A equidade de gênero no mundo do trabalho, para que esteja mais próxima do ideal, precisa necessariamente consolidar a liderança feminina.
Décadas atrás a entrada da mulher no mercado de trabalho revolucionou a estrutura social e familiar, especialmente na segunda metade do século 20.
Hoje o próximo desafio é que as mulheres tenham mais acesso aos cargos de gestão, ainda ocupados por uma maioria masculina.
A presença das mulheres em situações de liderança reorganiza desequilíbrios históricos e fortalece a justiça social. De acordo com um levantamento de 2023 do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 50,8% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres.
Essas mesmas mulheres recebem salários mais baixos e têm menos acesso a espaços de liderança que os homens, além de dedicarem-se a uma dupla jornada de trabalho.
A liderança feminina, porém, vai além dos cargos de gestão de grandes empresas. Uma empreendedora também tem potencial de liderança, seja contratando funcionários, seja atuando na comunidade.
Entenda por que é tão importante que o mundo tenha mais líderes mulheres.
Apesar de a importância da presença de mulheres em cargos de liderança ser um fato assumido pela sociedade e pelas organizações, na prática a realidade ainda é outra.
De acordo com a pesquisa Women in Business, da Grant Thornton (empresa global de consultoria), em 2023 as mulheres ocupavam 39% dos cargos de liderança em empresas médias brasileiras. Para os cargos de CEO, a porcentagem era menor: 31% eram ocupados por mulheres.
Entretanto, estudos demonstram que equilibrar a presença feminina nos cargos de liderança traria benefícios concretos ao cenário econômico.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB global cresceria 35% com a igualdade de gênero nas relações de trabalho.
Características da liderança feminina
Ao falar sobre como as mulheres se destacam em cargos de liderança, é importante não fortalecer estereótipos sobre o feminino nem criar mais uma camada de competição entre homens e mulheres. Entretanto, há aspectos que caracterizam a liderança feminina, demonstrados em pesquisas e observação por especialistas.
Um artigo publicado em 2021 pela revista norte-americana Harvard Business Review apontou que países liderados por mulheres tiveram melhores resultados durante a crise da covid-19, considerando o número de casos e mortes relacionados à doença.
O mesmo estudo também analisou a liderança nesse período dentro de organizações e demonstrou que as mulheres foram avaliadas de forma mais positiva que os homens por seus subordinados.
De forma geral, as mulheres se destacam nas chamadas soft skills, habilidades mais comportamentais e subjetivas, essenciais para liderar em situações de crise. Entenda algumas dessas características:
• Empatia
De forma geral as mulheres conseguem exercer a liderança sem desconsiderar o lado humano, colocando-se no lugar do outro e percebendo o que a equipe e os clientes precisam. Em cenários de crise, uma líder empática é fundamental para que colaboradores sintam que suas necessidades são atendidas, inclusive as emocionais.
• Resiliência
A capacidade de ser criativa e se reinventar em meio às crises é uma demonstração de resiliência. Por questões culturais, enfrentar barreiras e adversidades é uma habilidade que muitas mulheres precisam desenvolver desde cedo.
Horizontalidade
A chamada liderança horizontal é um modelo de gestão em quem as decisões são mais descentralizadas. A líder escuta e considera a opinião da equipe, indo na contramão das antigas formas de gestão baseadas em autoridade e hierarquia.
Salário desigual: um dos maiores desafios
Além da presença de fato nos cargos de liderança, há outro grande desafio na jornada profissional feminina: as mulheres ainda costumam ganhar menos do que os homens.
De acordo com dados de 2022 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE, o rendimento médio mensal das mulheres trabalhadoras era 20% menor que o dos homens. E isso também acontece quando ambos ocupam os mesmos cargos.
A desigualdade é bastante evidente em ambientes que culturalmente se associam ao universo masculino – como o setor financeiro, por exemplo. Um levantamento do Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) demonstrou que as mulheres trabalham mais horas e são menos remuneradas em comparação aos homens dentro do mercado financeiro.
Essa é uma realidade ainda presente na cultura organizacional das empresas – de forma consciente ou inconsciente –, que precisa ser revelada e corrigida.