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Você e os carros mais caros e cada vez mais vendidos do mundo

por Leandro Mattera
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Você e os carros mais caros e cada vez mais vendidos do mundoÉ comum ouvirmos que o brasileiro é apaixonado por carros. O tema é bastante controverso, mas essa discussão não é relevante no momento. Por ora, o que podemos afirmar com certeza é que o brasileiro aceita pagar caro pelos carros que compra em quantidades cada vez maiores, apesar de serem os veículos com os preços mais caros do mundo.

Como isso ocorre e o que podemos fazer? Inicialmente, vamos falar sobre os “quatro pilares” que sustentam a existência desses preços astronômicos. Os três primeiros serão abordados rapidamente, porque o nosso foco será discutir o quarto.

1. Alta carga tributária

No Brasil, os carros constituem a maior fonte de arrecadação para o governo em todas as esferas. Em relação ao preço de compra, há estimativas de que os impostos representam (sobre o custo total) cerca de 42% para os carros nacionais e 56% para os importados. Esta matéria da revista Época tratou especificamente do assunto.

2. Elevada margem de lucro das fabricantes

Apesar dos tributos, os carros vendidos no Brasil apresentam preços bem acima do que seria razoável, principalmente quando comparamos os valores cobrados pelos mesmos modelos em outros países. Existem estimativas apontando para o fato de que a margem das fabricantes no Brasil chega a ser o dobro (ou superior) em relação ao mercado externo.

Adicionalmente, as concessionárias têm uma considerável margem e ainda existem questionáveis regras internas que impedem os consumidores de comprarem numa região diversa daquela em que residem.

Neste artigo, o objetivo é apenas retratar esse cenário, lembrando que as empresas são entidades voltadas à obtenção de lucro. Isso porque a intenção principal é destacar que compete ao consumidor tomar as melhores decisões de compra (veja o item “4” abaixo), o que inclusive pode implicar alterações nas próprias condições do mercado num prazo mais amplo.

3. Incidência do “Custo-Brasil” e protecionismo

O chamado “Custo-Brasil” é a principal justificativa usada pelas fabricantes ao comentarem os preços elevados. Acreditamos que isso explica apenas parcialmente a questão, principalmente porque observamos que alguns carros fabricados no Brasil e exportados apresentam um preço significativamente inferior no mercado externo (mesmo considerando os diferentes tratamentos tributários aplicáveis).

Mas, realmente, não podemos ignorar o “Custo-Brasil”, que, além de englobar o item “1”, abrange a falta de infraestrutura e consequentes impactos logísticos, legislação trabalhista ultrapassada, custo do capital, política monetária, alta carga de impostos na folha de pagamento, práticas sindicais questionáveis e etc.

Além disso, há um excesso de medidas protecionistas que comprometem a competitividade dos veículos importados, o que afeta a concorrência. O novo Regime Automotivo, conhecido como Inovar-Auto, inclusive mantém uma série de regras nesse sentido. Adicionalmente, no Brasil existe a proibição de importação de veículos usados com menos de 30 anos, o que também contribui para esse cenário.

4. O consumidor brasileiro aceita pagar caro pelos carros

“O dinheiro nunca falta para os nossos caprichos; somente discutimos o preço das coisas úteis e necessárias”Honoré de Balzac

Finalmente chegamos ao ponto que queremos discutir. Nos últimos anos, o mercado de automóveis brasileiro vem crescendo no ranking global de vendas e já temos a quarta posição, com perspectivas de atingirmos a terceira.

Como isso é possível considerando que temos os carros mais caros do mundo?

A resposta é simples: o brasileiro paga. Como já foi dito por executivos das fabricantes, o preço desvincula-se do custo de produção e é baseado no valor percebido pelos clientes. Esse fator subjetivo de avaliação permite que as empresas vendam os seus produtos pelo maior preço possível que os consumidores se dispõem a pagar.

Assim, não há motivos para um fabricante reduzir os preços se há compradores. Obviamente, não há nada de errado nisso, levando em conta que as empresas não são entidades assistencialistas e não estão vendendo bens absolutamente essenciais à vida humana.

Recentemente, a Forbes publicou uma matéria mostrando que os brasileiros se assustam com os preços dos carros no Brasil quando comparados aos similares americanos. Prontamente, o amigo Conrado Navarro – @Navarro – disparou no Twitter: “Fica assustado, mas compra pra dedéu?”. Isso resume bem o que pensamos.

Além disso, o que dizer das pessoas que ainda se dispõem a pagar ágio sobre os preços que já são exorbitantes? O que comentar sobre as filas de clientes comprando lançamentos que sequer chegaram às concessionárias, mostrando que estão adquirindo sem ao menos dirigir o futuro carro?

Além disso, ainda temos a questão de pagar mais caro por carros em busca de status. Na célebre matéria anterior da Forbes, isso foi brilhantemente ironizado. Nos artigos anteriores, já foi exposta a minha opinião contrária a esse comportamento, lembrando que “você não é o carro que possui”.

Analisando-se todo o contexto, percebe-se que os consumidores têm grande responsabilidade para manter esse quadro de altos preços dos carros. Afinal, as vendas continuam em alta.

Ok, mas o que fazer então?

Os três primeiros itens compreendem aspectos que estão fora do nosso alcance direto. É claro que há várias iniciativas que podem ser tomadas ou apoiadas para alterar essa situação (o que é mais do que necessário), mas isso escapa ao nosso controle na esfera individual.

Portanto, vamos nos ater, no momento, ao que pode ser feito agora, justamente envolvendo as nossas decisões de compra. A aquisição de carros com inteligência financeira é um dos temas centrais dessa série de artigos para o Dinheirama.

Em síntese, pensando no momento da compra, segue uma sequência de passos que já foram ou serão desdobrados em outros artigos.

1. Atente para os motivos da compra

No artigo “Você compra seu carro por necessidade, status ou pelo preço? Ou tudo isso?”, apresentamos um guia para ser usado como referência. Basicamente, busque conciliar suas necessidades, as finanças, a qualidade e segurança do veículo e os seus desejos.

2. Faça o seu planejamento financeiro

Reiteramos que, ao pensarmos nas finanças automotivas, é necessário considerar toda a Estrutura de Preços dos carros. Além disso, é importante dedicar-se ao seu planejamento financeiro para analisar exatamente as suas possibilidades pessoais e familiares. Em recente artigo para a Você S/A, o amigo Conrado Navarro tratou do assunto.

3. Compare e saiba se o carro pretendido vale o que custa

Este é um tema complexo e será aprofundado em outros artigos. No momento, é importante dizer que existe uma série de itens a serem avaliados pensando no lado técnico do carro. São aspectos como motor, câmbio, espaço interno, itens de série, porta-malas, estabilidade etc.

Adicionalmente, é importante comparar todas as opções dentro do segmento pretendido, fazendo uma análise criteriosa. Mas, além dos fatores habituais, é preciso destacar que, no Brasil (mesmo considerando que todos os carros são caros), existem muitos fatores que tornam muitos automóveis ainda mais onerosos, considerando questões de (falta de) qualidade e segurança.

Basicamente, por estarmos num mercado emergente, há diversos modelos à venda que jamais seriam comercializados atualmente em países de primeiro mundo.

Com relação à qualidade, há carros que apresentam projetos antigos e ultrapassados, além de contarem com qualidade de construção questionável. Existem casos de carros que são produzidos há décadas sem mudança de geração (novo projeto efetivo, e não um mero “facelift”), estando muito atrasados em relação aos similares em outros países.

Também temos motores usados desde os anos 80 e que ainda continuam equipando veículos novos. Possuímos, ainda, carros com plataformas absolutamente defasadas datadas do início dos anos 90.

Quanto à segurança, será publicado um artigo específico, mas voltamos a citar a frase de Max Mosley, presidente do Global NCAP: “Os níveis de segurança dos carros mais populares da América do Sul ainda estão vinte anos atrasados em relação aos veículos utilizados na Europa e América do Norte”.

Portanto, na hora de escolher o carro, a pesquisa deve contemplar, além dos aspectos usuais, também o que chamamos de “elementos ocultos”. No nosso trabalho de consultoria automotiva pessoal, percebemos que esses são os pontos normalmente negligenciados pelos consumidores, até porque não são facilmente encontrados na mídia.

4. Compre o carro que você pode

Considerando os altos preços dos carros zero quilômetro, é possível que você chegue à conclusão de que a compra está além das suas possibilidades financeiras. Ainda, você pode se recusar a pagar o valor cobrado.

Nesses casos, existe a opção de adquirir um usado, desde que em ótimas condições. Como já foi dito, considerando nossa experiência de localizar usados de qualidade, é possível encontrar bons exemplares, mas é necessário pesquisar bastante e ter paciência.

Caso tenha verificado que o seu orçamento familiar não permite, no momento, a compra de um carro, ainda que usado, busque alternativas até que você possa superar essa situação e lembre-se de que “nem todo mundo pode ter um carro”. Esse polêmico tema foi abordado em antigo artigo aqui no Dinheirama.

5. Compre um carro que atenderá você por muito tempo

De acordo com estimativas do Sérgio Habib, presidente da JAC Motors, o brasileiro fica com um carro por 32 meses, em média. Esse número é bem inferior quando comparado, por exemplo, à média de 60 meses apurada na França.

Na minha opinião, esse é um comportamento questionável e insustentável. Isso porque os automóveis são bens duráveis e devem ser tratados como tal. As sucessivas trocas trazem elevados impactos financeiros e, em muitos casos, não têm fundamento real plausível, pensando estritamente nas condições de uso do carro. A questão do impacto ambiental resultante também deveria ser levada em conta.

Realmente, avaliando o lado financeiro, costuma ser vantajoso ficar com o mesmo veículo pelo maior tempo possível. Por isso, reitera-se a importância da escolha, que deve ser bastante criteriosa considerando inclusive a robustez, durabilidade, disponibilidade de peças e facilidade de manutenção, com o objetivo de assegurar o uso do carro por um bom período.

Ao analisar suas necessidades, lembre-se de pensar nas presentes e futuras. Por exemplo, se você já sabe que sua família irá aumentar no próximo ano, busque veículos que já ofereçam as condições de que irá precisar.

Este estudo recente publicado pela Revista Exame traz estimativas interessantes mostrando que, na maioria dos casos, compensa ficar com o carro por mais tempo.

Conclusão

“Tudo pode ser tirado de um homem exceto uma coisa: a última de suas liberdades – escolher sua atitude em um determinado arranjo circunstancial, a escolha de seu próprio caminho”Viktor Frankl.

É possível constatar que vários aspectos estruturais contribuem para os elevados preços cobrados pelos carros no Brasil. Porém, os consumidores também têm sua parcela de responsabilidade ao aceitarem pagar esses valores altíssimos.

Nesse cenário, você, que dá valor ao seu dinheiro, deve avaliar com atenção as suas atitudes procurando utilizar a inteligência financeira para orientar suas decisões de compra. Até porque sabemos que, em função de diversos fatores, o carro é necessário para boa parte dos brasileiros.

Embora tenhamos um contexto complicado, ainda assim existe um significativo universo de possibilidades que podem ser exploradas. Pense bem nas atitudes que irá tomar em seu próprio benefício pessoal e financeiro.

Obrigado pela atenção e até a próxima.

PS: Pensando nas pessoas que dão valor ao seu dinheiro e querem escolher bem os seus carros, foi publicado o livro digital Como Escolher o seu Carro Ideal (clique para detalhes), de minha autoria, que apresenta um roteiro completo para a definição de qual carro comprar, de acordo com o perfil de cada consumidor. Convido você a conhecer mais detalhes do livro clicando aqui.

PPS: Para ajudar você a controlar melhor os gastos crescentes com seu carro no dia a dia, eu também elaborei uma planilha completa e de fácil preenchimento, que pode ser baixada (gratuitamente) no seguinte link: http://bit.ly/PlanilhaCarro

Foto de sxc.hu.

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