O Bank of America rebaixou a recomendação das ações da B3 (B3SA3) de “Compra” para “Neutra” e reduziu o preço-alvo de R$ 14 para R$ 13, refletindo um cenário de taxa Selic mais alta e prolongada.
Assinado pelos analistas Mario Pierry, Antonio Ruette e Ernesto Gabilondo, o relatório destaca as revisões nas expectativas para a taxa básica de juros no Brasil, que agora está projetada em 11,75% para o final de 2024 e 10,75% para 2025.
A decisão de rebaixar a recomendação foi baseada na expectativa de que o Banco Central prolongará o ciclo de alta de juros até o início de 2025, conforme a recente atualização dos economistas do Bank of America. Anteriormente, a previsão para a Selic era de 10,5% em 2024 e 9,0% em 2025.
O impacto dessa revisão reflete um ambiente econômico de maior custo de capital.
Além disso, o banco ajustou suas projeções de volume diário médio negociado (ADTV) em ações para R$ 24 bilhões em 2025, uma queda em relação aos R$ 26 bilhões anteriormente previstos.
Embora o ADTV ainda permaneça acima da média pré-pandemia, que era de 90%, a expectativa agora é de uma redução na velocidade de giro de ações para 110%, contra uma estimativa anterior de 120%.
A velocidade de giro (turnover velocity) mostra com que frequência as ações estão sendo compradas e vendidas em um determinado período. A fórmula básica é o volume total de negociações dividido pela capitalização de mercado das ações, geralmente expresso como uma porcentagem anual.
Receitas fora do mercado de ações
Apesar da redução no volume de negociações de ações, o impacto nas projeções de lucro por ação (EPS) da B3 foi mais modesto, caindo apenas 4%, devido à diversificação das receitas da empresa, com 60% das receitas totais vindo de produtos fora do mercado de ações, como Juros, moedas e mercadorias, Balcão, Infraestrutura para Financiamentos e Tecnologia, dados e serviços. Para 2025, o Bank of America estima que a B3 deverá apresentar um crescimento limitado de 5% no EPS, alcançando R$ 0,90, o que representa uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de apenas 2% desde 2021.
Com a revisão do preço-alvo para R$ 13, o Bank of America prevê um potencial de valorização de apenas 5%, além de um rendimento em dividendos de 9%, o que justifica a nova recomendação neutra. A redução do múltiplo de preço/lucro (P/E) para 14 vezes, ante os 15 vezes anteriores, também reflete o ambiente de juros elevados, uma vez que a B3 costuma ser negociada em múltiplos mais baixos quando a Selic supera 10%.
Para os investidores que negociam ADRs (American Depositary Receipts), o banco também ajustou o preço-alvo para US$ 7,10, ante US$ 8,40, considerando uma taxa de câmbio de R$ 5,50 por dólar. Essa nova perspectiva de valorização limitada reforça a recomendação mais cautelosa do Bank of America em relação às ações da B3, que deve enfrentar um crescimento moderado em um cenário econômico desafiador.
O relatório sugere que, apesar de sua diversificação de receitas, a B3 está enfrentando um momento de crescimento mais lento, diretamente influenciado pelo ambiente macroeconômico e a política monetária restritiva no Brasil.