O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira que o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia ainda “inspira muitos cuidados”, descrevendo-o como positivo para a Europa.
“O acordo União Europeia-Mercosul ainda inspira muitos cuidados, porque ele efetivamente é um acordo que favorece a Europa, é um caminho para a Europa”, disse Haddad no evento Phenomenal World para a América Latina, em São Paulo.
Segundo o ministro, o acordo só não foi concluído ainda por conta da oposição da França. Ele apontou o país como o “maior obstáculo” para a conclusão do acordo.
“(O acordo) só não foi fechado pela Europa em função de uma questão interna na França nesse momento”, apontou.
No continente europeu, Haddad indicou que a Alemanha parece ser o país que tem mais “apetite” em aprofundar as relações com a América do Sul de um modo que favoreça ambos os lados.
O acordo entre UE e Mercosul vem sendo negociado há mais de 20 anos. Em 2019, os blocos chegaram a assinar uma versão, que não foi ratificada em meio à difícil relação do governo Jair Bolsonaro com os europeus, o aumento do desmatamento e o não cumprimento de regras ambientais no Brasil.
As negociações foram reabertas em março de 2023, mas geraram novos embates entre os dois lados. De um lado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a criticar o bloco europeu pelas exigências ambientais.
De outro, o presidente francês Emmanuel Macron se tornou cada vez mais vocal contra o acordo, em meio a protestos de agricultores locais, que se opõem à entrada de produtos agrícolas da América do Sul no país.
Em visita ao Brasil no mês passado, Macron fez novas declarações contrárias ao acordo. De acordo com ele, que defende que um novo entendimento parta da estaca zero, é “uma loucura” continuar insistindo em um texto de 20 anos, mesmo que com mudanças.
Transição Ecológica
No evento desta sexta, Haddad voltou a defender a agenda da Fazenda para a transição ecológica do país, indicando que o processo pode estabelecer a “neoindustrialização” no Brasil.
“Penso que temos uma oportunidade de, com bons instrumentos de política econômica, promover uma transformação ecológica que nos permita vislumbrar oportunidades de neoindustrialização”, afirmou.
O ministro alertou para o risco de surgir um “patrimonialismo verde” no país, um cenário em que a distinção dos interesses públicos e privados não estaria clara e que lobbies econômicos poderiam “capturar” o processo de transição.
Ele apontou que esse risco pode ser prevenido pela organização da sociedade, transparência do poder público e acompanhamento dos interessados no que se está fazendo em relação à transição ecológica.