Uma análise recente publicada pelo National Bureau of Economic Research (NBER) apresenta um modelo inovador para a política monetária: a adoção de metas para o índice de condições financeiras (FCI) como alternativa ao tradicional controle baseado em taxas de juros e da economia. Assinado pelos economistas Ricardo J. Caballero e Tomás E. Caravello, do MIT, e Alp Simsek, da Universidade de Yale, o estudo argumenta que o foco nas condições financeiras pode oferecer maior estabilidade à economia.
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A proposta dos autores inclui o uso de metas temporárias e flexíveis para o FCI, um indicador que engloba variáveis como preços de ativos e taxas de câmbio. Segundo o estudo, essa abordagem reduz a volatilidade do índice em até 55% e melhora a estabilidade do hiato do produto e da inflação. “Essa política recruta arbitradores para absorver choques financeiros ruidosos, diminuindo os impactos negativos sobre a economia”, apontam os economistas.
Os resultados sugerem que o direcionamento do FCI é superior às estratégias de orientação futura de taxas de juros, pois permite reações mais eficazes a choques financeiros. O modelo também mostra que essa abordagem pode reduzir a variância do hiato do produto em até 36%, enquanto limita os impactos de choques ruidosos sobre os preços dos ativos.
Apesar dos benefícios, os autores destacam um trade-off: a redução da volatilidade do FCI pode implicar menor flexibilidade na resposta a choques macroeconômicos. Contudo, afirmam que “esse sacrifício é compensado pelos ganhos na estabilidade econômica geral”. É uma dica para o Banco Central do Brasil, cuja influência da Selic para a economia é questionada quando atinge níveis muito elevados. A expectativa é de que o juro no País alcance até 15% em 2025.
Como controlar a economia com o FCI?
• Política monetária deve focar no FCI: Segundo o estudo, “é ótimo que os bancos centrais estabilizem parcialmente as condições financeiras, mesmo que isso não seja um objetivo social direto.”
• Impactos do ruído financeiro: O estudo revelou que até 55% da variância das condições financeiras nos EUA é causada por ruídos financeiros, os quais também explicam até 50% das variações no hiato do produto.
• Redução da volatilidade econômica: O direcionamento do FCI reduz em até 36% a variância do hiato do produto e em 2% a da inflação, enquanto a volatilidade das taxas de juros cai 6%.
• Recrutamento de arbitradores: A política “recruta” investidores sofisticados, que passam a atuar contra choques de ruído, reduzindo a elasticidade dos preços dos ativos aos fluxos financeiros desordenados.
• Comparação com orientação futura: Metas para o FCI superam a orientação futura de taxas de juros. “Essa abordagem permite ao banco central reagir mais rapidamente a choques financeiros”, afirmam os autores.
• Modelo baseado em dados históricos: Utilizando contrafactuais e dados dos EUA, os pesquisadores demonstraram que a política teria reduzido significativamente as flutuações econômicas nas últimas décadas.
• Simplicidade de implementação: “O direcionamento do FCI não requer que o banco central identifique, em tempo real, se os preços dos ativos são impulsionados por fundamentos ou ruído”, explicam os economistas.
• Ampliação da resiliência econômica: A política estabiliza não apenas os ativos, mas também reduz flutuações macroeconômicas, criando um ambiente econômico mais previsível.
• Viabilidade prática: Os autores defendem que, com pequenas alterações no regime atual, os bancos centrais poderiam adotar o direcionamento do FCI sem grandes obstáculos operacionais.
• Novo paradigma para bancos centrais: A proposta representa uma mudança de paradigma, ampliando a eficácia das políticas monetárias em um cenário financeiro cada vez mais complexo.