O IPCA-15 subiu mais do que o esperado em agosto sob pressão dos custos da energia elétrica, com a taxa em 12 meses voltando a superar os 4%.
Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) registrou alta de 0,28%, depois de ter ficado quase estagnado por dois meses, com recuo 0,07% em julho e avanço de 0,04% em junho.
A leitura do indicador considerado prévia da inflação oficial, medida pelo IPCA, ficou bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 0,17%.
Em 12 meses, o índice agora acumula alta de 4,24% até agosto, de 3,19% no mês anterior e contra projeção de analistas de 4,13%.
O resultado, assim, volta a superar os 4% pela primeira vez desde maio e fica acima do centro da meta para a inflação este ano, que é de 3,25% com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos medida pelo IPCA.
Isso indica que a inflação já atingiu seu ponto mais baixo do ano, como era esperado, e, com a saída do cálculo em 12 meses das deflações vistas em julho, agosto e setembro de 2022, a taxa deve continuar subindo à frente.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, cita ainda a pressão do mercado de trabalho aquecido, que deve pesar principalmente sobre a inflação de serviços.
“Na nossa visão, o mercado de trabalho aquecido e as expectativas de inflação ainda acima da meta são desafios à convergência da inflação à meta”, disse ela.
Energia
De acordo com o IBGE, os dados de agosto do IPCA-15 apontam que os preços de sete dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados subiram em agosto.
O grupo Habitação subiu 1,08%, com o maior impacto vindo da alta de 4,59% da energia elétrica residencial, influenciada pelo fim da incorporação do Bônus de Itaipu, creditado nas faturas emitidas no mês anterior.
O segundo maior impacto veio do avanço de 0,81% de Saúde e cuidados pessoais, uma vez que os itens de higiene pessoal passaram de queda de 0,71% em julho para alta de 1,59% em agosto.
Também se destacou a alta em agosto de 0,71% de Educação, com os cursos regulares subindo 0,74%. Enquanto isso, Transportes avançou 0,23%, em resultado puxado pela alta de 2,94% nos preços do automóvel novo.
Os combustíveis, por sua vez, subiram 0,46%, com altas nos preços de gasolina (0,90%) e gás veicular (1,88%) e quedas no óleo diesel (-0,81%) e etanol (-2,55%).
A Petrobras anunciou em meados de agosto um reajuste grande de combustíveis — aumento de 16,3% nos preços médios da gasolina e de 25,8% nos do diesel vendidos a distribuidoras — que deve impactar com força o resultado do IPCA cheio do mês.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já alertou que a autoridade monetária deve revisar suas projeções para o comportamento dos preços a partir desse novo dado, calculando uma elevação de 0,40 ponto percentual no IPCA entre agosto e setembro.
Somente dois grupos apresentaram recuo de preços no mês de agosto– Alimentação e bebidas, de 0,65%; e Vestuário, de 0,03%.
A alimentação no domicílio caiu 0,99% em agosto, com quedas nos preços da batata-inglesa (-12,68%), do tomate (-5,60%), do frango em pedaços (-3,66%), do leite longa vida (-2,40%) e das carnes (-1,44%).
O reajuste dos combustíveis anunciado pela Petrobras ocorre no momento em que o BC iniciou um ciclo de corte de juros, reduzindo a taxa básica Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,25%, e prevendo novas reduções na mesma magnitude. A próxima decisão será em 19 e 20 de setembro.
“Por um lado, o (número) surpreendeu todo mundo negativamente e daqui para frente o acumulado em 12 meses deve seguir sua trajetória expansionista. Por outro lado, grande parte das surpresas se concentraram em itens de alta volatilidade e a composição segue saudável. Dito isso, esse cenário não contribui para o Copom acelerar o ritmo de corte de juros”, destacou o PicPay em nota assinada pelo economista-chefe Marco Caruso e pelo economista Igor Cadilhac.
A pesquisa Focus mais recente realizada pelo Banco Central junto ao mercado mostra que a expectativa é de que o IPCA encerre este ano com alta acumulada de 4,90%, indo a 3,86% em 2024.
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