A gestora BlackRock destaca que o atual momento de grandes investimentos em IA (Inteligência Artificial) exige paciência e visão de longo prazo, mostra um documento enviado a clientes nesta semana.
Segundo os estrategistas Jean Boivin, Beata Harasim e Carolina Martinez Arevalo, enquanto muitos investidores expressam preocupações sobre o gasto excessivo das empresas de tecnologia, a BlackRock mantém uma alocação acima da média no setor.
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Segundo a gestora, o investimento em IA pode ser comparado ao capital destinado a inovações tecnológicas anteriores, como a computação em nuvem.
Entretanto, há um descompasso entre a visão de curto prazo de alguns investidores e a estratégia de longo prazo das empresas de tecnologia, principalmente aquelas que atuam na prestação de serviços de nuvem. Esse desalinhamento tem gerado apreensão no mercado, especialmente porque os investidores temem que os gastos crescentes com IA possam não ser a melhor utilização dos recursos das empresas.
As ações da Nvidia (NVDA; NVDC34), por exemplo, recuaram 10% na terça-feira (3).
Resultados só no longo prazo
A BlackRock, no entanto, enfatiza que muitas dessas iniciativas, como a construção de novos centros de dados e o aumento exponencial da capacidade de processamento, levarão anos para serem concluídas. Portanto, é provável que os resultados financeiros plenos desses investimentos em IA só sejam percebidos em um horizonte de longo prazo. Apesar disso, algumas empresas de tecnologia já começaram a reportar aumento nas receitas com o lançamento de produtos relacionados à IA.
Um exemplo desse movimento é a Nvidia, que viu suas receitas no segundo trimestre de 2024 dobrarem em relação ao ano anterior. Mais da metade delas foram provenientes de setores fora da tecnologia, o que sinaliza o potencial de crescimento da IA em outras áreas da economia. A BlackRock acredita que o investimento em IA pode gerar ondas de transformação movidas por forças estruturais.
Para sustentar seu otimismo em relação à IA, a BlackRock acompanha uma série de indicadores.
Os 3 indicadores da BlackRock
O primeiro deles é o crescimento das receitas das principais empresas do setor, especialmente à medida que cada temporada de resultados é divulgada. Em segundo lugar, a gestora avalia a adoção ainda incipiente da IA fora do setor de tecnologia. E, por fim, monitora qualquer possível desaceleração no crescimento econômico dos Estados Unidos, o que poderia fazer com que as grandes empresas de tecnologia reduzissem seus investimentos.
A análise da BlackRock é estruturada em três fases.
A primeira, atualmente em curso, é a fase de construção, na qual as grandes empresas de tecnologia estão correndo para investir em centros de dados e infraestrutura de IA. Entre os vencedores dessa etapa estão as empresas que fazem altos investimentos e os fabricantes de chips, como a Nvidia. Além disso, há oportunidades para empresas fornecedoras de insumos fundamentais, como energia, utilidades e imóveis, que serão essenciais para essa expansão.
Na segunda fase, a expectativa é que a adoção da IA se expanda para além do setor de tecnologia, atingindo áreas como saúde e finanças. Essa disseminação abrirá novas oportunidades de crescimento, à medida que a IA começa a ser implementada em uma gama mais ampla de indústrias, impactando profundamente suas operações e modelos de negócios. A BlackRock prevê que essa fase poderá ser marcada por um aumento significativo da demanda por serviços e produtos relacionados à IA em setores até então não explorados.
A terceira fase projetada pela gestora está relacionada aos ganhos de produtividade que a IA pode proporcionar em toda a economia. No entanto, a magnitude e o impacto desses ganhos ainda são incertos. A BlackRock ressalta que será necessário acompanhar de perto a evolução dessa fase, pois os benefícios da IA para a produtividade poderão variar consideravelmente entre os diferentes setores e países.
Embora muitos investidores tenham reduzido suas posições no setor de tecnologia nos últimos meses, a BlackRock vê espaço para reconstruir essas participações, especialmente com base no crescimento potencial do setor de IA. A gestora acredita que, apesar das incertezas de curto prazo, o tema da IA permanece um dos mais promissores para os próximos anos e continuará a moldar o futuro da economia global.
Os estrategistas da BlackRock reconhecem, no entanto, que existem sinais que precisam ser observados para ajustar essa visão positiva. Entre eles, está a possibilidade de desaceleração no crescimento das receitas das principais empresas de IA e uma eventual queda nos investimentos dessas companhias, caso a economia dos EUA enfrente dificuldades. Ainda assim, a visão de longo prazo da gestora permanece otimista, ancorada na crença de que a IA impulsionará uma nova era de inovação e crescimento.