A maior gestora de recursos do mundo, a BlackRock, publicou nesta segunda-feira (7) uma análise profunda sobre as mudanças no cenário dos investimentos e dos mercados globais, destacando que as decisões de alocação de capital agora são orientadas pela demanda, em vez de seguirem os ciclos econômicos tradicionais.
O texto, assinado por Jean Boivin, chefe do Instituto de Investimentos, propõe que, diante de mercados voláteis, os investidores precisam de uma âncora sólida para suas estratégias, e essa âncora é uma visão fundamentada em um mundo moldado por restrições de oferta.
De acordo com Boivin, o cenário econômico atual está longe de seguir o que seria esperado em um ciclo econômico típico.
Ele destaca que, embora a inflação nos Estados Unidos tenha começado a esfriar, impulsionando expectativas de cortes nas taxas de juros, o quadro macroeconômico continua sendo moldado por restrições de oferta.
Narrativas dos mercados
Os mercados globais passaram por grandes oscilações ao longo deste ano, influenciados por narrativas contrastantes. Em um primeiro momento, o entusiasmo com a inteligência artificial (IA) impulsionou os mercados, seguido por preocupações sobre os gastos excessivos das grandes empresas de tecnologia.
Mais recentemente, surgiram temores de recessão devido a um aumento na taxa de desemprego nos Estados Unidos, que, segundo Boivin, foi impulsionado pela imigração, e não por demissões massivas. “Dissemos que os receios de recessão e os cortes de preços eram exagerados”, afirmou.
Essa divergência demográfica é apontada como uma das “cinco mega forças” que continuarão a alimentar pressões inflacionárias no longo prazo, aumentando a incerteza macroeconômica.
No entanto, Boivin acredita que o cenário de curto prazo apresenta motivos para se manter otimista em relação ao risco. A desaceleração da inflação permitiu que o Federal Reserve aliviasse sua política monetária, e o crescimento econômico dos EUA se mantém resiliente, o que favorece a manutenção de posições de risco, particularmente no mercado de ações norte-americano.
Recomendações
A BlackRock mantém uma recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para ações dos EUA no horizonte de seis a 12 meses. Isso se deve, em parte, à expectativa de um crescimento robusto dos lucros corporativos, não apenas no setor de tecnologia, mas também em outros segmentos do mercado. De acordo com dados da LSEG Datastream, os analistas esperam um crescimento de 20% nos lucros do setor de tecnologia e um sólido crescimento de 8% para o restante do mercado nos próximos 12 meses.
Embora o tema da inteligência artificial ainda tenha potencial de crescimento, Boivin reconhece que os investidores estão questionando o volume de capital alocado pelas grandes empresas de tecnologia para essa área. Por isso, a BlackRock ampliou sua exposição ao tema da IA para incluir setores como energia, utilidades, imóveis e indústrias, que desempenham um papel crucial na construção da infraestrutura necessária para suportar o avanço da IA.
No que diz respeito aos mercados asiáticos, Boivin destaca que a gestora aumentou sua exposição a ações chinesas após sinais do Politburo em setembro de que um grande estímulo fiscal poderia estar a caminho. No entanto, ele alerta que, apesar dessas medidas de curto prazo, os desafios estruturais de longo prazo da China continuam preocupantes. Já no Japão, a BlackRock reduziu sua exposição devido ao impacto de um iene mais forte sobre os lucros das empresas e sinais mistos vindos do Banco do Japão.
A análise também aborda os riscos geopolíticos crescentes, citando o recente conflito entre Israel e Irã. Embora o impacto de mercado tenha sido limitado até agora, Boivin adverte que uma escalada no conflito pode aumentar a volatilidade dos mercados globais.
Proteção
Para os investidores que buscam proteção contra a volatilidade dos ativos de risco, a BlackRock recomenda a preferência por ativos de qualidade e títulos com maior retorno.
Na Europa, a gestora está apostando em crédito de curto prazo e títulos governamentais, cujos rendimentos estão mais alinhados com as expectativas de política monetária do que nos EUA. Já no mercado norte-americano, Boivin sugere a alocação em títulos de médio prazo, à medida que o mercado precifica cortes profundos nas taxas de juros pelo Federal Reserve.
A BlackRock também vê oportunidades estratégicas em classes de ativos como ações de infraestrutura e crédito privado, que devem se beneficiar das “mega forças” mencionadas anteriormente. No entanto, Boivin ressalta que os mercados privados são complexos e envolvem riscos elevados, o que os torna inadequados para todos os perfis de investidores.