O rápido crescimento dos salários na zona do euro pode manter a inflação elevada por mais tempo e o Banco Central Europeu (BCE) deve manter os juros nos níveis recordes ou próximos disso até o próximo ano para extinguir as pressões sobre os preços, disse o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta quarta-feira.
O BCE interrompeu uma série de dez aumentos consecutivos dos juros no mês passado, fomentando as expectativas do mercado de que seu próximo passo será um corte, possivelmente já em abril, com um total de 90 pontos-base de reduções precificadas até o final do próximo ano.
Rejeitando as apostas de cortes antecipados, Alfred Kammer, chefe do Departamento Europeu do FMI, argumentou que a taxa de depósito do BCE deve permanecer próxima ao seu nível recorde de 4% durante todo o próximo ano.
“A política monetária está adequadamente apertada e precisa continuar assim em 2024”, disse Kammer em uma coletiva de imprensa. “Para todos os efeitos, (a taxa de depósito) deve ser mantida nesse nível ou próxima a esse nível ao longo de 2024.”
Kammer alertou o BCE para que não reduza os juros muito cedo, pois isso exigiria um aperto ainda mais oneroso da política posteriormente.
“É menos custoso ser muito restritivo do que ser muito frouxo”, disse Kammer. “O que também queremos evitar são as comemorações prematuras.”
A inflação disparou para mais de 10% na zona do euro há um ano, mas tem se mantido em uma trajetória de queda constante desde então, mesmo que a “última milha” da desinflação seja considerada a mais difícil e ainda possa levar dois anos para passar de cerca de 3% para 2%.
Embora o FMI veja o crescimento dos preços de volta à meta em 2025, um mercado de trabalho excepcionalmente apertado poderia adiar essa data para 2026, advertiu.
Os salários reais também têm algum caminho a percorrer para acompanhar a inflação, o que também poderia manter a pressão sobre os preços, disse o FMI.
“Os riscos permanecem inclinados para uma inflação mais persistente”, disse o FMI em um relatório. “Sob hipóteses adversas, isso poderia atrasar o alcance das metas de inflação até 2026.”
Kammer acrescentou que o conflito em Gaza tem elevado os custos globais de energia, o que cria mais riscos de alta para os preços.