As taxas dos contratos futuros de juros fecharam em alta nesta sexta-feira, após três sessões de queda, reagindo a dados de inflação no Brasil acima do esperado e a comentários cautelosos do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, sobre o controle de preços nos EUA.
No início do dia, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) registrou alta de 0,28% em agosto. A leitura do indicador considerado prévia da inflação oficial, medida pelo IPCA, ficou bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters, de avanço de 0,17%.
Uma das leituras no mercado foi de que uma inflação mais acelerada que o esperado reduz as chances de o Banco Central aumentar o ritmo de cortes da taxa básica Selic, atualmente em 13,25% ao ano.
Além do IPCA-15, a curva de juros brasileira reagiu ao discurso de Powell no simpósio de Jackson Hole, após as 11h. Ele afirmou que o banco central dos EUA pode precisar aumentar ainda mais a taxa de juros para garantir que a inflação seja contida nos EUA.
Powell disse ainda que as autoridades do Fed “procederão com cuidado ao decidirmos se devemos apertar mais” a política monetária, mas também deixou claro que a instituição ainda não concluiu que sua taxa básica de juros está alta o suficiente para garantir que a inflação retorne à meta de 2%.
Os comentários de Powell deram certo suporte aos rendimentos dos Treasuries entre o fim da manhã e o início da tarde, o que também se refletiu na alta das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) no Brasil.
“Para a taxa do DI cair mais aqui no Brasil, o Fed também teria que começar a cortar (juros). Ou o diferencial (de juros) ficaria pequeno e o dólar subiria, pegando na inflação. Na prática, talvez o BC brasileiro não acelere o corte da Selic para 0,75 ponto percentual”, comentou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, ao avaliar o cenário norte-americano e seus efeitos sobre o Brasil.
As apostas para o encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em setembro embutidas na curva seguiram mostrando maior probabilidade de um corte de meio ponto percentual da taxa básica Selic como vem sendo sinalizado pelo próprio BC.
Perto do fechamento desta sexta-feira, a curva a termo precificava 9% de chances de o corte da Selic em setembro ser de 0,75 ponto percentual. Já as chances de corte de 0,50 ponto percentual eram precificadas em 91%.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,415%, ante 12,39% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,525%, ante 10,392% do ajuste anterior. Na ponta longa, a taxa para janeiro de 2026 estava em 10,08%, ante 9,943% do ajuste anterior, e a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,24%, ante 10,133%.
As taxas dos Treasuries no fim da tarde seguiam em alta entre os contratos mais curtos e oscilavam próximas da estabilidade entre os longos. No mercado norte-americano, a avaliação era de que Powell deixou a porta aberta tanto para elevar mais os juros quanto para mantê-los no atual patamar.
Às 16:37 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dois anos que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo subia 4,60 pontos-base, a 5,0649%.
O rendimento do Treasury de dez anos referência global para decisões de investimento subia 0,40 ponto-base, a 4,2393%.