A reta final chegou e o ano de 2010 se despede abrindo passagem para 2011. Deixando de lado as corriqueiras especulações sobre os movimentos da economia ou o contexto político, gostaria de explicitar aqui alguns anseios para o ano que vai começar. O leitor observará que eles estão longe das grandes questões, dos grandes temas, mas muito próximos do cotidiano do ambiente de negócios, sendo, portanto, totalmente integrados ao cenário onde de fato a vida acontece.
Sei que vou incomodar alguns, arrancar gargalhadas de outros, e sei também que muitos se identificarão com a lista absolutamente genuína que publico abaixo. Ela não reflete apenas opiniões deste que vos escreve, mas é inspirada em grande parte nos contatos do dia a dia, onde escuto as queixas e comentários mais críticos de executivos, empreendedores e outros profissionais.
O ano de 2010 acabou! O Ano Novo se aproxima. Espero:
1) Que não sejamos constantemente abordados por modinhas de gestão cuja importância se dilui na mesma intensidade com que são anunciadas;
2) Que as pessoas envolvidas com o mundo dos negócios abandonem o uso irresponsável e massacrante do gerúndio em suas comunicações – algo como “estamos fazendo, alinhando, providenciando” – usado sempre para criar a imagem de movimento e ação para algo que já se sabe totalmente paralisado ou engavetado;
3) Que as empresas abandonem a instabilidade como cultura permanente e passem a entendê-la como um problema a ser resolvido e não como uma solução ou qualidade sem nexo algum. E, em consequência, nunca mais serão escutadas em uma reunião ou encontro de negócios expressões do tipo “Sou um cara movido por mudanças”, como se a mesma representasse um adjetivo qualitativo;
4) Que o desempenho cênico nunca mais vença o fato. Que ninguém se permita ser persuadido ou seduzido pela oratória ou capacidade de expressão de alguém, mas sim convencido pela clareza dos fatos apresentados e pela lógica dos argumentos;
5) Que o mundo empresarial abandone a ideia de que a política é lugar apenas para políticos profissionais, sindicalistas, ativistas ou agitadores desta ou daquela tendência, pois é justamente por essa falta de participação e engajamento que vivemos no Brasil absurdos como: a) Meses para se abrir uma empresa; b) Uma massacrante burocracia para se tirar qualquer ideia empreendedora do papel; c) Uma legislação trabalhista absolutamente antiquada e desestimulante para a geração de empregos formais; d) Uma brutal insegurança jurídica; e) A maior carga tributária do planeta, sem retorno em benefícios públicos. Não para por aqui, existem muitos outros, mas você já “pegou o espírito”;
6) Que tenhamos mais personalidade e altivez, longe do nacionalismo barato, mas abandonando de vez, ou sempre que possível, o hábito de usar outros idiomas para expressar ideias, conceitos ou o que quer que seja, estimulando com isso o neo-analfabetismo (dificuldade de expressão no idioma nativo, verificado em pessoa dotada de instrução). Tudo com bom senso; evidentemente, não vamos passar a chamar o “mouse” de rato;
7) Que as reuniões sejam objetivas e estruturadas, sem espaço para ações performáticas ou recitais de frases de efeito, deixando as artes cênicas para o momento apropriado;
8) Que chefes sejam simplesmente bons chefes, dotados de aptidões para a liderança (já estaria de bom tamanho), sem as propaladas pretensões rocambolescas de se tornar “O Líder”, ou “O Grande Líder” ou quem sabe “O Grande Timoneiro”;
9) Que tenhamos um pouco mais de autoconfiança, tratando com naturalidade as opiniões divergentes, as críticas ou embates de natureza profissional e fazendo com que essa atitude saia do discurso e entre para a vida real;
10) Que ninguém seja cobrado para ser politicamente-correto, mas estimulado a dizer a verdade, a ser honesto, mesmo que não agrade;
11) Que abandonemos as frases feitas e o lugar comum, por cultura e aprofundamento.
A lista poderia ser bem maior, é verdade. Também é verdade que o pouco que está aqui pode parecer bem utópico, mas é como dizem: “Tudo o que existe, nasceu antes em uma ideia”. Que assim seja. Espero. Feliz 2011!
Crédito da foto para freedigitalphotos.net.