33dias Topo
Home Comprar ou Vender A briga épica entre Lagarde e o mercado: a utilidade marginal decrescente dos discursos

A briga épica entre Lagarde e o mercado: a utilidade marginal decrescente dos discursos

Os investidores apostam que o BCE reduzirá os juros 6 vezes, mas Lagarde diz que o mercado só está atrapalhando

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Christine Lagarde

Não há um dia sequer, possivelmente, em que um diretor de política monetária dos Estados Unidos (Federal Reserve) ou da zona do euro (Banco Central Europeu) vai a algum simpósio ou universidade para discursar sobre qualquer assunto, enquanto os investidores e o mercado ficam atentos à espera de sinais sobre o rumo dos juros.

Em um relatório divulgado nesta sexta-feira (19), o economista-chefe do UBS, Paul Donovan, observa que tanto falatório muitas vezes falha em conseguir qualquer efeito concreto sobre o mercado.

Ou seja, perde-se um importante instrumento de controle de expectativas.

“Uma coisa que os economistas aprendem cedo nos seus estudos é o conceito de utilidade marginal decrescente. Quanto mais você tem, menos benefícios incrementais você obtém”, lembra Donovan em seu comentário matinal.

O exemplo mais recente está na proliferação de tentativas da presidente do BCE, Christine Lagarde, de controlar as expectativas do mercado sobre as taxas na zona do euro.

“A presidente do BCE, Lagarde, fala hoje. A presidente do BCE, Lagarde, falou ontem. A presidente do BCE, Lagarde, falou duas vezes na quarta-feira. A lei da utilidade marginal decrescente pode ser aplicada (assumindo que as observações originais tiveram alguma utilidade)”, questiona Donovan.

Mercados Europa
(Imagem: Felix Schmitt/BCE)

A culpa é do mercado?

Os investidores estão apostando que o BCE reduzirá os juros seis vezes este ano, sendo que o primeiro movimento ocorreria em março ou abril.

Lagarde disse na quarta-feira em Davos, entretanto, que o banco está no caminho certo para levar a inflação de volta à sua meta de 2%, mas a vitória ainda não foi conquistada.

Ela se recusou a rechaçar as apostas do mercado, mas disse que, se os investidores estiverem avaliando erroneamente seus futuros movimentos, isso pode ser contraproducente para a luta contra a inflação.

O silêncio

Enquanto isso, o BCE entrou no seu período de silêncio pré-reunião de 25 janeiro, com os mercados ainda a descontar uma probabilidade de 80% de um primeiro corte nas taxas em abril e cerca de 140 pontos-base de flexibilização ao longo do ano.

O atual nível esperado pelo mercado é um pouco melhor do que os 150 pontos-base previstos na semana passada.

“Embora seja uma melhoria, os níveis ainda parecem bastante excessivos após uma semana de resistência quase diária de discursos contra cortes prematuros”, opinam Padhraic Garvey, Benjamin Schroeder e Michiel Tukker, especialistas de pesquisa e juros do banco ING.

Mas, se o BCE alguma vez pretendeu realmente reagir, limitou o seu próprio impacto.

“Mesmo que em dezembro o BCE ainda se esquivasse de especificar cortes nas taxas, as autoridades falam agora mais abertamente sobre a possibilidade de cortes nas taxas no verão, ou sob certas condições, mesmo mais cedo, segundo notícias de mercado que citam fontes do BCE”, relatam os economistas do ING.

Afinal, apesar de o BCE tenha tentado minimizar a possibilidade de cortes de curto prazo nos últimos dias, essa outra citação não passou despercebida, permitindo que a distribuição global das expectativas do mercado permanecesse mais baixa, mesmo que os preços de cauda fossem reduzidos.

Supermercado em Nice, França
Supermercado em Nice, França (Imagem: REUTERS/Eric Gaillard/File Photo)

Inflação

A inflação anual da zona do euro acelerou em dezembro de 2,4% para 2,9%, um pouco abaixo da expectativa de uma leitura de 3%, principalmente devido a fatores técnicos, como o fim de alguns subsídios do governo e a saída do cálculo dos preços baixos de energia.

Os dados parecem confirmar a previsão do BCE de que a inflação atingiu seu ponto mais baixo em novembro e agora se estabilizará na faixa de 2,5% a 3% durante 2024, bem acima da meta de 2% do banco, antes de desacelerar novamente em 2025.

Em novembro, o BCE interrompeu um ciclo de alta de juro de dez reuniões. Com a decisão do BCE, o juro de refinanciamento ficou estável a 4,5%, a taxa de empréstimo a 4,75% e a taxa de depósito a 4%.

O Dinheirama é o melhor portal de conteúdo para você que precisa aprender finanças, mas nunca teve facilidade com os números.

© 2024 Dinheirama. Todos os direitos reservados.

O Dinheirama preza a qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe, ressaltando, no entanto, que não faz qualquer tipo de recomendação de investimento, não se responsabilizando por perdas, danos (diretos, indiretos e incidentais), custos e lucros cessantes.

O portal www.dinheirama.com é de propriedade do Grupo Primo.