Ontem, a Bovespa (BOVH3) e a BM&F (BMEF3) anunciaram consenso quanto a um acordo para a realização da integração de suas atividades. No dia 19 de fevereiro, as duas companhias informaram, através de um comunicado caracterizado por meio de fato relevante, que estavam conversando. A partir daí estipularam um prazo máximo de 60 dias para montar a estratégia da Nova Bolsa.
Já sob a perspectiva do novo negócio, as ações da BM&F encerraram a última sessão com alta de 6,66%, cotadas a R$ 16,80. Os papéis da Bovespa Holding avançaram 3,97%, negociadas a R$ 24,85. A integração das operações criará uma grande nova companhia, com um ativo mais atraente em termos de valuation e com projeções de crescimentos mais sustentáveis. Ganha nosso mercado de ações. Leia um trecho da nota divulgada ontem pelas bolsas:
“Estima-se preliminarmente que esta reorganização societária poderá, até 2010, atingir um potencial de economia de até 25% das despesas operacionais anuais da organização combinada, em função das sinergias existentes”
A Nova Bolsa (nome provisório), companhia aberta e com ações negociadas no Novo Mercado da Bovespa, terá uma reorganização societária que levará a uma emissão de ações ordinárias da nova empresa, para os acionistas da BM&F e da Bovespa, na proporção de 50% para cada um. Os acionistas da Bovespa Holding receberão ainda pagamento adicional de R$ 1,24 bilhão.
Presença e fortalecimento Global
Existia a possibilidade da CME (Chicago Mercantil Exchange) aumentar sua participação na BM&F com a idéia de tomar o controle da companhia. Tudo indica que esse temor ajudou na aceleração do processo de integração, com a finalidade de fazer frente a possíveis ofertas indesejadas, já que a união fortalece as bolsas brasileiras e mercado como um todo.
Bolsas no mundo todo estão se tornando companhias de capital aberto, com o objetivo de se tornarem mais agressivas e claro, atrás de maiores lucros. A primeira a entrar nessa onda foi a Bolsa de Valores Australiana (ASX), que emitiu ações e passou a operar seus próprios papéis.
Nesse cenário agressivo e em busca de oportunidades, passaram a surgir parcerias, fusões e muito confronto. Em 2007 se consolidou a união da Bolsa de Nova York (NYSE) com a Euronext, sediada em Paris. As bolsas de Frankfurt (FWB, da Deutsche Boerse) e Zurique (SWX) compraram a Bolsa internacional de Securitizações (ISE), nos Estados Unidos.
O quadro abaixo, criado pelo Grupo Estado, mostra o universo de fusões e aquisições no setor:
Bovespa e BM&F saíram na frente de outras bolsas importantes, como a Indiana BSE. As brasileiras responderam, já em 2007, por 70% da movimentação na América Latina, segundo dados da Economática. A nova companhia nasce como a terceira maior bolsa do mundo, com um valor de mercado de R$ 34,5 bilhões, considerados os preços de fechamento das ações na sessão de ontem (25/03).
Abaixo da Estréia
A fusão chegou ao mercado como boa notícia para os ativos Bovespa e BM&F. Entretanto, vale ressaltar que sua precificação ainda não é o suficiente para compensar a frustração de investidores que, após a IPO – Oferta Inicial – ainda acumulam perdas.
O prazo estipulado para a definição do comando da nova empresa é de 60 dias, com número de representantes iguais de cada uma. O negócio ainda está sujeito à autorização da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), bem como do BC (Banco Central) e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
O Brasil se torna referência no mercado financeiro e de capitais
O lucro líquido da Bovespa Holding cresceu 139,9% em 2007, um ano marcado por um grande volume de IPOs (dentre os quais o da própria empresa). O montante chegou a R$ 478,5 milhões, sendo que em 2006 o lucro líquido foi de R$ 199,4 milhões.
O Brasil aos poucos descobre que o mercado de capitais e ações, mais que um mercado cheio de incógnitas e perdas, pode ser um instrumento confiável de captação de capital e de bons investimentos, tanto para grandes quanto para pequenos investidores.
Todo esse sucesso também é fruto da organização e dos bons fundamentos da economia brasileira, que nos brindou com excelentes surpresas no ano passado. Fique de olho nas oportunidades! Até sexta.
O artigo foi construido com informações do Grupo Estado, Folha de S. Paulo, Infomoney e Portal Exame.
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Ricardo Pereira é Analista Financeiro Sênior da ABET Corretora de Seguros, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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Crédito da foto para Marcio Eugenio.