O governo da Venezuela pediu uma reunião com o governo brasileiro depois do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterar as críticas ao processo eleitoral do país, em entrevista na última quinta-feira, disseram à Reuters fontes que acompanham o tema.
“É grave que a candidata não possa ter sido registrada. Ela não foi proibida pela Justiça. Foi uma coisa que causou prejuízo a uma candidata”, disse Lula ao ser questionado sobre o tema ao lado do presidente da França, Emmanuel Macron, que visitava Brasília.
Um primeiro contato do governo venezuelano foi feito na quarta-feira, ainda antes da fala de Lula, depois da nota divulgada pelo Itamaraty em que o governo brasileiro disse ter preocupação com o processo eleitoral e questionou o comprometimento do governo Nicolás Maduro com o Acordo de Barbados.
Na quinta, depois da fala de Lula, foi acertada uma reunião com o embaixador da Venezuela no Brasil, Manuel Vadell, possivelmente para a próxima semana.
O acordo, negociado em 2023 por iniciativa dos Estados Unidos e intermediação de vários países, inclusive o Brasil, suspendeu parte dos embargos norte-americanos à Venezuela em troca de uma série de medidas para garantir eleições democráticas.
Na terça-feira, quando se encerraram as inscrições de candidatos, Corina Yoris, que substituiu a oposicionista Maria Corina Machado – impedida de concorrer por decisão judicial – não conseguiu se inscrever. O bloqueio da possível candidata pela Plataforma Unitária Democrática, principal força da oposição, cruzou um limite considerado perigoso pelo governo brasileiro.
A nota divulgada pelo Itamaraty, considerada dura para os padrões diplomáticos brasileiros, foi um pedido do próprio Lula, que ficou extremamente irritado com as ações do governo Maduro, e foi aprovada por ele antes de ser divulgada.
No entanto, em resposta, a chancelaria venezuelana acusou o Itamaraty de ingerência nos assuntos internos do país e de estar a serviço dos Estados Unidos. A nota ainda tenta exonerar Lula, acusando apenas os diplomatas brasileiros, mas a fala presencial do presidente na quinta-feira não deixou dúvidas que essa era uma posição dele, e não apenas da chancelaria.
Desta vez, não houve resposta formal do governo venezuelano.
Conforme as fontes ouvidas pela Reuters, a avaliação é que o pedido de reunião, agora, é para tentar serenar os ânimos depois do governo venezuelano atacar o Itamaraty.