O Bank of America manteve a posição de alocação acima da média do mercado (overweight) sobre as ações brasileiras em setembro, mostra um relatório enviado a clientes nesta quarta-feira (4) e assinado por David Beker.
Segundo ele, pesar da ausência de novos “compradores” no mercado, os fundamentos do Brasil continuam fortes, com avaliações ainda descontadas e as empresas nacionais mostrando sinais de recuperação de lucros.
O banco vê a atual estagnação do Ibovespa (IBOV), após uma forte alta no início de agosto, como reflexo do aumento das taxas de juros de longo prazo, que subiram 70 pontos-base nas últimas semanas. No entanto, o BofA mantém uma perspectiva positiva para o mercado brasileiro, acreditando que o país pode se beneficiar de uma redução global nas taxas de juros.
Não Vale mais
Uma das mudanças mais notáveis no portfólio foi a movimentação da Vale (VALE3) para a categoria de alocação abaixo da média.
Segundo o relatório, a deterioração do cenário econômico chinês e a relutância dos formuladores de políticas na China em implementar medidas de estímulo mais agressivas são os principais fatores por trás dessa decisão. O BofA observa que a demanda por minério de ferro caiu 34% no ano, o que afeta diretamente o desempenho da mineradora.
Olhando para o futuro, o BofA acredita que o Brasil tem uma oportunidade de se destacar no cenário global, especialmente se as taxas de juros nos Estados Unidos e em outros mercados globais começarem a cair. A redução das taxas pode atrair investidores para mercados emergentes, como o Brasil, onde as empresas apresentam avaliações mais atraentes e potencial de crescimento.
Acima do Ibovespa
Um dos setores preferidos pelo BofA é o de consumo discricionário, com uma alocação de 12,5%, bem acima dos 3,6% do Ibovespa. Empresas como Lojas Renner (LREN3), Azzas (AZZA3), Vivara (VIVA3) e MRV (MRVE3) se destacam no relatório, devido à força do consumo local. O banco acredita que o setor de consumo tem potencial de crescimento à medida que a economia se recupera e a confiança dos consumidores aumenta.
O setor industrial também recebe recomendação acima da média, com uma alocação de 14,5%, comparada aos 8,9% do índice. O relatório cita empresas como Rumo (RAIL3), Embraer (EMBR3) e Localiza (RENT3) como destaques, apontando que o aumento dos investimentos em infraestrutura e logística no Brasil favorece essas companhias, além de oportunidades no setor de transporte.
Já no setor financeiro, o BofA aloca 30%, frente aos 25,7% do índice. A análise foca nos grandes bancos e em nomes que se beneficiam da queda das taxas de juros, como BTG Pactual (BPAC11) e B3 (B3SA3). A expectativa é que o ambiente de juros mais baixos impulsione os lucros dessas empresas, à medida que a economia se ajusta a um cenário de crescimento moderado e inflação controlada.
O setor de energia, com destaque para a Petrobras (PETR4), também está overweight, com 17% de exposição no portfólio, ligeiramente acima dos 16,6% do benchmark. O BofA acredita que a estatal pode se beneficiar de uma recuperação dos preços do petróleo e de políticas que favoreçam investimentos no setor de energia.
Setores a evitar
Por outro lado, o relatório coloca o setor de serviços públicos em uma posição de alocação em linha com a média, com 13,5%, próximo dos 13,9% do Ibovespa. Apesar disso, o BofA vê o setor como uma alternativa estável, atuando como um “proxy” de títulos de renda fixa, dada sua correlação com as taxas de juros. As ações são da Sabesp (SBSP3) e Eletrobras (ELET3).
Entre os setores com recomendação abaixo da média (underweight), o destaque vai para bens de consumo básico e materiais.
No primeiro, o BofA aloca 4,5%, contra 8,7% do índice, embora mantenha exposição à JBS (JBSS3) devido ao momentum de ganhos e à avaliação atrativa da empresa. Já no setor de materiais, com destaque para a Vale (VALE3), a recomendação caiu para UW, com 8% de alocação, abaixo dos 15,7% do Ibovespa. A decisão foi motivada pela perspectiva fraca para a demanda de minério de ferro, principalmente devido à desaceleração econômica da China.
Veja as 16 ações recomendadas pelo Bank of America
Nome | Peso | Peso no IBOV | Valor de mercado (US$mn) | 2024 P/L | 2025 P/L |
---|---|---|---|---|---|
Azzas | 4.0% | 0.3% | 1,796 | 10.7 | 9.2 |
Lojas Renner | 4.5% | 0.7% | 2,909 | 12.4 | 10.8 |
Vivara | 4.0% | 0.2% | 1,108 | 14.3 | 11.4 |
JBS | 4.5% | 1.7% | 13,782 | 7.7 | 6.6 |
Petrobras | 17.0% | 12.4% | 95,887 | 4.4 | 4.0 |
Bradesco | 4.0% | 4.6% | 28,129 | 8.5 | 6.9 |
B3 | 6.0% | 3.0% | 12,485 | 14.5 | 13.4 |
Santander Brasil | 3.5% | 0.5% | 20,740 | 8.7 | 7.2 |
Itaú Unibanco | 10.5% | 7.4% | 59,571 | 8.7 | 7.9 |
BTG Pactual | 6.0% | 2.1% | 24,212 | 10.8 | 9.4 |
Localiza | 4.5% | 1.8% | 7,872 | 27.9 | 11.1 |
Embraer | 5.0% | 1.5% | 6,151 | 21.4 | 18.0 |
Rumo | 5.0% | 1.2% | 7,195 | NM | 15.9 |
Vale | 8.0% | 10.9% | 48,009 | 5.0 | 7.4 |
Sabesp | 5.5% | 2.9% | 11,495 | 15.7 | 15.1 |
Eletrobras | 8.0% | 3.9% | 17,319 | 23.9 | 49.9 |