As taxas dos contratos futuros de juros fecharam a quinta-feira em alta no Brasil, ainda repercutindo as indicações sobre juros dadas pelo Federal Reserve na véspera e reagindo aos novos dados do mercado de trabalho norte-americano, com a decisão do Copom em segundo plano.
Na quarta-feira, o Fed anunciou a manutenção de sua taxa básica na faixa de 5,25% a 5,50%, como era largamente esperado pelo mercado, mas adotou uma postura dura, com projeção de novo aumento de juros até o fim de 2023 e de uma política monetária mais apertada do que o esperado anteriormente durante 2024.
No fim da sessão de quarta, esta postura mais hawkish (dura com a inflação) do Fed já havia feito os rendimentos dos Treasuries subirem, mas no Brasil as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) ainda encerraram em baixa, com investidores à espera da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sobre a taxa básica Selic.
O colegiado cortou a Selic em 0,50 ponto percentual, para 12,75% ao ano, como era largamente esperado.
Nesta quinta-feira, a curva brasileira passou a refletir mais diretamente, já pela manhã, as indicações do Fed na véspera, mesmo porque a decisão do Copom trouxe poucas novidades, mantendo a perspectiva de novos cortes de 0,50 ponto percentual da Selic nos encontros de novembro e dezembro.
O economista-chefe do banco BMG, Flavio Serrano, chamou atenção para o “ajuste modesto” no trecho da curva a termo mais ligado à política monetária de curto prazo — de fato, a taxa do contrato para janeiro de 2024 ficou próxima da estabilidade e houve leve alta no contrato para janeiro de 2025.
“Nos (contratos) mais longos claramente é o externo”, afirmou, ao analisar a alta das taxas dos DIs. Nos contratos para janeiro de 2027 e janeiro de 2028, por exemplo, o avanço das taxas foi de 12 pontos-base, muito em sintonia com o que era visto entre os Treasuries.
Cenário externo
Lá fora, além da decisão do Fed, números do mercado de trabalho norte-americano divulgados pela manhã favoreciam a alta dos rendimentos dos títulos dos EUA.
Às 9h30, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego caíram em 20.000 na semana encerrada em 16 de setembro, para 201.000, em dado com ajuste sazonal. Economistas consultados pela Reuters previam 225.000 pedidos para a última semana.
O dado deu força à leitura de que o mercado de trabalho norte-americano segue aquecido, o que dá sustentação à inflação e reforça a expectativa de juros mais altos nos EUA por mais tempo. Durante o dia, o rendimento do título de 10 anos atingiu o maior patamar em 16 anos.
Nesta quinta-feira, em outra agenda bastante aguardada pelos investidores, o Banco da Inglaterra interrompeu sua longa série de aumentos da taxa de juros em meio à desaceleração da economia, mas disse que não está dando como certa a recente queda da inflação.
“Seria necessário um aperto adicional na política monetária se houver evidências de pressões inflacionárias mais persistentes”, disse o comunicado da instituição.
Neste cenário, no fim da tarde no Brasil a taxa do DI para janeiro de 2024 estava em 12,255%, igual ao ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,555%, ante 10,488% do ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2026 estava em 10,27%, ante 10,16%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,52%, ante 10,398%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,845%, ante 10,719%.
Perto do fechamento, a curva a termo precificava 8% de chances de o corte da taxa básica Selic em novembro ser de 0,75 ponto percentual. Já as chances de corte de 0,50 ponto percentual eram precificadas em 92%.
No exterior, os rendimentos dos Treasuries seguiam em alta firme.
Às 16:37 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– subia 13,70 pontos-base, a 4,484%.