Os argentinos dizem que ainda não sentiram os benefícios do arrefecimento da inflação e os analistas preveem que a sequência de cinco meses poderá terminar quando os números oficiais de junho forem divulgados nesta sexta-feira.
Desde que o presidente Javier Milei assumiu o poder no final do ano passado, a inflação diminuiu drasticamente na Argentina, desacelerando de 25,5% em dezembro para 4,2% em maio.
A queda acentuada foi atribuída a um conjunto de medidas de corte de custos e de austeridade que controlaram a demanda do consumidor, bem como a medidas para reduzir a impressão de dinheiro.
Uma pesquisa da Reuters previu uma mudança de direção para a inflação em junho, com uma estimativa mediana de 5,1%, embora na quinta-feira o ministro da Economia de Milei, Luis Caputo, tenha dito que esperava uma inflação em junho abaixo de 5%.
Para muitos argentinos, a desaceleração não foi suficiente para afastar a dor dos altos preços de serviços públicos, transporte e alimentos em um país onde o salário mínimo mensal de 234.315 pesos (260 dólares) não acompanhou a inflação anual de quase 300%.
“Não acho que (a inflação) ande de mãos dadas com os aumentos salariais e impostos”, disse Gustavo García, um cabeleireiro de 47 anos que estava procurando pechinchas no mercado central de Buenos Aires.
“A inflação cotidiana é muito maior do que 4% ou 5%”, afirmou García, expressando ceticismo sobre como os números oficiais são calculados.
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Milei, um economista de livre mercado, pôs fim ao congelamento de preços do governo peronista anterior em vários serviços públicos e diz que é necessário um remédio fiscal duro para reanimar a economia. A tarifa mínima de ônibus em Buenos Aires aumentou em mais de 400% desde que Milei assumiu o cargo.
No mercado, Isidoro Recalde, de 67 anos, disse que o aumento das tarifas era necessário e apoia o plano do governo.
“O que pagávamos antes era insignificante”, declarou Recalde. “Vamos ser realistas. No dia a dia, as coisas são complicadas, mas temos que seguir em frente.”
O governo argentino celebra seu sucesso em domar a inflação de três dígitos e o incremento das finanças do Estado com os cortes de gastos de Milei.
“Reduzir a inflação significa proteger aqueles que têm menos”, disse o ministro da Economia aos repórteres no início desta semana. “(A inflação) é o pior imposto sobre os pobres”, afirmou Caputo.
Mas a inflação ainda está entre as mais altas do mundo, enquanto a recessão continua a atingir duramente os consumidores e a pobreza se aproxima de 60%.
As pessoas estão sendo duramente pressionadas, com grandes perdas de emprego em setores como o da construção.
“Todos os dias há novos preços, não é que (a inflação) esteja parando”, disse Emilia, uma moradora de 65 anos que também estava fazendo compras e não quis revelar seu sobrenome. “É uma mentira que os preços estão caindo”, acrescentou.