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Azul: Por que a Fitch e a S&P cortaram o rating?

A perspectiva negativa atribuída ao rating pela S&P reflete a visão de que, uma vez concluída a operação de troca de dívida, a agência poderá rebaixar o rating da Azul para default seletivo, o mesmo que calote

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Azul

As agências de classificação de risco Fitch Ratings e Standard & Poor’s rebaixaram os ratings de crédito da companhia aérea Azul (AZUL4), em resposta a medidas financeiras e de reestruturação que a empresa vem implementando para enfrentar uma situação financeira delicada. A Fitch rebaixou o rating da Azul de “CCC” para “CC”, enquanto a S&P fez um movimento similar, diminuindo o rating de “CCC+” para “CC”, e manteve a perspectiva negativa, indicando a possibilidade de novo rebaixamento.

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O rebaixamento está relacionado ao recente acordo de reestruturação financeira da Azul, que inclui um plano de refinanciamento abrangente com credores e fornecedores.

A empresa anunciou que obteve apoio de mais de dois terços dos detentores de notas de dívida com vencimento entre 2028 e 2030 para uma oferta de troca de dívida e solicitação de consentimento, que, segundo a Fitch, caracteriza uma “troca de dívida problemática” (DDE, na sigla em inglês). Esse tipo de transação indica que a empresa busca evitar o calote por meio de concessões de credores, mesmo que a troca não inclua, de imediato, um corte nominal da dívida.

A S&P Global destaca que a operação prevê a introdução de um financiamento prioritário, com garantias, no valor de até US$ 500 milhões, sendo uma primeira parcela de US$ 150 milhões até 1º de novembro de 2024, e outros US$ 250 milhões previstos até o final do ano.

Esse montante seria utilizado para apoiar a queima de caixa da Azul e cobrir condições exigidas por acordos já estabelecidos com credores e fornecedores. Além disso, o acordo prevê a emissão de ações preferenciais da Azul em troca de aproximadamente R$ 3,1 bilhões em dívidas, em uma tentativa de reduzir a pressão financeira e melhorar o fluxo de caixa nos próximos 18 meses.

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Desafios financeiros

A Fitch ressalta que a Azul enfrenta desafios financeiros significativos, incluindo pressões de fluxo de caixa, custos elevados de arrendamento e manutenção, além de impacto do câmbio e dos efeitos climáticos, como as enchentes no Rio Grande do Sul, que resultaram em uma perda de receita de aproximadamente 10%.

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A agência estima que a Azul não gerará fluxo de caixa livre suficiente para cobrir essas obrigações sem o financiamento adicional. Em 30 de junho de 2024, a Azul possuía aproximadamente R$ 1,5 bilhão em caixa disponível, insuficiente para cobrir os R$ 6 bilhões em compromissos de curto prazo, incluindo R$ 1,5 bilhão em dívida financeira e R$ 4,5 bilhões em arrendamentos.

Evento de calote

A perspectiva negativa atribuída ao rating pela S&P reflete a visão de que, uma vez concluída a operação de troca de dívida, a agência poderá rebaixar o rating da Azul para “SD” (default seletivo). Isso indica que, embora a empresa possa cumprir certas obrigações, a reestruturação resulta em termos menos vantajosos para os credores, caracterizando um evento de default para as dívidas envolvidas na troca.

A S&P também aponta que, após o término do processo, os termos de conversão das notas de dívida 2029 e 2030 para ações poderão resultar em um valor final para credores, inferior ao originalmente prometido.

A Azul, fundada em 2008, ocupa posição de destaque no mercado de aviação regional brasileiro, com operações em aproximadamente 160 destinos domésticos e cerca de 1.000 voos diários. No entanto, sua base de capital e posição financeira são mais vulneráveis em comparação a concorrentes regionais, como a LATAM Airlines e a Avianca. A Fitch pontua que o nível de endividamento da Azul, somado às pressões de liquidez e alta dependência de rotas domésticas, contribuiu para a necessidade de reestruturação e financiamentos adicionais.

A decisão das agências reflete a expectativa de que a Azul enfrenta riscos elevados de refinanciamento e uma situação de fluxo de caixa bastante pressionada, o que exige a obtenção de recursos adicionais para honrar compromissos financeiros e de arrendamento. A Fitch estima que o EBITDA da Azul no segundo semestre de 2024 deverá ficar entre R$ 3,3 bilhões e R$ 3,6 bilhões, enquanto os custos de arrendamento, juros e investimentos podem totalizar R$ 4,1 bilhões.

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