Mudanças profundas na forma como a economia global opera, desde o aumento do protecionismo até a transição energética, podem criar maior volatilidade da inflação e pressões mais persistentes sobre os preços, disse a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, nesta sexta-feira.
Grande parte do mundo desenvolvido tem tido dificuldades para lidar com um aumento histórico dos preços nos últimos dois anos, e as pressões inflacionárias se revelaram muito mais persistentes do que era previsto no início.
Ao delinear essas novas realidades, Lagarde disse que o mercado de trabalho passa por mudanças profundas, a transição energética cria novas necessidades de investimento, enquanto um aprofundamento da divisão geopolítica levará ao protecionismo e a restrições na cadeia produtiva.
“O novo ambiente prepara o terreno para choques de preços relativos maiores do que os que víamos antes da pandemia”, disse Lagarde no simpósio econômico anual organizado pelo Federal Reserve Bank dos EUA de Kansas City, em Jackson Hole, no Estado norte-americano do Wyoming.
“Não está claro nesta fase se todas estas mudanças se revelarão permanentes. Mas já é evidente que, em muitos casos, os seus efeitos foram mais persistentes do que esperávamos inicialmente.”
Maiores necessidades de investimento e maiores restrições de oferta provavelmente levarão a pressões mais fortes sobre os preços, e nem todos os setores serão capazes de absorvê-las, alertou Lagarde.
Uma complicação adicional é que os trabalhadores desfrutam agora de maior poder de negociação, dado que os mercados de trabalho estão apertados e as empresas tornaram-se mais rápidas para ajustar seus preços, aumentando as pressões sobre os custos.
Embora estas mudanças possam ainda se mostrar temporárias, os operadores de bancos centrais precisam de estar abertos à possibilidade de algumas delas serem mais duradouras, acrescentou Lagarde.
“Teremos de estar extremamente atentos para que uma maior volatilidade nos preços relativos não se infiltre na inflação a médio prazo através de salários que repetidamente “perseguem” os preços, disse Lagarde.
“Isso poderia tornar a inflação mais persistente se os aumentos salariais esperados fossem então incorporados nas decisões de preços das empresas, dando origem ao que chamei de inflação ‘olho por olho’.”