Os números geralmente não mentem. Quando falamos em número de vendas de automóveis, a análise ganha significância e merece um importante debate – sobretudo porque atua sobre o andamento da economia. As vendas de veículos novos no mercado brasileiro somaram 239,2 mil unidades em outubro de 2008, o que representa uma queda de 11% em relação a setembro e de 2,1% em comparação com o mesmo mês de 2007.
Os dados foram apresentados nesta quinta-feira pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Foi a primeira queda registrada pela associação desde junho de 2006. Claro que, se elevarmos a abrangência da pesquisa para os 10 meses do ano (no acumulado de janeiro a outubro deste ano), foram comercializadas 2,45 milhões de unidades, o que significa um crescimento de 23,4% ante igual intervalo de 2007.
Fica claro que o ano representa momento de muitas vendas, mas também que a concessão do crédito ficou mais rigorosa e os prazos propostos para o financiamento diminuíram. Tirando o aspecto econômico, que passa pelo desaquecimento da economia e retração do mercado, existem aspectos positivos que podem ser observados nesse cenário. Vamos pensar na independência financeira, tão desejada por todos.
Menos financiamento = menos endividamento
Um fato pode ser facilmente constatado ao andar pelas ruas do país – e podemos falar isso sem medo de errar: a situação financeira das pessoas, de uma maneira geral, melhorou. Infelizmente, essa melhora ainda não foi amplamente canalizada na formação de poupança e busca de independência financeira. O que fizeram os brasileiros então?
Outro movimento natural apareceu: a sensação de melhora motivou as pessoas a fazerem mais dívidas, inclusive comprando automóveis caros em financiamentos de muitas parcelas. Isso sem falar no consumismo de outros itens. A preocupação é evidente: toda a atitude consumista pode significar dívidas fora de controle.
Nos próximos meses, milhares de pessoas experimentarão a terrível sensação de escolher quitar as dívidas dos vários financiamentos ou pagar as despesas básicas de sua casa. Como não canso de falar, crédito fácil não quer dizer o mesmo de crédito barato. Se alguém tenta lhe vender isso, cuidado!
Os juros praticados no país beiram a falta de pudor, são altíssimos. É desumano levar pessoas ao consumo através de financiamentos exorbitantes, exagerados e imorais. Mas se as pessoas aceitam, quem sou eu para criticar? Pois é, aqui o objetivo é alertá-lo, educá-lo e despertá-lo para novos hábitos.
Onde fica a independência financeira?
Procuramos ser muito realistas na conversa diária com você, leitor do Dinheirama. Nunca pregamos que a independência financeira é um objetivo fácil de se atingir, mas é preciso começar, dar o primeiro passo, não é mesmo? Trata-se de um grande desafio, é verdade. Mas um desafio recompensador, capaz de mudar nossas vidas.
Quem descobrir cedo como utilizar alguns conceitos básicos de educação financeira, em breve colherá frutos maravilhosos. O chavão é antigo e batido, mas é verdadeiro. A hipocrisia nos cega para certas afirmações, o que é triste. Quantas pessoas próximas optaram pelo endividamento, em detrimento da poupança e futuro? Pois é, muitas.
Quem não conhece alguém que está inadimplente com os pagamentos de condomínio, faculdade ou escola dos filhos, mas continuam exibindo o carro zero na garagem? Não seria mais sábio aplicar o dinheiro, desfrutando das mesmas altas taxas de juros, e criar um futuro mais próspero e tranqüilo?
A irresponsabilidade com o dinheiro custa caro. Muito caro. São muitas perguntas e nossa cultura voltada para o hoje, agora, levou as pessoas para esse caminho. Concordo, mas falta coragem de ir atrás do melhor, mudar a direção da vida rumo a novas práticas onde o melhor e mais precioso bem seja a boa informação e o conhecimento.
Instrua-se, busque oportunidades de crescer e prosperar. Orçar e construir os sonhos de forma gradual é o melhor caminho para o sucesso financeiro. Alguns trabalhos neste sentido são desenvolvidos de maneira séria e didática, mas ninguém fará o seu trabalho de cuidar do futuro e do seu dinheiro. Cabe lembrar que a responsabilidade não é do seu gerente ou do seu consultor. Aceite, ela é sua! Bom final de semana.
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Ricardo Pereira é consultor financeiro, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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