Seja em Wall Street ou na Faria Lima, no Brasil, o rito de passagem para jovens analistas do mercado financeiro inclui longas noites dedicadas a apresentações em PowerPoint e digitação em planilhas de Excel. Este cenário, contudo, está prestes a mudar radicalmente com a chegada da inteligência artificial, que promete revolucionar a indústria bancária, até então conservadora em suas práticas.
A reportagem “A pior parte de uma carreira em Wall Street pode estar chegando ao fim” desta terça-feira (16), do The New York Times, pontua que a prática de um analista pernoitar montando apresentações em PowerPoint, digitando números em planilhas do Excel, enquanto aprimora a “linguagem de documentos financeiros esotéricos que talvez nunca mais possam ser lidos por outra alma”, pode estar chegando ao fim.
Este trabalho árduo tem sido há muito tempo uma espécie de rito de passagem nos bancos de investimentos, mas agora a inteligência artificial está pronta para assumir essas tarefas repetitivas e meticulosas, liberando os analistas para se concentrarem em funções que exigem um toque mais humano e estratégico.
A IA poderia reduzir drasticamente a necessidade de analistas humanos, provocando uma transformação na dinâmica de emprego nos bancos.
Redução na força de trabalho
Instituições como Goldman Sachs, Morgan Stanley e Deutsche Bank estão na vanguarda dessa revolução, testando novas ferramentas que podem executar tarefas analíticas em uma fração do tempo que um humano levaria. Tais ferramentas, operando sob codinomes intrigantes como “Sócrates”, sugerem um futuro onde menos analistas são necessários, com uma redução potencial de até dois terços na contratação de novos talentos.
Ao NYT, Christoph Rabenseifner, do Deutsche Bank, reconhece a eficácia dessas ferramentas, mas ressalta a necessidade contínua de envolvimento humano: “A ideia fácil é simplesmente substituir os juniores por uma ferramenta de IA”.
No entanto, as consequências para os trabalhadores podem ser profundas. Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, comparou os impactos potenciais da IA às revoluções trazidas pela imprensa e pela eletricidade. Em sua carta anual aos acionistas, Dimon escreveu que a IA “pode reduzir certas categorias ou funções profissionais”, destacando a importância de adaptar-se às novas realidades tecnológicas.
“Com o tempo, prevemos que o uso da IA terá o potencial de aumentar praticamente todos os empregos, bem como de impactar a composição da nossa força de trabalho. Pode reduzir certas categorias ou funções profissionais, mas também pode criar outras. Tal como fizemos no passado, iremos treinar e redistribuir agressivamente os nossos talentos para garantir que estamos a cuidar dos nossos funcionários caso sejam afetados por esta tendência”, disse Dimon.
A banca de investimento é apenas uma das muitas áreas aonde a IA está definindo novos padrões. O Goldman Sachs, por exemplo, dedicou uma equipe de 1.000 desenvolvedores para refinar ferramentas que transformam grandes volumes de dados em apresentações sofisticadas e personalizadas, emulando até mesmo os estilos visuais do banco.
Da mesma forma, o Morgan Stanley está implementando a IA em diversos setores, incluindo a gestão de patrimônio.
Essas mudanças não são exclusivas do setor bancário. O BNY Mellon, por exemplo, relatou que seus analistas podem começar o dia mais tarde, graças às capacidades da IA de processar dados econômicos durante a noite.
Brasil
A Bridgewise, plataforma de análise baseada em IA que atua no Brasil, anunciou nesta terça-feira (16) a conclusão de uma rodada de captação de US$ 21 milhões. A rodada foi liderada pela SIX Group, com a participação da Group11 e L4 Venture Builder, fundo da B3 (B3SA3).
Com o novo aporte, a empresa, que já operava em mais de 15 países, busca acelerar sua penetração de mercado e o desenvolvimento de tecnologias que incluem um algoritmo de aprendizado de máquina e um modelo de linguagem generativo para análises financeiras em idioma local.
“Esta nova rodada de financiamento é um testemunho de nosso compromisso tanto com a Bridgewise mas também com o mercado brasileiro como um todo. Estamos confiantes de que a renovação de nossa parceria expandirá ainda mais as oportunidades para investidores locais acessarem ainda mais informação de empresas brasileiras que recebem pouca cobertura de analistas, além de materiais escritos em português de BDRs representando empresas listadas fora de nosso país”, afirma Pedro Meduna, co-fundador do L4VB.
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