Hoje faz uma semana que o governo americano apresentou ao mundo seu plano mirabolante para tentar recuperar o sistema financeiro americano e tentar colocar o mundo de volta em um ambiente um pouco mais tranqüilo e previsível. Ora, que o governo americano precisa intervir para resgatar a credibilidade do sistema, é fato, mas será que o plano proposto irá funcionar? Como ficam os contribuintes americanos com tamanha responsabilidade? Planos deste tipo costumam funcionar?
Já foram colocados em movimentação e no suporte da crise muitos bilhões de dólares desde o inicio da crise, em agosto de 2007. Agora ouvimos e lemos que a “ajuda” ao sistema financeiro girará em torno de US$ 700 bilhões. Cifra difícil de imaginar, não é mesmo? Há quem estime que o valor necessário chegue a mais de US$ 1 trilhão. Há quem critique a atitude de comprar títulos podres.
Para que tanto dinheiro?
Durante esta madrugada, o Washington Mutual, um dos maiores bancos dos EUA, “arregou” e foi parar nas mãos do JP Morgan Chase. A idéia do governo americano é tentar evitar que a crise piore e, assim, contamine ainda mais as economias ao redor do mundo, que muito vendem e compram dos EUA. Evitar a quebradeira, conseqüência das chamadas crises sistêmicas, é a missão dos responsáveis pelo plano apresentado ao Congresso.
O plano pretende retirar de circulação os títulos podres de hipotecas que estão em poder do mercado financeiro. O governo está se propondo a comprar esses papéis, inclusive por um preço acima dos valores atuais (razão de muitas críticas), levando, em tese, maior liquidez ao mercado e diminuindo o risco de novas falências.
Corre-se o risco de pagar caro demais por estes títulos podres? A cifra de US$ 700 bi será suficiente? O governo não tece comentários sobre as qualidades do plano, limitando-se apenas a comentar sua necessidade, ligando-o necessidade de combate de um mal maior. E ele precisa mesmo sair.
O peso do plano para o contribuinte americano
O X da questão é o grande acordo que precisa ser costurado para aprovação desse “pacote” financeiro proposto. Os congressistas não estão completamente convencidos de que a ajuda financeira será o melhor caminho para enfrentar a crise. Mais, há aqueles senadores e políticos que tentam mudar alguns detalhes do plano para tentar proteger o bolso do eleitorado (lembre-se que há uma eleição chegando por ai).
Será justo chamar o contribuinte para pagar a conta pela má gestão financeira dos chamados “deuses de Wall Street?”. Este é um dos principais ponto da discórdia. Convencer as pessoas de que elas precisam entrar em uma festa cujo bolo já está cortado e comido, e ainda pagar por ele, não é missão fácil.
Também já vimos algo semelhante por aqui…
Na década de 90, também vivemos diante de um programa de ajuda financeira aos bancos. O chamado PROER – Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional. A idéia de proteção a pequenas instituições financeiras que passavam por períodos de instabilidade favoreceu grandes bancos, que então levantaram dinheiro para adquirir as instituições em dificuldades.
O Brasil, naquele momento, iniciava seu processo de estabilização econômica graças ao Plano Real. Durante os anos de 1980 a 1994, os planos econômicos se sucediam e o fantasma da superinflação permanecia assombrando o país. Durante esses anos, era comum a falta de rigor administrativo por parte de algumas instituições bancárias que se utilizavam da inflação como forma para acobertar possíveis “desvios” financeiros.
A estabilização, que culminou no controle da inflação, mostrou a verdadeira realidade de muitas instituições que partiam para esse nebuloso caminho, expondo toda fragilidade do sistema financeiro da época. Foram gastos, durante os anos de 1995 a 2000, cerca de R$ 30 bilhões nesse programa, algo em torno de 2,5% do PIB do país.
De volta ao presente…
Voltando ao caótico cenário atual, fica a dúvida: quando será fechado o plano de resgate apresentado pela equipe econômica do Fed e do Tesouro americano? Também está sendo discutido se os valores empregados no pacote poderão ser usados no pagamento de salário dos administradores das instituições em dificuldades.
Até o momento, não há consenso sobre a questão, o acordo não foi fechado e as bolsas de valores operam com forte volatilidade. Fica-se com a impressão de que a ajuda às pessoas com dificuldades em quitar dívidas não está no pacote. No entanto, manter o sistema financeiro de pé – ajudar quem supostamente controla o crédito – pode ser a única saída para evitar um caos ainda maior. Ufa, bom final de semana.
Alguns dados usados neste artigo foram retirados de páginas da Wikipédia.
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Ricardo Pereira é consultor financeiro, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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