Depois de um ano de 2010 com explosão no crédito e crescimento recorde, medidas foram tomadas para conter o ímpeto consumista dos brasileiros. Mesmo com juros mais altos e medidas para taxar a entrada de dólares no país, pouco mudou. A oferta de crédito diminuiu, mas continua intensa e sendo muito utilizada pela população. Além disso, a inflação já assusta, com o IPCA anualizado em 6,3%, valor distante do centro da meta (4,5%).
Os desafios ficam ainda maiores se considerarmos o quadro sócio-demográfico de nosso país. Com a melhoria das condições econômicas a e clara evolução no poder de compra dos brasileiros, a classe C já representa 53% de nossa população, contra apenas 34% em 2005. Os integrantes das classes D e E caíram de 51% para 25% entre 2005 e 2010 e os mais ricos (classes A e B) passaram de 15% para 21% no mesmo período. Os dados são da pesquisa Cetelem-Ipsos 2010.
Artigos de luxo tornam-se produtos de cesta básica
A emergente classe média traz consigo o aumento nos gastos com itens antes considerados supérfluos. Pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular com 5.000 pessoas país afora, no último trimestre de 2010, dá conta que das mulheres da classe C, 81% compraram perfume no último mês, 80% compraram esmalte no último mês e 60% compraram creme facial no último mês (o percentual era de 23% em 2003).
Trata-se de um contingente cada vez maior de brasileiros com disposição para consumir e realizar seus sonhos. Alguns itens podem parecer inofensivos por seu aparente baixo preço, mas no geral isso significa apoiar-se no crédito de forma cada vez mais fácil, direta e perigosa. Algumas questões simples, porém de suma importância, devem ser colocadas:
- Negociamos da melhor forma possível, levando em conta o nosso orçamento doméstico?
- Utilizamos as melhores condições comerciais para comprar?
- Pesquisamos alternativas de preços e produtos antes de consumirmos?
- Damos importância à concorrência e à possibilidade de comprar marcas e produtos diferentes depois de uma análise mais detalhada?
Infelizmente, as repostas não são animadoras. A pesquisa “Observador Brasil 2011”, realizada pela Cetelem, revelou que 45% dos brasileiros não buscaram informações sobre financiamentos em 2010. Crescimento econômico exagerado, crédito farto e desinformação são ingredientes muito comuns das conhecidas “bolhas”. Afinal, uma hora alguém terá que pagar a conta.
Para se ter uma ideia do tamanho do mercado de crédito, em 2010 o valor total de empréstimos atingiu a marca recorde de R$ 1,7 trilhão, alta de 20,5% em relação ao ano de 2009. As palavras de Marcos Etchegoyen, diretor-presidente da Cetelem BGN, publicadas no jornal Folha de S. Paulo, edição de 22/03/2011, resumem o perigo:
“O brasileiro não tem a cultura de pesquisar e isso precisa mudar com campanhas de educação financeira. Nas compras financiadas, apenas 26% afirmaram comparar diferentes taxas de juros na hora de comprar”
De quem é a culpa?
A pergunta é repetitiva, eu sei. A verdade é que é muito fácil e cômodo criticar o sistema e apontar culpados para nossos problemas financeiros. O desafio está em aceitar que a realidade é bem diferente: somos os primeiros a dar de ombros para a realidade econômica da família ao simplesmente ignorarmos o potencial que a educação financeira tem de transformar, para melhor, nossas decisões.
Cabe a nós, portanto, nos informarmos de forma mais adequada (e paciente) sobre os produtos que nos são oferecidos. Além disso, é preciso instaurar novos (e simples) hábitos para evitar que a acomodação se traduza em continuidade do que não agrega valor. Começar lendo com mais cuidado os contratos antes de assiná-los, pedindo descontos e preferindo a compra à vista só fará bem seu bolso.
Foto de sxc.hu.