As taxas dos contratos futuros de juros no Brasil tiveram baixa firme nesta terça-feira, em um dia marcado pela aversão global a ativos de risco, após divulgação de dados econômicos ruins da China e corte da nota de crédito de bancos dos EUA, com os DIs reagindo ainda à ata do último encontro do Copom.
Os mercados globais iniciaram o dia reagindo aos novos números sobre a economia chinesa, que decepcionaram. As importações da China caíram 12,4% em julho na comparação anual, conforme dados da alfândega, um resultado bem pior que a previsão de queda de 5% da pesquisa da Reuters e do declínio de 6,8% em junho.
Já as exportações recuaram 14,5%, em movimento mais forte do que a queda esperada de 12,5% e ante a baixa de 12,4% do mês anterior.
O cenário negativo era reforçado pelo corte, pela Moody’s, da nota de crédito de vários bancos pequenos e médios dos Estados Unidos e pela indicação de que a agência de rating pode rebaixar a recomendação também de instituições maiores.
A cobrança de um imposto sobre o lucro dos bancos na Itália e dados de inflação considerados elevados na Alemanha completaram o quadro global negativo, direcionando os investidores a ativos de menor risco, como os Treasuries.
Neste cenário, os rendimentos dos títulos norte-americanos cediam desde o início do dia, em movimento acompanhado pelas taxas dos Depósitos Interfinanceiros (DIs) no Brasil.
Os recuos das taxas futuras, verificados em toda a curva a termo, acabaram se sobrepondo à ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, considerada por muitos economistas como mais hawkish (dura).
Na semana passada, o colegiado havia reduzido a taxa básica Selic em 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano, indicando que este também deve ser o corte aplicado nos próximos encontros.
No documento desta terça-feira, o Copom avaliou ser pouco provável uma intensificação dos cortes na Selic à frente, porque tal decisão exigiria “surpresas positivas substanciais”.
“O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva”, apontou a ata.
“A ata foi hawkish no sentido de reduzir a probabilidade de aumentar o nível do corte. O cenário base é de 50 pontos-base de redução. Para cortar 75 pontos-base, teria que haver uma combinação de fatores”, pontuou o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano.
Entre estes fatores, foram citados pelo BC a reancoragem “bem mais sólida” das expectativas, uma abertura “contundente” do hiato do produto e a melhora da inflação de serviços.
“O Copom avalia como baixa a probabilidade de isso acontecer. A visão do comitê pode mudar? Obviamente pode; mas é importante destacar neste momento a transparência na comunicação”, disse o economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, em comentário enviado a clientes.
Com o exterior ditando o ritmo dos negócios nesta terça-feira, perto do fechamento a curva de juros brasileira precificava 75% de chances de o Copom cortar a Selic em 0,50 ponto percentual em setembro, contra 25% de probabilidade de baixa de 0,75 ponto percentual. Na véspera, a precificação era de 78% e 22%, respectivamente.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,455%, ante 12,483% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,445%, ante 10,539% do ajuste anterior. Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2026 estava em 9,865%, ante 9,998% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 9,975%, ante 10,115%.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries seguiam em baixa.
Às 16:38 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– caía 6,20 pontos-base, a 4,016%.