Marcelo comenta: “Navarro, gostaria que falasse um pouco sobre a situação da Petrobras diante de toda a crise financeira mundial. Li e concordo que o Dinheirama não deve fazer nenhum tipo de recomendação de investimento, ato irresponsável por não conhecerem a realidade de cada um dos leitores. Assim, gostaria mesmo de sua opinião sobre a empresa, a oscilação de suas ações e suas perspectivas. Para você, também parece exagerada a reação do mercado representada pela queda expressiva das ações da Petrobras? Fico com essa impressão. Valeu.”
Crises são momentos marcados pelos exageros. Exageros nos números apresentados, nos planos formulados e no noticiário especializado. E não há como ser diferente. As reações passam do plano factual, preciso e demonstrado para os círculos de especulações e sentimentos de medo e pânico. Momentos turbulentos na economia deflagram os instintos mais básicos do ser humano, aquilo que ainda somos e que sustenta todo e qualquer analista de mercado ou investidor (claro, há controvérsias).
Perder é ruim, perder muito é horrível. Crises disparam este importante gatilho e operações de entrada e saída de capital co-existem de forma ainda mais frenética. Não se trata mais de fazer o melhor negócio, de cumprir à risca a estratégia criada para o capital investido, mas sim de sobreviver e, só então, pensar na hipótese de aproveitar a crise para aumentar posições e comprar mais. Como saber se as coisas vão melhorar? Será que a saída se aproxima? Como você já percebeu, tais decisões não são nada fáceis.
Ah, sim, a Petrobras…
Tudo isso para chegarmos ao tema central do texto, a tão falada blue chip nacional do petróleo. A Petrobras vai bem? Continua sendo uma boa empresa? Tem potencial? Por que suas ações caíram tanto? Existem problemas administrativos e de fluxo de caixa que impedem o crescimento futuro? Seus últimos resultados foram ruins? Ela está endividada ou alavancada demais? São várias as perguntas, mas será que as respostas convencem?
Alguns fatos recentes dão a dimensão do ritmo de nossa gigante e do que ela é capaz de fazer:
- O lucro líquido alcançado no segundo trimestre deste ano chegou a R$ 8,78 bilhões, valor 29% maior do que o alcançado no mesmo período do ano passado. O valor é recorde para a empresa;
- A empresa anunciou a expansão das atividades e a construção/contratação de dez novas plataformas;
- Já está em andamento a exploração e produção no pré-sal;
- O plano de investimentos cresce a cada ano, bem como suas reservas (hoje, a Petrobras é a empresa petroleira com maior índice de reposição de reservas);
- Agosto de 2008 representou o mês com recorde de produção, totalizando 1,885 milhão de barris produzidos.
Ao que parece, tudo ótimo! Minha opinião pessoal é bem objetiva: os fundamentos da companhia são muito bons, sua matriz de produção é sólida e sua gestão atinge os resultados exigidos pelos acionistas. A empresa funciona bem, investe e cresce em um ritmo bastante forte. Ela tem caixa, aumenta sua produção de forma consistente e investe bastante no país. Pois é, os ativos da Petrobras estão presentes em minha carteira de investimentos.
Mas como explicar a queda de mais de US$ 45 bilhões no valor de mercado da empresa desde agosto do ano passado até agora? Por que seus papéis preferenciais (PETR4) apresentam queda de cerca de 23% em 2008? Em parte, por conta do exagero! Em geral, tudo foi abaixo, muitas ações despencaram, muitas empresas viram seu valor de mercado despencar.
Exagero?
Entenda que o exagero é uma reação, um ato de desespero disparado por um problema real capaz de agravar situações onde antes co-existiam confiança e estratégia. O exagero piora, mas não explica. Assim, permita-me comentar alguns fatores que levaram o mercado a reagir de forma tão pessimista e nervosa:
- Fuga de capital estrangeiro: Os gringos estão entre os principais acionistas de nossas blue chips. A crise deflagra o instinto de sobrevivência e uma corrida para os ativos seguros do Tesouro Americano. A turma liquida suas posições no Brasil, incentivando a queda dos preços na bolsa de valores como um todo, e corre para lá. Tal reação é comum em crises e sempre prejudica as bolsas de países emergentes.
- O preço do petróleo: Nas alturas há cerca de um mês, o preço do petróleo caiu, voltou a subir e está caindo de novo. A volatilidade, representada pelo sobe e desce dos preços, impacta as projeções de resultados e, conseqüentemente, as expectativas de muitos investidores. A incerteza se reflete nos preços.
- Nova legislação: Todos se lembram da discussão gerada em torno da questão do pré-sal, certo? Muitos investidores estão preocupados com possíveis mudanças no marco regulatório e nos formatos de concessão para exploração. O surgimento da Petro-Sal também divide opiniões. Os preços são também punidos.
Confuso? Eu não.
O início do segundo semestre foi um período de reavaliação de minha carteira. Confesso que analisar a Petrobras, o noticiário em torno de sua evolução, seus resultados e sua situação diante da crise me tomou um bom tempo. Depois de alguns dias, decidi manter-me firme como acionista da empresa e, quando possível, aumentar minha participação (comprar mais lotes). Acredito muito no carro elétrico, mas acredito que ainda viveremos alguns (muitos?) anos na companhia do ouro negro.
Sinceramente, não sou nada demais perto de muitos analistas e especialistas. Assim, acho que muitos fundos internacionais e grandes investidores também já tomaram esta decisão e estão apenas aguardando a tendência e o desfecho dos planos de contenção e dissolução da crise. Todos parecem concordar com a visão de que a empresa representa boas perspectivas. O tempo trará de volta grande quantidade de capital estrangeiro. Grande parte deste dinheiro virá para compras das ações da nossa gigante do petróleo.
Enquanto isso, mantenho os pés no chão, assistindo ao exagero e mantendo o foco no que realmente importa: os fundamentos, os resultados, as pessoas envolvidas e a gestão. Preste bastante atenção: este texto não é uma recomendação de compra dos papéis da Petrobras. Sou peixe pequeno, apenas compartilhei minha opinião sobre o que li e conheço da empresa e minhas decisões de investimento relacionadas a este papel, nada mais, nada menos. Em tempo, cuidado com o exagero!
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