As ações do Bradesco (BBDC4) avançavam 5% nesta segunda-feira, com a repercussão positiva do balanço trimestral prevalecendo sobre a forte aversão a risco nos mercados globais, enquanto o presidente-executivo, Marcelo Noronha, afirmou que o lucro de 2024 deve ficar acima do resultado implícito nas estimativas do banco.
“O lucro líquido implícito…virou ‘bottom’ (piso)…é disso para cima”, afirmou o executivo, referindo-se aos cálculos feitos por analistas a partir das projeções divulgadas pelo Bradesco no começo do ano, incluindo estimativa de alta de 7% a 11% na carteira de crédito e de 3% a 7% na margem financeira total.
No segundo trimestre, o lucro líquido recorrente somou 4,7 bilhões de reais, alta de 4,4% sobre o resultado de um ano antes, acima de previsões de analistas, com a carteira de crédito crescendo 5%, enquanto a margem financeira caiu 5,9% ano a ano. No primeiro semestre, o lucro somou 8,9 bilhões de reais.
Noronha chamou a atenção para o desempenho da margem financeira líquida, que subiu 25,7 no segundo trimestre, somando 15,6 bilhões de reais na primeira metade do ano, com o desempenho implícito no indicador anual de 28,1 bilhões a 34,8 bilhões de reais.
“Nós estamos seguros que vamos entregar o lucro líquido implícito para cima, temos bons indicadores, tração”, afirmou o presidente-executivo do Bradesco a jornalistas.
De acordo com ele, a carteira de crédito do banco vem crescendo em linha com o mercado, com ganho de participação de mercado em fevereiro, março e abril, enquanto perdeu em abril e maio, mas aumentou um pouco em junho. “Mas junho foi um bom mês do ponto de vista de crescimento.”
Quanto à rentabilidade, que o executivo citou como uma das razões do desempenho negativo das ações no acumulado do ano, de cerca de 23% até a última sexta-feira, ele afirmou que a expectativa é de continuar melhorando, “step by step”, sem precisar um número.
No acumulado até o segundo trimestre, o retorno sobre o patrimônio (ROAE) anualizado ficou em 10,8%, de 10,2% no primeiro trimestre e 10,9% um ano antes.
Na visão dos analistas do Itaú BBA, os números sinalizam que os lucros trimestrais continuarão aumentando para atingir no ano cerca de 18 bilhões de reais.
Na B3, por volta de 11h30 desta segunda-feira, as preferenciais do Bradesco avançavam 4,98%, a 13,28 reais, entre as poucas altas do Ibovespa, que caía 1,31%, em meio a um movimento global de aversão a risco desencadeado por preocupações com o risco de uma recessão nos Estados Unidos.
Para Noronha, a reação dos mercados é “absolutamente extremada” e um paradoxo, uma vez que até dias atrás a expectativa era de que o Federal Reserve poderia baixar as taxas de juros, que os indicadores ofereciam uma condição para isso.
Crédito
O presidente do Bradesco afirmou que o mix da carteira de crédito do banco está bem balanceado, mas acrescentou que o banco ainda está conservador em concessão de empréstimos, citando safras passadas com elevada inadimplência, principalmente nos segmentos massificados, de baixa renda, mas também pequenas empresas.
“Nós estamos com o pé no chão….não estamos tão acelerados, por exemplo, no SME (sigla em inglês para pequenas e médias empresas) quando poderia até estar”, afirmou.
No segundo trimestre, a carteira de crédito pessoa jurídica aumentou 4,5% ano a ano, com o segmento de Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME) aumentando 10,2%, enquanto o de grandes companhias teve uma expansão de 1,7%. Na pessoa física, houve um incremento de 5,7%.
Quando à inadimplência, houve melhora na base trimestral, com o índice acima de 90 dias passando de 4,8% para 4,3%. Em junho de 2023, esse percentual era de 5,7% (considerando cliente do atacado 100% provisionado).
A provisão para devedores duvidosos expandida caiu a 7,29 bilhões de reais, de 10,316 bilhões um ano antes e 7,811 bilhões nos primeiros três meses do ano.
Quando às margens, Noronha destacou que a margem bruta com clientes continuará crescendo trimestre a trimestre, mas afirmou que a provisão ainda interfere no cálculo e comentou que a margem financeira de mercado foi afetada pela volatilidade nos mercados.
“Acreditamos que os resultados devem ser bem recebidos pelo mercado, dadas as expectativas ainda baixas e as tendências de melhoria de NII (margem financeira) do cliente e da qualidade dos ativos”, afirmaram analistas do Goldman Sachs liderados por Tito Labarta em relatório a clientes.
No segundo trimestre, a margem financeira com clientes ainda caiu 8,4% na comparação ano a ano, mas aumentou 5% na base trimestral. A margem com mercado recuou 48,4% frente ao primeiro trimestre.
O balanço do Bradesco ainda mostrou aumento de 6,4% nas receitas com prestação de serviços, para 9,3 bilhões de reais, enquanto as despesas operacionais subiram 10,6%, a 14,5 bilhões de reais, o que segundo o banco era esperado e decorre de efeitos por provisões cíveis e fiscais.
O índice de eficiência do Bradesco terminou o segundo trimestre em 51,3%, algo que deve cair até cerca de 40% entre 2027 e 2028, afirmou Noronha. “Não estamos satisfeitos com 52%”, disse o executivo. Quanto menor o indicador, mais eficiente é um banco em termos de receita e despesas.