Alguns dados conflitantes trazem reflexões interessantes nesses tempos em que a crise parece ficar mais nítida aos olhos brasileiros. É consenso que fomos atingidos pelo mar de pessimismo que cerca o mundo. Hum, pessimismo, talvez esta seja a grande palavra da crise atual.
Dentro do desempenho econômico de um país, um dado específico parece demonstrar a direção (a expectativa de rumo) do país: o índice de confiança do empresariado.
Afinal, são eles os grandes responsáveis por contratar, demitir e fazer a economia girar. São figuras importantíssimas ao longo da cadeia produtiva.
Segundo levantamento trimestral da Conferência Nacional da Indústria (CNI), os empresários continuam encarando o cenário com um pessimismo evidente.
O índice está dois pontos acima da última pesquisa, agora em 49,4 pontos, mas ainda abaixo de 50 pontos – número considerado o ponto de equilíbrio entre o pessimismo e otimismo.
Indicadores, resultados e mudanças…
Esses dados podem significar e mostrar como alguns números começam a fazer mais sentido. Tomemos, por exemplo, o aumento da taxa de desemprego, que agora está na casa de 9%. Quando o cenário é visto como nebuloso, as empresas deixam seus investimentos de lado e optam por reduzir custos. Assim, o desemprego passa ser uma saída e a principal medida de contenção.
As grandes empresas divulgam semanalmente dados sobre suas operações e reiteram a intenção de demitir milhares de trabalhadores pelo mundo todo. Por aqui, também não escapamos desse cenário e fomos, no passar dos meses, sentindo o peso de tal situação.
Enquanto isso, o governo aumento o número de meses para concessão do seguro desemprego, medida também adotada em outros países que remedia o problema, mas que, na prática, não o soluciona.
O crédito no Brasil, que chegou a níveis alarmantes, começa a voltar aos patamares registrados no período pré-crise, mas com um custo financeiro muito maior. O índice de inadimplência também subiu ao maior patamar desde novembro de 2006, em alta de 5,1% em março deste ano e tendo como principal atores nesse cenário os empréstimos concedidos às empresas.
Algumas boas notícias
Se o empresariado ainda continua vendo o cenário econômico com pragmatismo, de outro lado os consumidores mais rapidamente dão sinal de que estão dispostos a retomar o ritmo de consumo. Um dos principais termômetros desse movimento é a busca pelos carros novos, que a cada novo mês repete o bom desempenho do ano de 2008.
A redução de impostos parece ser uma arma poderosa no convencimento ao consumidor. A pergunta que se faz é: será que esses números fabulosos serão “testados” na hora do recebimento? O ponto positivo é que os prazos para pagamento foram reduzidos, obrigando os compradores a desembolsar valores maiores de entrada – ou, na pior das hipóteses, a assumir parcelas mais salgadas. E, assim, as chances de pagamento são maiores.
Que fique claro que essa “salada” de números não significa a manutenção ou o final da crise financeira. São seus reflexos. Para quem quer aproveitar as oportunidades que surgem durante a crise, vale a pena conferir o bom desempenho de alguns investimentos, como a tão maltratada bolsa de valores. Mesmo com alta volatilidade, o cenário para quem tem disposição para investimentos no longo prazo parece mais favorável que nunca.
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Ricardo Pereira é educador financeiro e palestrante credenciado pelo Instituto DiSOP, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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