Quem passou pela Bienal do Livro, realizada este mês em São Paulo, além de aproveitar o maior evento literário da América Latina, teve a chance de perceber e vivenciar um fenômeno interessante: as prateleiras e editoras estão repletas de livros e lançamentos que tratam de dinheiro e educação financeira. De acordo com levantamento informal em algumas livrarias, 4 livros de educação financeira e finanças pessoais aparecem entre os 10 livros mais vendidos do Brasil.
A realidade é interessante: o brasileiro começa a perceber as vantagens da educação financeira, agora mais sobre o aspecto prático. Fica claro, talvez de forma definitiva, que os bem informados financeiramente chegam mais longe que aqueles que possuem apenas “grandes” salários.
A grande demanda por esse tipo de literatura encontrou uma brecha na falta de cursos e na preparação incipiente da grade escolar habitual. Afinal, muitos avanços em diversas áreas só começaram a se tornar perceptíveis quando passaram a fazer parte da agenda acadêmica. Mas, então, o que as pessoas procuram ou esperam encontrar nestes livros? Talvez a pergunta correta seja: o que elas precisam encontrar na literatura de finanças pessoais?
Sem dúvida, o mais difícil atualmente parece ser a tarefa de encontrar conteúdo confiável em um universo cada vez maior de obras e editoras. Passada a barreira inicial, o desafio consiste em transportar as idéias e ferramentas propostas pelo autor para o dinamismo da vida real. Para facilitar, eu tenho o hábito de fazer da leitura um método de estudo e aplicação do conhecimento. Faço anotações no livro, em papel rascunho e principalmente converso muito sobre cada obra com amigos.
Vou além: quando discordo do autor, ou quando algum ponto não fica totalmente claro, envio e-mail, carta ou faço o que for preciso para entrar em contato com o autor e debater a questão. Tenha certeza que a leitura desinteressada ou apática não servirá em nada, só desperdiçará seu valioso tempo.
O brasileiro começa agora a dar os primeiros passos em busca do sucesso financeiro.
A estabilidade monetária contribuiu bastante, motivando e encorajando as pessoas no sentido de trazer de volta a confiança no futuro das empresas e, por que não, do próprio país e da família. Independência financeira é, mais do que nunca, um sonho.
Entretanto, algo me incomoda no cenário que pintamos em dourado: a expectativa infantil e frágil de querer enriquecer do dia para a noite, de uma hora para outra. Ouso dizer que, em muitos casos, a busca pelo milhão passou a ser obsessiva, não inteligente.
Antes de enriquecer, é preciso saber (conseguir) poupar. A grande dificuldade do brasileiro é ainda chegar ao fim do mês com saldo positivo na conta corrente. O assunto é sério e, como gosto de frisar, o melhor para o país seria abordar o tema logo no inicio da vida das pessoas, na escola, e em freqüentes contatos com pais de alunos.
O importante é vislumbrar que, algum tempo depois de conhecerem e praticarem o planejamento financeiro e as ferramentas de orçamento, as pessoas comecem a investir mais e melhor em seu futuro. Esta outra etapa – a melhor de todas – exige ainda mais comprometimento.
Não basta encontrar um investimento e acreditar que ele é o melhor, o único.
É preciso construir objetivos de vida, afinal não existe razão para poupar, investir e enriquecer quando não existem motivos sólidos capazes de nos motivar. Quem não conhece alguém que ainda acredita que caderneta de poupança é o melhor investimento que existe?
Depois de ler, mas antes de acreditar piamente em alguma informação, pare, pense e crie o hábito de anotar os principais pontos da obra. Divulgue as idéias encontradas e alimente um saudável debate quando não concordar com algo. Só assim, você, leitor, transformará a leitura em conhecimento e encontrará meios de separar o que é bom, do que é dispensável.
Desde o inicio do Dinheirama, o Navarro nos brindou com resenhas que despertaram o interesse da leitura em muitos. No fórum Sociedade Dinheirama, um dos tópicos que mais possuem postagens trata de indicações de livros. Aqui, já percebíamos e alimentávamos a demanda crescente pelo assunto. Ora, informar com qualidade é a razão do próprio blog existir.
Saber ler é mais do que conhecer as letras e as palavras, é entender, interpretar, assimilar, compartilhar e, principalmente, ter vontade de colocar em prática. Se você tem um livro que já leu, e gostou, empreste-o hoje mesmo para alguém, recomende-o. Você pode ser um dos responsáveis pelas mudanças na vida de outra pessoa. Divulgue esta idéia. Até sexta.
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Ricardo Pereira é consultor financeiro, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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