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As 3 surpresas da decisão “passivo-agressiva” sobre a Selic

O índice EWZ, que lista papéis brasileiros negociados nos EUA, subiu 1,3% no pós-mercado já em reação à decisão de política monetária

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Roberto Campos Neto

Banco Central surpreendeu o mercado financeiro e iniciou o seu ciclo de cortes na Selic em 0,5 ponto percentual nesta quarta-feira (2), levando-a para 13,25%, exatamente um ano após a última elevação do juro, que aconteceu com a mesma dose.

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Além da novidade inesperada sobre o ritmo da redução, o comunicado do Copom (Comitê de Política Monetária) contou com outros trechos que esquentaram os debates entre os economistas e investidores.

Confira, abaixo, os três principais pontos:

Divisão interna

A falta de consenso na decisão do Copom, com o placar de cinco membros favoráveis ao corte de 0,5 e de quatro para uma redução de 0,25, também chamou a atenção dos economistas.

“A deliberação dos diretores não foi de forma unânime, destoando da nossa expectativa e de boa parte do mercado. Os dois novos membros do Comitê, Gabriel Galípolo e Ailton de Aquino Santos, votaram pela queda de 0,5 p.p., como já era esperado. Além deles, foram a favor da decisão o presidente do BC, Roberto Campos Neto, Carolina de Assis Barros e Otávio Ribeiro Damaso”, opinaram Alexandre Espirito Santo e Eduarda Schmidt, economistas da Órama Investimentos.

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Mas a maior surpresa foi a participação do presidente do BC, Roberto Campos Neto, no grupo que votou por uma flexibilização maior e que inclui Gabriel Galípolo, indicado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para fazer uma “ponte” do executivo com o BC.

Passivo-agressivo

Rachel de Sá, economista da Rico Investimentos, entende que o Banco Central, ao cortar mais do que o esperado, tentou deixar claro que isso não resultaria em uma aceleração adicional.

Em seu comunicado, esta postura “passivo-agressiva” aparece no trecho em que o Copom tenta deixar claro que avaliação da alternativa de 0,25 ponto mostra uma postura “dura” em sua decisão “frouxa” de acelerar o corte inicial amparado na melhora do quadro inflacionário “reforçando, no entanto, o firime objetivo de manter uma política monetária contracionista”.

“Eles tentaram de alguma forma ancorar o mercado para não esperar novas acelerações no corte da Selic de forma muito iminente”, destaca Danilo Passos, economista da gestora WHG. Segundo ele, foi “uma surpresa dovish (postura favorável aos cortes) com um comunicado hawkish (duro com a flexibilização)”.

Parte do mercado já precificava uma queda maior da Selic, mas a curva de juros deve ainda fechar um pouco dos juros no futuro no curto prazo, com parte dos investidores vão inclusive “não comprar” esta redução de meio para a próxima reunião e imaginar uma redução mais forte.

“Agora resta saber como o mercado vai reagir. Se o mercado vai colocar no preço exatamente essa sinalização de 0,50 ou vai testar ritmos mais fortes de baixa”, avalia Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos.

E o fiscal?

Os economistas também observaram a decisão do Copom de suprimir qualquer menção ao quadro fiscal do Brasil, que foi retirado da lista de riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação.

Em junho, o comitê via “alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco”.

Agora, explicam David Beker e Natacha Perez, economistas do Bank of America, “a mensagem reforçou o objetivo de manter uma postura monetária contracionista para buscar uma âncora de expectativas de inflação no horizonte relevante de 2024 e 2025 – em menor grau”.

Segundo eles, contudo, esse reforço da palavra “contracionista”, combinado com a votação dividida e a menção do próximo corte de ritmo em 0,5, parece uma tentativa de suprimir as expectativas de uma aceleração do ritmo à frente.

Em expectativa à decisão, o Ibovespa fechou em queda de 0,43%, a 120.725,92 pontos. O índice EWZ, que lista papéis brasileiros negociados nos EUA, subiu 1,3% no pós-mercado já em reação à decisão de política monetária.

A ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de hoje com as justificativas para a decisão será conhecida na próxima terça-feira (8), às 8h.

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