O Bank of America encerra o ano com uma visão positiva para os ativos brasileiros em 2024, estimando o Ibovespa (IBOV) em 145 mil pontos no final do próximo ano e a taxa de câmbio a 4,75 reais por dólar, em meio à expectativa de um mundo com juros menores e percepção de melhora no quadro macroeconômico do país.
De acordo com David Beker, chefe de economia no Brasil e estratégia para América Latina do banco, há uma falta de sincronia em termos de direções das economias quanto a crescimento, mas a desaceleração da inflação está acontecendo de forma uniforme e com ela o declínio dos juros.
No caso do banco central dos Estados Unidos, principal referência dos mercados, o BofA trabalha com um primeiro corte na taxa básica em junho, mas enxerga um risco de esse movimento ocorrer em março. E se o Federal Reserve reduz os juros, citou Beker, isso beneficia ativos de risco e emergentes.
Ele também reforçou sua preferência por ativos brasileiros a moeda e bolsa mexicanas, avaliando que 2024 será um ano mais complicado para o México, dada as eleições no país, bem como a perspectiva de desaceleração da economia norte-americana, mesmo que sua previsão seja de um “soft landing” nos EUA.
Beker acrescentou ainda que investidores externos estão bastante alocados em ativos mexicanos – “foi o call de consenso” do ano -, diferente do posicionamento em Brasil.
Em relação ao cenário doméstico, ele destacou que 2023 termina bem melhor do que apontavam os prognósticos no mercado no começo do ano, quando havia muita incerteza em torno de questões como a meta de inflação, implementação de um arcabouço fiscal e medidas de receita.
De acordo com Beker, o país esta encerrando do ano com um crescimento de PIB acima do esperado, sem mudança na meta de inflação, o que permitiu ao Banco Central dar início ao ciclo de corte da taxa Selic, e com um arcabouço fiscal, além de várias medidas aprovadas no Congresso.
Para 2024, o BofA trabalha com uma expansão de 2,2% para o Produto Interno Bruto (PIB) e alta de 3,7% na inflação medida pelo IPCA. Para a Selic, vê manutenção dos cortes de 0,50 ponto percentual, com a taxa chegando a 9,5% ao ano em julho e permanecendo assim até o final do ano.
“Nossa visão para 2024 é positiva. Tem riscos? Tem. Mas o Brasil em termos relativos está bem”, afirmou o chefe de economia no Brasil do BofA em conversa com jornalistas em São Paulo nesta sexta-feira.
Beker ressaltou que o quadro fiscal do país continua sendo um problema estrutural do Brasil, e que deve continuar no foco dos investidores. Mas ponderou que o país entregou mais nesse quesito do que o mercado esperava. “Sempre pode melhorar, mas o que foi entregue é bastante razoável”, afirmou.
Isso contudo não será suficiente para que o governo cumpra a sua meta de superávit primário zero em 2024, na visão dele, que prevê um déficit fiscal de 0,4%.
Ainda assim, a equipe do BofA avalia que essa melhora no desempenho fiscal ajudará a reduzir os prêmios de risco no câmbio e na renda fixa, ambos “significativamente subvalorizados quando comparados com os seus pares regionais”. No caso do câmbio, o dólar era cotado em torno de 4,93 reais nesta sessão.
No caso da renda variável, os analistas do BofA afirmam acreditar que uma conjuntura de melhoria do consumo interno, juros mais baixos, “valuations” pressionadas e preços fortes do minério de ferro e do petróleo criam vantagens para o mercado. Nesta sexta-feira, o Ibovespa renovou máxima histórica intradia a 131.661,25 pontos.
“Gostamos de minério de ferro, petróleo e nomes sensíveis a juros no setor financeiro, consumo selecionado, transporte e serviços públicos”, escreveram em relatório, ressaltando, contudo, que a reforma tributária é um risco relevante para os resultados das empresas.
Para Beker, se o cenário macro aguardado pelo BofA se comprovar, o mercado de IPOs deve reabrir no próximo ano, após um 2023 “light” no mercado de capitais, quando nenhuma oferta inicial de ações ocorreu, apenas follow-ons.
O estrategista também revelou que, em conversas do banco com investidores estrangeiros, eles têm se mostrado bastante construtivos com o Brasil. E que a depender do cenário externo e de desdobramentos na cena local, particularmente o movimento da Selic, o fluxo de investidores locais para a bolsa paulista “pode acordar”.
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