Não é de hoje que a questão da educação me incomoda. Falo da educação formal, aquela do dia a dia na escola, das aulas, tarefas e convívio com professores e orientadores, mas também da educação do cidadão, a do respeito aos direitos dos outros, do tratamento educado e do exemplo familiar.
Convido o leitor a olhar para as escolas, professores e crianças de seu convívio. Os professores são devidamente valorizados, preparados e motivados? Como as crianças se comportam quando na presença de outras crianças e adultos? Como vem sendo seu desempenho em disciplinas importantes como matemática, ciências e história? Como anda a gramática, seu vocabulário e capacidade de criar uma boa redação?
A relação entre professores, pais e alunos também requer reflexões profundas. Quantas dessas crianças têm o hábito de ler, de gibis a livros? Quais são os exemplos dados pela família e tutores no sentido da construção do cidadão? O material didático e o programa pedagógico são adequados?
Suas respostas serão, provavelmente, as mesmas que já ouvi inúmeras vezes por ai: “A escola particular oferece boa educação, mas é cara. A escola pública é acessível, mas também ineficiente, mal administrada e de péssima qualidade”. Pois é, como formar adultos mais conscientes em um cenário assim?
Prova ABC
O nosso sentimento ganhou um apoio estatístico. O grupo formado pelo Todos pela Educação, Instituto Paulo Montenegro/Ibope, Inep/MEC e Cesgranrio aplicou uma avaliação em 250 escolas, escolhidas por sorteio, durante o primeiro semestre deste ano. A Prova ABC, como foi chamada, continha 20 questões de matemática e português e uma redação.
No total, 6.000 alunos que concluíram o 3º ano do ensino fundamental (antiga 2ª série), de escolas públicas e privadas, realizaram o teste. Para medir o desempenho dos alunos, os organizadores definiram 175 pontos como a pontuação mínima esperada para matemática e português e 75 pontos para a redação. Os resultados assustam:
- Na média, 56,1% dos alunos atingiram o desempenho esperado em português, 53,4% em redação e 42,8% em matemática;
- Os resultados apenas da rede pública são lamentáveis. Apenas 48,6% dos alunos atingiram nota mínima em português. Os números então desabam: 43,9% dos alunos da rede pública atingiram a nota mínima na redação e 32,6% o fizeram no teste de matemática;
- A rede particular atingiu 79% de alunos com pontuação mínima em português, 82,4% em redação e 74,3% em matemática;
- As diferenças entre os acertos dos alunos de rede pública e privada se acentuam quando comparadas regiões diferentes do Brasil. No Sudeste, 81% dos alunos da rede particular atingiram o mínimo exigido em matemática. Na rede pública, o número caiu para 37%.
Abro espaço para um trecho do editorial da Folha de S. Paulo de domingo, 28 de agosto:
Confirma-se, é claro, a constatação de que o Brasil tarda a enfrentar o desafio que se segue ao processo, bem-sucedido, de universalização do ensino básico. Garantido o acesso ao ensino fundamental, falta fazer com que se torne, de fato, ensino – Editorial “Tempo Perdido”, Folha de S. Paulo – 28/08/2011.
O que isso tem a ver com educação financeira?
Ora, pense como é grande o desafio de trabalhar conceitos importantes de negociação, cálculo de taxas de juros, comparação de preços e interpretação de contratos quando nossas crianças e jovens sequer são preparados para lidar com o troco do café e com a interpretação de um texto simples.
Como cidadãos, não adianta justificar a situação e simplesmente cruzar os braços. Podemos e devemos agir:
- Não delegar apenas à escola as ações e exemplos de formação do cidadão permitirá a você criar laços duradouros com seus filhos e familiares. Mais do que citar e valorizar bons modelos, é preciso ser e agir como modelo ;
- Agir mediante princípios e valores éticos absolutamente transparentes e sinceros deve ser a conduta básica do cidadão no dia a dia – e não um diferencial ou uma qualidade presente apenas em poucas pessoas;
- Preocupar-se com a formação continuada e melhorada significa preparar-se para melhores oportunidades de trabalho, mantendo a empregabilidade em níveis elevados – atitude que traz aumento de renda, mais qualidade de vida e ascensão profissional.
A relação entre a qualidade do ensino e o potencial de uma nação, apesar de não ser clara para todos, existe e tem peso enorme no desenvolvimento e crescimento nacionais. Como país, fomos corajosos e persistentes ao realizar importantes mudanças econômicas e políticas na nossa jovem democracia.
Que a educação receba a atenção que merece para que tudo o que conquistamos não seja apenas história, mas uma história de sucesso. Porque, lembre-se, queiramos ou não, somos parte dela; melhor que ela seja boa e que possamos contribuir.
Foto de sxc.hu.