Quando o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chegar ao Capitólio nesta terça-feira para homenagear 6 milhões de judeus mortos há oito décadas no Holocausto, sua mensagem será tanto sobre o presente quanto o passado.
Biden falará sobre as ameaças existenciais enfrentadas pelo povo judeu sete meses depois que o grupo militante palestino Hamas atacou Israel em 7 de outubro, matando 1.200 pessoas, segundo os registros israelenses, no que o presidente tem chamado de o dia mais mortal para os judeus desde o Holocausto.
Seu discurso ocorre no momento em que a retaliação de Israel em Gaza já matou cerca de 35.000 pessoas, de acordo com autoridades de saúde do enclave, deixou muitos dos 2,3 milhões de palestinos da região à beira da fome e provocou protestos nos EUA exigindo que universidades e o governo de Biden retirem o apoio a Israel.
Na segunda-feira, Israel prometeu avançar com uma ofensiva contra Rafah, no sul de Gaza, que ameaça desencadear novas dificuldades para os palestinos.
Ao falar no Capitólio, em um discurso de abertura para a Comemoração Nacional Anual dos Dias de Lembrança do Museu Memorial do Holocausto dos EUA, Biden terá como objetivo esfriar um debate cada vez mais divisivo nos EUA sobre segurança judaica, sionismo, liberdade de expressão e apoio aos israelenses, no país com a maior população judaica depois de Israel.
Muitos judeus norte-americanos têm criticado os ataques israelenses em Gaza, liderando protestos contra as ações do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e condenando o premiê no Congresso.
Enquanto isso, grupos de defesa relatam um aumento acentuado de ataques antissemitas nos EUA desde 7 de outubro, bem como de ataques antimuçulmanos.
Alguns norte-americanos são a favor de políticas de tolerância zero que definam o antissemitismo de forma ampla, outros veem a ameaça de ataques contra judeus sendo usada para limitar críticas legítimas ao apoio dos EUA a Israel.
Biden, que na maioria das vezes tem evitado falar sobre as manifestações nas universidades ou os protestos sobre seu apoio a Israel que o têm perseguido durante meses, falará sobre o assunto pela segunda vez em cinco dias nesta terça-feira.
Ele condenará o aumento do antissemitismo e, ao mesmo tempo, afirmará seu apoio à liberdade de expressão, disse sua porta-voz Karine Jean-Pierre aos repórteres na segunda-feira.
É também um momento político importante para Biden, que está em uma disputa acirrada com o rival republicano Donald Trump.
O presidente pode estar perdendo o apoio crucial de democratas jovens por conta de seu apoio a Israel, dizem membros de seu partido.
Biden se comprometeu a unir o país e disse que foi inspirado a concorrer para a Presidência em 2020 pela resposta de Trump ao comício extremista em Charlottesville, na Virgínia, em 2017, onde os manifestantes gritaram “os judeus não nos substituirão”.
Trump, por outro lado, tem procurado explorar as divisões entre democratas sobre a resposta de Israel e a ampliação dos protestos nas universidades para melhorar seu apoio com eleitores judeus, que tradicionalmente votam nos democratas.
O ex-presidente e o Partido Republicano têm argumentado que os protestos são motivados pelo antissemitismo e que Biden não tem conseguido proteger os estudantes judeus no campus.