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A festa do carry trade acabou?

Para que o carry trade atraia fluxos, são necessárias duas condições básicas: grandes diferenciais de taxas e volatilidade limitada

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Carry Trade

O fim das operações de carry trade no mercado de câmbio foi precipitado pelo aumento das taxas de juros pelo Banco do Japão (BoJ), avalia um relatório do Société Générale, assinado pelo estrategista de derivativos de câmbio Olivier Korber, divulgado a clientes nesta quarta-feira (7).

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A baixa liquidez do verão no hemisfério norte e eventos de volatilidade nos mercados acionários contribuíram para essa reviravolta, sinalizando que a era das operações de carry trade chegou ao fim.

Segundo Korber, “o mercado está enfrentando uma desmontagem brutal das operações de carry trade no FX G10, exacerbada pela baixa liquidez do verão.”

O relatório destaca que o desmonte da maior posição vendida em ienes desde 2007, o aumento das taxas de juros pelo BoJ e eventos de cisne negro nos mercados acionários foram os fatores determinantes. “As diferenças de taxas permanecem elevadas, mas o choque de volatilidade deve agora descartar permanentemente as estratégias de carry trade”, afirmou.

Durante o primeiro semestre, as posições longas de carry trade acumuladas estavam provavelmente concentradas no dólar americano, analisa o SocGén. Em julho, a reprecificação do mercado para um corte de juros liderada pelo Fed foi o principal fator dessa reversão, proporcionando um cenário ideal para o BoJ fortalecer o iene e aumentar as taxas de juros.

O carry trade de câmbio do G10 se mostrou mais vulnerável do que o de mercados emergentes

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(Fonte: Bloomberg, SG Cross Asset Research/Forex)

Korber observa que “a primeira alta nos salários reais no Japão desde 2022 sugere novos aumentos de juros.”

A análise do posicionamento das moedas de financiamento sugere que “as posições vendidas em ienes estão quase esgotadas, enquanto o processo deve demorar mais para o franco suíço (CHF).” No entanto, as posições monetárias contrastantes do BoJ e do Banco Nacional Suíço (SNB) devem permitir que o iene se aprecie ainda mais assim que os mercados se estabilizarem.

É o fim da festa?

A questão central levantada por Korber é se as operações de carry trade poderiam ser retomadas uma vez que as posições extremas do mercado fossem eliminadas. “Essa é uma questão provocativa, dados os movimentos extremos do mercado vistos esta semana”, comentou ele.

Para que uma operação de carry trade atraia fluxos, são necessárias duas condições básicas: grandes diferenciais de taxas e volatilidade limitada. “A primeira condição permanece cumprida, mas a volatilidade global do câmbio não se limita aos tremores nas moedas de financiamento habituais”, explicou Korber.

Embora a mudança de postura do Fed e o aumento das taxas pelo BoJ possam sugerir que a convergência das taxas suprimirá o interesse em carry trade, Korber argumenta que “os diferenciais de taxas de juros permanecem mais ou menos intactos.” Ele observou que o carry médio das moedas dos países do G10 de três meses caiu apenas ligeiramente, permanecendo atraente em termos de diferenciais de taxas.

O verdadeiro problema, segundo Korber, é a volatilidade das moedas de financiamento. “O choque de volatilidade descarta duravelmente o JPY e o CHF das operações de carry trade”, afirmou ele. A rápida desvalorização do iene criou um dos maiores picos de volatilidade dos últimos 20 anos, testando os limites dos modelos de risco e envolvendo consideráveis perdas de portfólio.

Diante desse cenário, o analista aconselha cautela. “O recente choque suprimiu os prêmios de risco de volatilidade: fique longe de carry trades de volatilidade.” Com as operações de carry via instrumentos lineares não sendo mais viáveis, Korber sugere que os investidores busquem oportunidades no espaço da volatilidade.

Contudo, ele adverte que o aumento da volatilidade realizada nas últimas duas semanas suprimiu os prêmios de risco de volatilidade em quase todos os pares de moedas. “Posições curtas em gamma parecem perigosas para os portfólios após as últimas disrupções, e os investidores não devem ser contrários ao desmonte das operações de carry trade”, concluiu Korber.

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