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Adam Smith: idéias que não devemos esquecer

por Alexsandro Rebello Bonatto
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Adam Smith: idéias que não devemos esquecerEm tempos de crise econômica, a primeira vítima normalmente é o livre comércio e a primeira atitude é a regulação dos mercados. Apesar do que os países componentes do G-20 têm declarado, a história mostra que sempre depois de uma crise os países tendem a aumentar o protecionismo. Da mesma forma, logo que estouram bolhas as bolsas[bb] e os mercados tendem a ser mais regulados, com direta intervenção da autoridade estatal. Aqui não resta dúvida: os governos americano e europeu vêm sendo obrigados a entrar como sócios em instituições financeiras consideradas sólidas até bem pouco tempo.

Contudo, em tempos de insegurança e pessimismo quanto ao funcionamento dos mercados, e em última instância do próprio capitalismo, nada melhor que lembrarmos do economista que lançou as bases do pensamento liberal: o escocês Adam Smith com a publicação do livro “Indagações sobre a natureza e as causas da riqueza das nações”, em 1776.

O livro se concentra em uma meta particular: descobrir leis que expliquem como conquistar a riqueza[bb]. E tais leis estariam no desejo humano de melhorar suas condições de vida. Smith descobriu um “… desejo de melhorar a nossa condição, um desejo que, embora geralmente calmo e desapaixonado, vem conosco do útero, e nunca nos abandona até que nós vamos para o túmulo”.

Entre o nascimento e morte “… existe um instante escasso e talvez único no qual qualquer homem está tão perfeita e completamente satisfeito com a sua situação, que não tem nenhum desejo de alteração ou melhoria de nenhum tipo”. Existiria ainda “…uma certa propensão na natureza humana (…) para negociar, permutar e trocar uma coisa por outra (…) isso é comum a todos os homens”. Para aumentar a riqueza das nações, Smith argumenta que a sociedade deveria explorar essas tendências naturais.

A seguir apresentamos alguns tópicos sobre o pensamento exposto no livro “A Riqueza das Nações”:

Egoísmo: seria uma rica fonte natural de prosperidade, pois nossas ações visam única e exclusivamente nosso próprio benefício. Numa passagem famosa, temos:

“Não é pela benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que nós contamos com o nosso jantar, mas pela consideração do seu próprio interesse”.

Mesmo aqueles que gostam de abater gado, fabricar cerveja ou fazer pães não gostariam de fazer isso todos os dias se eles não fossem recompensados pelo trabalho. No livro “O Economista Clandestino”, de Tim Harford, encontramos uma alegoria muito interessante sobre os benefícios do egoísmo de Smith:

“Eu, de forma egoísta, compro cuecas, mas ao fazê-lo transfiro recursos para as mãos dos fabricantes de cuecas e não faço mal a ninguém. Os trabalhadores na indústria têxtil da China, onde a cueca é fabricada, buscam de forma egoísta o melhor emprego, enquanto os empresários buscam, também de maneira egoísta, contratar os empregados mais capazes. Tudo isso beneficia a todos. Os bens são manufaturados apenas se as pessoas quiserem comprá-los e são produzidos pelos mais aptos a fazê-lo. Motivos talvez egoístas são postos a serviço de todos”

Mão invisível – livre mercado: apesar de ser o egoísmo de cada um que rege suas ações, as pessoas podem se mover por diferentes caminhos e, ainda assim, se harmonizar e ajudar um ao outro – mas não intencionalmente. Noutra afirmação clássica, Smith declara que se todos procurarem promover o seu próprio interesse, a sociedade prospera como um todo:

“Ele (…) nem pretende promover o interesse público, nem sabe o quanto ele o está promovendo (…) visa apenas ao seu próprio ganho, e está nisso, como em muitos outros casos, guiado por uma mão invisível para promover um fim que não era parte de sua intenção”

Essa mão invisível simplesmente simboliza o verdadeiro orquestrador da harmonia social – o livre mercado. O escritor Todd G. Buchholz, em seu livro “Novas idéias de economistas mortos”, dá o exemplo de John, um jovem escultor que um belo dia resolve esculpir estátuas de grandes abutres para vender em sua comunidade. Nem preciso dizer que o mercado para esculturas de abutres não é lá muito grande, o que faz John rapidamente desistir dos abutres e passa a produzir mesas, produto esse que encontra uma melhor acolhida entre seus vizinhos.

Divisão do trabalho: o exemplo clássico de Smith é a fábrica de alfinetes, onde ao invés de cada trabalhador começar do arame até chegar ao alfinete acabado, seria mais inteligente dividir o trabalho entre os diversos processos de produção, ganhando-se agilidade e produtividade.

Honestidade: para Smith, a honestidade é a melhor política na condução dos negócios. Quando há um cenário de confiança entre os agentes, as operações se dão de forma mais fluida, sem a participação de intermediários ou ferramentas que atestem a validade do que está sendo proposto. Em outras palavras ganha-se tempo e dinheiro. Para Smith:

“A natureza, quando formou o homem para a sociedade, dotou-o de um desejo original de agradar e de uma aversão original a ofender os irmãos. Ela lhe ensinou a sentir prazer quando o avaliam de maneira favorável e dor quando o avaliam de maneira desfavorável.”

Ele ainda acrescentou:

“O êxito da maioria (…) quase sempre depende da simpatia e da opinião favorável dos semelhantes; e sem uma conduta toleravelmente regular, é raro obtê-las. O bom e velho provérbio, portanto, segundo o qual a honestidade é sempre a melhor política, se mantém, em tais situações, e quase sempre é verdadeiro.”

Como vemos, são princípios simples, mas descritos com a genialidade de Smith, que nortearam o pensamento liberal e a forma de fazer negócios nos últimos 200 anos de economia capitalista. Infelizmente, de tempos em tempos parece que alguns desses ensinamentos são esquecidos e acabam sendo substituídos por outros nem tão brilhantes. O resultado é conhecido: escuridão do pensamento, pobreza e crises financeiras.

Bibliografia

  • ARIELY, Dan. Previsivelmente irracional: as forças ocultas que formam as nossas decisões. Tradução de Jussara Simões. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
  • BUCHHOLZ, Todd G. Novas Idéias de economistas mortos; tradução de Luiz Guilherme Chaves e Regina Bhering. Rio de Janeiro: Record, 2000.
  • GONÇALVES, Carlos e GUIMARÃES, Bernardo. Economia sem truques: o mundo a partir das escolhas de cada um. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
  • HARFORD, Tim. O economista clandestino. Tradução de Fernando Carneiro. Rio de Janeiro: Record, 2007.
  • MCMILLAN, John. A reinvenção do bazar: uma história dos mercados; tradução de Sergio Góes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar E., 2004.

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Alexsandro R. Bonatto, economista e com MBA em Gestão Empresarial, é professor universitário, instrutor e sócio da Ventura Corporate, empresa de treinamentos corporativos. Tem mais de 13 anos de experiência no mercado de crédito.

Crédito da foto para stock.xchng.

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