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Será que o besteirol corporativo tem limites? Parece que não!

por Plataforma Brasil
3 min leitura
Será que o besteirol corporativo tem limites? Parece que não!

Por Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial.

Finclass Vitalício Quadrado

Caro leitor, começo o texto de hoje com um relato pessoal. Nesta semana, enquanto me preparava para o texto que iria escrever e me dando conta da escassez de ideias e de um certo bloqueio criativo, eis que sou salvo por uma singela parada na banca de jornal.

Lá, lendo desinteressadamente a capa de uma revista de negócios de grande circulação, me deparo com o rufar de tambores anunciando a mais recente modinha corporativa: “a empresa sem chefe”. Bingo, minha criatividade voltou na hora.

Como já afirmei em artigos anteriores, se há dois setores absolutamente sem limites na nossa vida produtiva cotidiana, estes são o governo (com a sua sanha arrecadatória e a sua tara por carimbos e confirmações cartoriais) e o setor corporativo (com suas invenções cosméticas em sua eterna busca pelo “Mundo de Alice”).

Fico aqui imaginando a cena. O jovem (ou velho) recém-contratado, adentrando no ambiente moderninho (de uma empresa que afirma gloriosamente não ter chefes) repleto de almofadas coloridas pelo chão e mesinhas de jogos. Ao redor, panfletos com afirmações politicamente corretas e fichas de adesão para trabalhos voluntários.

No primeiro encontro com um dos sócios (ah, que não é chefe de ninguém ali, deixemos bem claro), escuta dele “Eu não mando em ninguém aqui, sou apenas um amigo e mentor”, seguido de “a propósito, você tem duas semanas para largar esse visual careta e saiba que se não bater a meta do trimestre estará fora. Ah, não gostei muito dos seus últimos posts nas redes sociais, me pereceram muito reacionários, reveja seus conceitos”. Mas o ambiente é de absoluta liberdade – e sem chefes – é claro.

Finclass Vitalício Quadrado

Estereótipos e ironias a parte (afinal de contas, estamos no campo das anedotas), o fato é que a piada anda saindo caro demais. Essa narrativa cosmética que tomou conta de grande parcela do ambiente de negócios, envergonhada em viver o capitalismo da forma como ele é, vem alienando gerações e gerações.

Falo de gente capaz, competente e bem formada, que acaba desperdiçando a energia e o empenho necessários para edificar e viver o mínimo de um capitalismo moderno. Pior, pouco a pouco a nossa comunidade produtiva vem sendo cada vez menos levada a sério, a não ser na hora da arrecadação de campanha, naturalmente. E quando falo do capitalismo, não estou afirmando que o dito cujo não necessite passar por ajustes e reformas.

A prova de como somos desconsiderados pode ser constatada nas propostas dos principais candidatos à disputa presidencial. Notem que nada ali aborda de forma concreta, crível ou convincente o universo produtivo das pequenas e médias empresas e nem mesmo das grandes (o alto empresariado anda bastante decepcionado com o que vem escutando).

Para exemplificar, nenhuma letra, além das platitudes de sempre sobre a massacrante burocracia que vivenciamos no dia-dia ou sobre a insegurança jurídica (sobre reformas na lei trabalhista então, nem pensar), três bastiões essenciais para a manutenção do nosso atraso microeconômico com reflexos diretos na conjuntura macroeconômica.

Contudo, ataques velados ou diretos não faltam, como no caso das críticas obsessivas ao agronegócio, sem o qual provavelmente nenhum “Pibinho” existiria.

É isso meu amigo, enquanto perdemos tempo com a estética corporativa, reforçamos o estigma de subservientes contentes que já paira sobre nossas cabeças, mantendo enjaulado o mitológico “espírito animal do empresariado”. E com isso deixamos de ser e de construir tudo aquilo que poderíamos.

E não há no mundo experiência de maior transformação social e proliferação de oportunidades do que aquela experimentada em uma dinâmica econômica arejada, livre, descomplicada, contudo ordenada por regras claras e rígidas, focadas nos resultados.

Essas conquistas não são fruto de ilusionismos infantis ou de modelos de negócio românticos, mas de uma classe produtiva exigente, incomodada, engajada e ativa. Toda essa reflexão surgiu porque alguém falou em “empresa sem chefe”, veja você. Qual será a próxima moda? Enquanto isso, trabalhemos. Muito. Até o próximo.

Foto “Business associates”, Shutterstock.

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