A Via (VIIA3), dona das marcas Casas Bahia e Ponto, anunciou um novo plano de negócios nesta quinta-feira, que inclui a redução de até 1 bilhão de reais em estoques neste ano e uma alteração na forma de captação para financiar o crediário.
A transformação do negócio vem depois de uma mudança na alta gestão da companhia durante o segundo trimestre. Renato Horta Franklin veio da Movida para assumir a presidência da varejista, e Elcio Mitsuhiro, com passagens por Iochpe-Maxion (MYPK3) e BRF (BRFS3), veio para a cadeira de diretor financeiro.
Além disso, o plano vem somado a mais um prejuízo trimestral, dessa vez de 492 milhões de reais no período de abril ao fim de junho, após lucro de 6 milhões de reais um ano antes, no que foi o último lucro trimestral contábil da companhia desde então.
“O resultado veio quantitativamente pior do que o consenso do mercado, porém, dentro da nossa expectativa – uma vez que estávamos muito mais pessimistas em relação ao trimestre. O prejuízo líquido se consolidou 11% abaixo do estimado”, escreveram os analistas da Genial Iago Souza, Nina Mirazon e Vinicius Esteves.
Segundo eles, é realmente a “hora de arrumar a casa”. O plano de reestruturação (detalhado abaixo), contudo, visa mudanças que podem ser vistas como uma reforma completa da Via, tendo em vista que a estratégia mira o ano de 2025.
“Acreditamos que a apresentação do plano estratégico e o fato relevante de estudo potencial para emissão de cotas do FIDC, no valor de até R$ 1,5 bilhão, devem aliviar a reação negativa em relação ao fraco resultado operacional reportado nessa quinta-feira. Monitoraremos a execução do plano ao longo dos próximos trimestres”, ressaltam.
Por ora, a Genial continua com a recomendação “manter”, com preço-alvo em 12 meses de R$ 2.
O balanço divulgado nesta quinta-feira mostra a última linha do resultado pressionada por resultado financeiro negativo de 801 milhões de reais, e receita em queda.
“Temos uma mudança de estratégia da companhia. A companhia tinha uma estratégia de crescimento de GMV, de abertura de novos canais, de expansão de lojas, de aposta em fintechs”, disse Franklin à Reuters.
“E a gente entende que isso tudo foi feito, construímos uma super plataforma e ela já é grande. Então, entre investir para crescer mais essa plataforma, ou pegar e rentabilizar o que tenho aqui, a gente prefere ganhar dinheiro com o que tem aqui”, acrescentou.
Para isso, Franklin disse que a Via já começou a reduzir o número de lojas, com um plano para fechar em 2023 de 50 a 100 pontos que estão operando com prejuízo, além de cortar 6 mil funcionários, enquanto, nos canais vendas, migrará a comercialização de produtos que atualmente não geram lucro, principalmente itens de menor preço, para seu marketplace.
Parte dessas medidas ajudará a reduzir o nível de estoques em até 1 bilhão de reais, um dos principais objetivos do novo plano, o que também aliviaria a pressão sobre a gestão financeira da empresa.
“Isso aqui, esse ajuste das 100 lojas, vai trazer para gente uma liberação de estoques de 200 milhões de reais”, afirmou Franklin.
A empresa também disse reduzirá o nível de investimentos (“capex”), com estimativa de alcançar um nível até 40% menor em relação a 2022.
Com a implementação dessas tranformações operacionais, a companhia estima poder gerar 1 bilhão de reais em lucro líquido antes de imposto de renda, embora não haja previsão de quando.
O plano tem uma série de potenciais ganhos de lucro antes de imposto de renda até 2025, mas Mitsuhiro observou que esse “não é um plano que vai demorar até 2025”, sem dar detalhes do cronograma, citando questões de governança.
A nova gestão da Via também anunciou modificações para fortalecer a estrutura de capital da companhia. Uma das alterações principais é com relação à captação de recursos.
A Via tem atualmente 50% de sua exposição de crédito ligada aos crediários, disse Mitsuhiro. Ou seja, quando um cliente compra um produto no carnê parcelado, a Via adianta os valores a serem recebidos junto a bancos e depois devolve, com juros, quando o cliente terminar de pagar.
Fôlego para o crediário
Agora, o plano é colocar a carteira de crediário no mercado de capitais por meio de fundo de investimento em direitos creditórios (FIDC) e cessão da carteira de crediário ao FIDC.
“Quando eu começo a tombar isso para uma estrutura de FIDC eu tenho uma liberação de limites de crédito da ordem de 5 bilhões de reais ou mais. E aí posso usar esse limite para outras finalidades dentro da companhia, e o meu crediário está sendo financiado via mercado de capitais de forma direta”, afirmou.
Em fato relevante, a companhia disse que engajou o Banco BTG Pactual e a Polígono Capital visando a estruturação de um primeiro FIDC, bem como um estudo de potencial emissão e oferta de cotas desse FIDC, no valor de até 1,5 bilhão de reais.
A Via também anunciou uma continuidade na sua estratégia de monetização de créditos fiscais, com previsão de gerar 2,5 bilhões de reais neste ano, sendo que cerca de 1,2 bilhão de reais já foram monetizados, segundo os executivos.
A empresa ainda mira gerar mais 500 milhões de reais com monetização de outros ativos, como operações de “sale and leaseback” com lojas, que envolve a venda dos imóveis e sua posterior locação, disse Mitsuhiro.
2º trimestre
No segundo trimestre, a Via teve lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado de 469 milhões de reais, queda de 32,1% ano a ano.
A receita líquida caiu 2,1% na base anual, para 7,49 bilhões de reais, com margem bruta de 28,5%, recuo de 2,9 pontos percentuais contra o mesmo período do ano anterior.
Em vendas, o GMV total bruto ficou estável em 11 bilhões de reais, com alta de 9% no marketplace e queda de 1,2% nas vendas diretas ao consumidor.
(Com Reuters)