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Aprendendo a ser cidadão com toda essa gente diferenciada

por Ricardo Pereira
3 min leitura

Aprendendo a ser cidadão com toda essa gente diferenciadaHoje tomo a liberdade de fugir um pouco dos assuntos mais buscados no Dinheirama (dinheiro, finanças pessoais e investimentos). Quero conversar sobre pessoas e tenho certeza que você, leitor, entenderá, no decorrer da leitura, porque decidi também falar da polêmica envolvendo a escolha da nova linha do metrô na cidade de São Paulo. A polêmica da “gente diferenciada” ganha mais um capítulo.

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Para evitar qualquer julgamento inapropriado, cabe lembrar que boa parte da população enxerga, com preconceito, o fato de existirem pessoas que alcançaram o sucesso e que, como consequência, desfrutam da condição de riqueza. No Brasil, ser rico é considerado pecado, quase um crime. Levar isso em consideração é importante para a correta interpretação deste texto.

Nessa semana, ouvimos nascer uma grande polêmica sobre a construção de uma estação de metrô na região da Santa Cecília, mais precisamente na Avenida Angélica, em São Paulo. De acordo com o noticiado, a população do bairro pressionou a prefeitura e a direção do metro para que a estação fosse para outro lugar.

A razão alegada foi a de “evitar ocorrências” no bairro – no entender de muita gente (meu, inclusive), o grupo reclamou a fim de evitar a mistura (o choque) entre os moradores do bairro “nobre” e a população mais humilde (e de pior situação financeira) que utiliza o metrô.

Pouco interesse em temas relevantes para o Brasil
Interessante notar o poder de mobilização da Internet condenando a possível pressão dos moradores, que criaram um abaixo assinado e conseguiram fazer valer sua vontade e seus interesses. Até o momento, o Metrô informa que a mudança da estação para as proximidades da Avenida Angélica respeita critérios técnicos, não admitindo que a mudança seja resultado das pressões regionais do bairro.

Concordo com a avaliação do cronista esportivo Juca Kfouri em relação aos protestos e abaixo assinado. A atitude de segregação é ridícula, não há nem o que discutir, mas a ação do bairro é legítima, ainda que inexpressiva em termos absolutos. A situação merece interpretação: o que torna as pessoas de Higienópolis diferentes em relação a muitos que preferem apenas criticar e não enxergar fora da caixa?

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Ora, o Brasil possui milhões de problemas estruturais que precisam ser discutidos e questionados com energia e muito “barulho”: educação precária, saúde perto da calamidade, carga tributária perto da imoralidade, corrupção, infraestrutura etc. Bom, até hoje não vi nenhum desses temas chegar ao Trending Topics do Twitter. A mobilização em torno destes temas continua sendo uma utopia.

Aprendizado deixado de lado
Aqui no Dinheirama, sentimos “na pele” como os brasileiros se deixam levar por questões pouco relevantes para a sua vida – cidadãos que aderem, em boa parte, a campanhas ou mesmo situações em que o menos importante é o crescimento pessoal e financeiro. É aquela velha história: educação financeira ou colheita on-line, o que dá mais audiência?

Se considerarmos a Internet como base de comparação, os nossos campeões de visitas são os sites e blogs de humor e as redes sociais, onde muitos internautas passam horas “colhendo frutas” e “cuidando” de animais virtuais. O que dizer do aprendizado, da necessidade de aprender a interpretar um bom texto? Mais uma vez, fica claro que o prazer imediato e a pouca valorização do futuro falam mais alto.

Mudança de postura
Os internautas e demais pessoas que se sentiram ofendidos ou desprestigiados com a possível “conquista” dos moradores de Higienópolis deveriam imitá-los. Sim, buscar o mínimo de organização para pressionar os poderes públicos para fazer o que deveriam, exigindo a prestação de serviços de qualidade, sem falcatruas ou jeitinhos que obedeçam apenas ao critério político.

Mais do que nunca, o Brasil merece novas oportunidades. É inegável o avanço do país em vários aspectos, sobretudo o econômico. Agora, como cidadãos, precisamos mudar a postura, precisamos fazer prevalecer nossos direitos, principalmente fazendo melhores escolhas. E se as mais de 50 mil adesões contra o movimento do bairro fossem direcionadas para a construção de novos hospitais, melhoria dos serviços públicos?

Alguém esses dias me perguntou: “Será que os moradores de Higienópolis votaram no Deputado Tiririca?” Posso até me surpreender com os resultados, mas não creio que ele tenha recebido muitos votos por lá. Fica o convite à reflexão: precisamos mudar a maneira como tratamos os assuntos que são importantes em nossa vida.

Assim, quando você perceber que existe alguma decisão com a qual não concorda, ao invés de lamentar, busque o mínimo de organização e “vá à luta”. Não importa o bairro onde você mora, o que irá prevalecer é a atitude, a dedicação e a postura em torno daquilo que se deseja. Dedicar um artigo a esta afirmação parece desnecessário, afinal trata-se de algo óbvio.

Concordo com o que diz Sérgio Malbergier em sua coluna da Folha de S. Paulo quando ele diz que ser rico não é pecado. Pecado é ficar sentado esperando as coisas acontecerem, simplesmente dizendo amém para tudo, sem lutar e buscar oportunidades de fazer diferente. Isso vale pra qualquer tipo de pessoa, diferenciadas ou não.

Foto de sxc.hu.

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