O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse nesta terça-feira que Israel está perdendo apoio por causa de seu bombardeio “indiscriminado” contra Gaza e que Benjamin Netanyahu deveria mudar seu governo linha-dura, expondo uma nova fissura nas relações com o primeiro-ministro israelense.
Os comentários de Biden, feitos a doadores para sua campanha de reeleição em 2024, foram os mais críticos até o momento em relação à forma como Netanyahu tem lidado com a guerra de Israel em Gaza.
São um forte contraste com seu abraço literal e político ao líder israelense dias depois do ataque dos militantes do Hamas ao sul de Israel, em 7 de outubro.
“A segurança de Israel pode depender dos Estados Unidos, mas neste momento o país tem mais do que os Estados Unidos. Tem a União Europeia, tem a Europa, tem a maior parte do mundo… Mas eles estão começando a perder esse apoio devido aos bombardeios indiscriminados que estão ocorrendo”, disse Biden.
A retaliação de Israel aos ataques do Hamas causou a morte de 18.000 pessoas, segundo autoridades de Gaza, feriu 50.000 e criou uma crise humanitária.
Os comentários de Biden são mais um episódio nas suas francas conversas privadas com Netanyahu, com quem ele tem profundas divergências há décadas.
Biden fez alusão a uma conversa particular em que o líder israelense disse: “Vocês bombardearam a Alemanha, jogaram a bomba atômica, muitos civis morreram”.
Biden disse que respondeu: “Sim, é por isso que todas essas instituições foram criadas após a Segunda Guerra Mundial para garantir que isso não acontecesse novamente… não cometam os mesmos erros que cometemos no 11/9. Não havia razão para estarmos em uma guerra no Afeganistão”.
Biden, que costuma falar de improviso em seus eventos de arrecadação de fundos, discursou em um hotel de Washington para um grupo de cerca de cem pessoas, incluindo vários participantes judeus.
Os comentários incisivos foram feitos num momento em que o assessor de segurança nacional de Biden, Jake Sullivan, se prepara para viajar a Israel para conversar com o gabinete de guerra israelense.
Netanyahu disse em um comunicado nesta terça-feira que Israel recebeu “total apoio” dos EUA para sua incursão terrestre em Gaza e que Washington tem bloqueado “a pressão internacional para interromper a guerra”.
Mas ele acrescentou: “Há discordância sobre ‘o dia seguinte ao Hamas’ e espero que cheguemos a um acordo aqui também”.
No evento de arrecadação de fundos, Biden mencionou especificamente o político de extrema-direita israelense Itamar Ben-Gvir, que é ministro da Segurança Nacional de Israel, e disse que “este é o governo mais conservador da história de Israel”.
“Ele (Netanyahu) tem que mudar esse governo. Este governo em Israel está tornando tudo muito difícil”, disse Biden.
Ele também disse que, em última análise, Israel “não pode dizer não” a um Estado palestino, ao qual a linha dura israelense se opõe.
Biden disse: “Temos uma oportunidade de começar a unir a região… e eles ainda querem fazer isso. Mas temos que nos certificar de que Bibi (Netanyahu) entenda que ele precisa tomar algumas medidas para se fortalecer… Você não pode dizer que não há Estado palestino… Essa será a parte mais difícil”.
Netanyahu também disse em sua declaração desta terça que “não permitiria que Israel repetisse o erro de Oslo”, os acordos de paz da década de 1990 que criaram a Autoridade Palestina como parte das negociações para a criação de um possível Estado palestino na Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental.
Washington tem dito que prevê um eventual retorno da Autoridade Palestina a Gaza, que o Hamas tomou do órgão sediado na Cisjordânia em 2007.
“Não permitirei a entrada em Gaza daqueles que educam o terrorismo, apoiam o terrorismo e financiam o terrorismo”, disse Netanyahu. A Autoridade Palestina nega essas alegações.
Biden tem expressado forte apoio à operação militar de Israel contra os militantes do Hamas em Gaza, mas ele e sua equipe têm expressado preocupação crescente com a morte de civis palestinos.