sociedade doente e, assim, simplesmente, não fazer a nossa parte.

E há aqueles que falam a plenos pulmões que não mentem. Essa, por si só, já é a maior mentira que um ser humano pode contar. Mas essas pessoas acreditam por algum motivo no que elas falam. É uma mentira contada tantas vezes que a pessoa que a conta passa a acreditar em si mesma.

Esse tipo de gente julga todos à sua volta o tempo todo e crê, de maneira cega, que a verdade sob sua ótica é superior a de todos os demais. É capaz de condenar o mundo, mas incapaz de reconhecer seus próprios erros e fraquezas. E mais incapaz ainda de aceitar que outrem lhe diga suas próprias verdades.

Quem critica abertamente deveria saber ouvir críticas, certo? Errado! Esses são os que menos conseguem lidar com a verdade que os outros lhe impõem.

Conclusão

Esse é o grande mal de nossa sociedade: falar é muito fácil e é o que mais se faz; todos falam muito. O difícil sempre foi e sempre será ouvir e fazer. Ouça mais, aja mais e fale menos. E a cada vez que for julgar alguém, sente-se antes no banco dos réus; seu crime pode ser muito pior.

O preconceito é a base de toda essa ignorância, arrogância e intolerância. Ponha-se no lugar das pessoas e pense sempre antes de falar de alguém que não seja você mesmo. Um verdadeiro líder é eleito e não autointitulado. Seja mais líder, menos chefe. Seus liderados, a empresa e o mundo agradecem.

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