Muito se fala das teorias de análise fundamentalista e análise técnica (gráfica) para tentar prever o comportamento dos preços das ações e identificar oportunidades de investimento. Diferente do que muitos dizem, as análises fundamentalista e a gráfica não são antagônicas, mas sim complementares.
Entender o funcionamento de cada uma dessas poderosas ferramentas serve para ajudar o investidor na hora de escolher uma ação e na hora de determinar a sua estratégia para investir no mercado financeiro. Mas então qual é, afinal, a diferença entre a análise fundamentalista e a análise técnica? Vamos começar com um pouco do conceito básico e da história dessas duas escolas.
A Análise Fundamentalista
A análise fundamentalista se configura com a mais tradicional das duas, sendo utilizada há mais tempo e considerada de mais confiança entre os analistas de mercado. Ela se compõe pelo conjunto de estudos e análises debruçados nos fundamentos macro e microeconômicos das empresas que operam no mercado.
Esta abordagem parte, portanto, de dados econômicos e financeiros provenientes do entorno econômico no qual a empresa atua e dos próprios resultados operacionais decorrentes de sua atividade para se medir como vai seu desempenho.
Os conceitos básicos da Análise Fundamentalista remontam ao próprio início do estudo econômico e contábil. Não obstante, essa abordagem começou a ser utilizada com o foco de maximizar investimentos no mercado de capitais apenas no final do século XIX.
Um dos grandes expoentes dessa escola foi o economista Benjamin Graham (1894 – 1976), que além de estudar os fundamentos das empresas em seus próprios investimentos foi um grande organizador e acadêmico do arcabouço conceitual utilizado até hoje na Análise Fundamentalista.
Um de seus maiores discípulos é o multibilionário americano Warren Buffett, que é largamente reconhecido por ganhar muito dinheiro utilizando a Análise Fundamentalista em estratégias “buy and hold”, ou seja, avaliar empresas subvalorizadas no mercado, investir e esperar os lucros maximizarem e suas cotas valorizarem no médio-longo prazo.
A Análise Técnica
Já a Análise Técnica, ou Gráfica, caracteriza-se pelo conjunto de técnicas e estudos apoiados nos movimentos históricos nos preços de mercado dos ativos financeiros. As ferramentas gráficas e técnicas matemáticas que fazem parte desta abordagem buscam tentar prever os movimentos futuros nas cotações de títulos e ações, pares de moedas, índices, preços de commodities etc., negociados em mercado aberto.
Basicamente, os estudos gráficos realizados buscam sugerir padrões de comportamento nos preços de ativos voláteis e de difícil previsão e dedução matemática.
Entre os pais da Análise Técnica estão os americanos William Peter Hamilton (1867 – 1929) e Charles Dow (1851 – 1902), um dos fundadores da Dow Jones e do Wall Street Journal. Charles Dow formulou uma série de estudos que vieram a compor o âmago da Análise Técnica e que ficaram conhecidos como a Teoria de Dow.
O confronto das duas análises
Para a análise fundamentalista, existe uma diferença crítica entre o valor da empresa negociado em forma de preço de mercado, derivado das cotações de suas ações nas bolsas de valores, e o valor verdadeiro (ou potencial) da empresa. Esse valor é referido como valor intrínseco e reflete o verdadeiro preço da empresa a partir de suas premissas operacionais, indicadores macroeconômicos e expectativas de crescimento.
Assim, a Análise Fundamentalista busca mapear e mensurar os fundamentos econômico-financeiro-operacionais da empresa, como: receitas, custos, dívidas contraídas, investimentos efetuados etc. e procura avaliar como tais fatores pesam na atividade atual da empresa.
A partir deste estudo busca-se estimar como estes números irão crescer ao longo do tempo. Pode-se, portanto, projetar qual será o fluxo de caixa esperado das empresas – e, com este fluxo futuro, pode-se descontar uma taxa de juros e chegar a um valor presente da empresa. Esse é, para os analistas, o valor real da empresa, o valor intrínseco.
Além disso, existe uma série de outros indicadores financeiros que ajudam a avaliar como está a saúde financeira da empresa. Todos esses números derivam dos demonstrativos contábeis das empresas, e são fáceis de encontrar, pois são públicos. Veja alguns exemplos de indicadores utilizados para analisar a Petrobras (PETR4).
Podemos, com esses números e resultados, identificar oportunidades de investimento avaliar como andam financeiramente as empresas, comparar com outras do mesmo setor e por ai vai.
Na hora de escolher uma empresa para investir seu dinheiro, é muito importante fazer um estudo mínimo pra ver como anda o desempenho operacional e financeiro da empresa ver se ela tem potencial de gerar lucros no longo prazo. Se sua valoração estiver bem acima do preço de mercado, por exemplo, é esperado que o preço busque o valor intrínseco, o que fará seus investimentos valorizarem ao longo do tempo.
Já a análise técnica busca utilizar seu arsenal de indicadores e desenhos gráficos para identificar tendências, variabilidade, reversões e rompimentos nos movimentos dos preços. Assim, ao invés de analisar se a empresa está crescendo operacionalmente e se seu valor tenderá a crescer por isso, as técnicas gráficas buscam identificar um padrão de crescimento dos preços históricos a fim de identificar um bom momento para compra e venda dos ativos.
Abaixo, vemos um exemplo simples de uma análise elaborada com o Andrew’s Pitchfork para mostrar um constante crescimento no Índice Bovespa (IBOV). O Andrew´s Pitchfork nada mais é que uma ferramenta de desenho que busca traçar canais de tendência controlando a amplitude de variação dos preços a fim de identificar oportunidades de compra e venda.
Os recursos da Análise Gráfica também podem ser empregados, por exemplo, como alerta para deixar uma posição, o que é chamado de stop-loss. Algumas figuras e movimentos particulares dos preços podem indicar que seu investimento está caindo abaixo de um normal suportável o que pode ajudar como alerta para se desfazer da posição e evitar prejuízos mais intensos.
Assim, a análise gráfica, por poder ser aplicada a qualquer frequência dos gráficos dos preços e em qualquer corte temporal pode ajudar a montar estratégias de compra e venda. Tanto para obter lucros ou minimizar perdas, seja qual for o movimento dos preços (queda, alta, estáveis).
Conclusão
Como vimos, o arcabouço conceitual e o arsenal de ferramentas das duas abordagens são vastos e apresentam diferenças cruciais. Apesar das escolas terem origens e conceitos distintos e seu emprego ser muito diferente, as duas se debruçam sobre o mesmo problema: como maximizar seus investimentos e evitar perdas no mercado de capitais.
A grande diferença entre as duas vertentes, além das diferenças conceituais apresentadas, vem do foco que o próprio investidor deseja dar para seus investimentos.
Um investidor que deseja utilizar o mercado de capitais para guardar seu dinheiro, como uma alternativa às formas tradicionais de poupança, deve utilizar a análise fundamentalista para avaliar se as empresas em que está investindo têm futuro, ou seja, se vão gerar lucros no longo prazo que façam valorizar suas cotas.
Já para o investidor que deseja ganhar dinheiro fazendo operações de compra e venda mais no curto prazo, ou até no intraday (durante o dia), os fundamentos ficam muito aquém de explicar os movimentos nos preços. Por isso, neste foco é indicado adotar-se técnicas básicas de análise gráfica para garantir um bom retorno, ou ao menos minimizar perdas.
A análise técnica arma o investidor com mais munição para enfrentar as oscilações de curto-prazo no mercado e montar diversas estratégias de compra e venda, ao invés da estratégia buy and hold advinda da análise fundamentalista.
Deve-se manter em mente que utilizar as técnicas gráficas para montar inúmeras operações de compra e venda no curto prazo pode, realmente, maximizar seu retorno, mas também existem altos custos de transação (como a taxa de corretagem) e tributários, visto que a taxação para investimentos em períodos curtos é maior.
Além disso, as duas exigem conhecimento e estudo de quem quiser aprendê-las. Você vai demorar um tempo para se tornar um Warren Buffet ou um Charles Dow! Mas é só ter vontade de aprender e apreço por seus investimentos que tudo fica mais fácil.
Se você deseja analisar mais dados, ter acesso a mais índices de empresas e ferramentas de análise fundamentalista e gráfica, convido-o a visitar, conhecer nosso site www.bussoladoinvestidor.com.br e experimentar novas formas de investir melhor. Logo voltarei com mais textos sobre investimentos no mercado de ações. Até a próxima.
Fotos: sxc.hu e divulgação.