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A geração da aposentadoria por opção

por Conrado Navarro
3 min leitura

A geração da aposentadoria por opção“Boa parte da população brasileira que hoje está na terceira idade não se planejou para essa fase da vida”. O artigo de hoje não poderia começar de outra forma senão citando a observação da jornalista Alessandra Bellotto sobre a situação dos aposentados e idosos de nosso país, publicada no jornal Valor Econômico de 26 de junho. A situação dos que hoje estão aposentados não é nada confortável e dela partimos para discutir a necessidade de planejamento.

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As estatísticas que cercam a aposentadoria[bb] no Brasil sempre trazem ótimas reflexões. Uma pesquisa realizada pelo cientista social e professor José Carlos Libânio com 1200 homens e mulheres de 55 a 74 anos, das classes A, B e C e com renda familiar superior a R$ 2 mil, revela que:

  • 52% das pessoas afirmaram ter se planejado para a aposentadoria;
  • 48% dos entrevistados assumiram que nenhum planejamento foi realizado.

Observando os dados iniciais da amostra, parece razoável dizer que a situação do aposentado é muito melhor do que aquela revelada em inúmeras outras ocasiões por mim (e muitos outros profissionais). Parece. A realidade é bem diferente:

  • Do total de pessoas que admitiram ter planejado a aposentadoria, 81% delas optaram pelo INSS;
  • 19% usaram a previdência privada;
  • 6% basearam seu planejamento no dinheiro poupado;
  • 4% usaram imóveis como parte do plano de aposentadoria;
  • 2% optaram por previdência fechada; e
  • 1% através da previdência do setor público.

Ainda que a imensa maioria esteja com os alicerces da aposentadoria colocados sobre o INSS, não há um grande número de reclamações: 80% se dizem realizados. Cabe ressaltar que a geração analisada pelo professor não está totalmente aposentada, o que significa que muitos ainda trabalham e contribuem para sua aposentadoria. Mas é fato que o planejamento demorou a vir em suas vidas, fato reconhecido e comentado pela pesquisa. A situação econômica do país era outra, com inflação galopante e muitos planos monetários – o que afeta a capacidade de planejamento de pessoas e empresas.

Aposentadoria por opção
Os dados servem para que eu volte à questão da aposentadoria por opção. Todos estamos acostumados com o conceito clássico do aposentado: o cidadão que trabalhou muito, e por muito tempo, e que agora poderá descansar e desfrutar da terceira idade com alguma dignidade. O problema é que o conceito embute dilemas, como o valor do benefício e sua sustentabilidade ao longo dos anos. Fica aquela eterna sensação de que o dinheiro[bb] é pouco e não será suficiente.

A aposentadoria por opção reflete a decisão do profissional – seja ele autônomo, CLT etc. – de formar seu capital para a hora em que for conveniente parar de trabalhar. Aspectos como qualidade de vida, convívio com a família e tempo para momentos de prazer soam bem aos ouvidos, não é mesmo? A visão é diferente do habitual “ficar velho” ou “trabalhar demais”, questões subjetivas e claramente relativas. A palavra-chave que surge, então, é: planejamento!

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Lutando com algumas barreiras
1. Planejar não significa apenas pagar previdência complementar. As gerações que hoje se aposentam por tempo de serviço tiveram quase nenhum acesso e suporte de suas empresas para conhecerem novas alternativas de planejamento para a aposentadoria. Hoje, vemos um movimento contrário. Boas empresas oferecem planos complementares e facilitam o acesso às informações ligadas ao tema.

Acontece que alguns jovens crêem que, simplesmente porque sustentam todo mês um carnê ou desconto no salário, estão diante de um futuro mais tranqüilo. Não é tão simples e fácil assim. Algumas questões precisam balizar a decisão de investir seriamente em um plano inteligente de aposentadoria:

  • Quanto quero ter de renda ao parar de trabalhar?
  • Que tipo de vida vou levar ao me aposentar?
  • Com que idade pretende parar de trabalhar?
  • Quais serão minhas atividades pessoais a partir de então?
  • Terei a oportunidade de trabalhar por prazer?

Não raro, são as seguradoras e instituições financeiras que respondem a essas perguntas em seu lugar, quase sempre usando respostas padronizadas, retiradas das estatísticas combinadas a partir dos muitos clientes cadastrados no sistema. Você precisa discuti-las. Não se assuste se chegar à conclusão de que não está pronto para respondê-las. Planejar o futuro é mesmo um desafio, mas você precisa encará-lo. Mais, volte a refazer as perguntas ano apos ano, mudando os aportes, o produto ou a decisão de investimento ligada ao plano se for necessário.

2. Planejar não significa confiar apenas nos produtos “vencedores”. Seu dinheiro estará sempre sendo “bombardeado” por inúmeras variáveis: consumismo, necessidades, lazer, investimentos, filhos, futuro etc. Planejar significa dar a cada um dos aspectos da vida um significado, permitindo que o dinheiro faça parte de seu dia-a-dia de forma natural. Na prática, isso significa que boas oportunidades de investimento podem surgir a qualquer momento, mas também demorar a aparecer. O mesmo vale para as decisões de consumo.

O discernimento para avaliar sempre as alternativas e estudar o momento faz do cidadão bem informado um grande investidor[bb] no futuro. Suas decisões são baseadas em mais do que apenas a emoção ou a dica do gerente. Cuidado com os produtos de moda, mas ao mesmo tempo fique esperto para momentos onde aproveitar o que já foi, ou pode virar moda, tende a dar bons retornos. Produtos vencedores são aqueles em que você investe com consciência. Sabe quanto pode ganhar ou perder. E porquê.

Que venha o futuro!
Fica claro que não concordo com a visão institucionalizada de que aposentar-se significa estar ficando velho. Fica claro que o conceito de trabalhar demais pode ser representado por 20 ou 30 anos bem vividos, com qualidade de vida e muito esforço, mas com investimentos inteligentes, objetivos claros e respeitados. Fica claro, portanto, que o “parar de trabalhar” não quer dizer que somos uma geração preguiçosa.

Começar cedo, investir sempre e planejar com cuidado as decisões financeiras do dia-a-dia são atitudes que certamente farão muita diferença em sua vida. Como isso vai influenciar o seu conceito de aposentadoria? Você crê na liberdade construída através da independência financeira? As respostas são pessoais, assim como os resultados. O importante é que somos uma geração cercada de muito mais informação e conhecimento sobre dinheiro e finanças. Cabe a nós colocá-los em prática.

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Conrado Navarro
, educador financeiro, tem MBA em Finanças e é mestrando em Produção, Economia e Finanças pela UNIFEI. Sócio-fundador do Dinheirama, autor do livro “Vamos falar de dinheiro?” (Novatec),  Navarro atingiu sua independência financeira antes dos 30 anos e adora motivar seus amigos e leitores a encarar o mesmo desafio. Ministra cursos de educação financeira e atua como consultor independente.

Crédito da foto para stock.xchng.

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