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Brasil tem crise de confiança similar ao 2º mandato de Dilma

Agravamento fiscal e alta do dólar pode preceder uma retração do PIB e afundar ainda mais as contas públicas

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante reunião bilateral com a ex-presidente da República Dilma Roussef, atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento

A recente decisão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de cancelar sua viagem à Europa destaca a urgência e gravidade da situação fiscal no Brasil, além de refletir a pressão que o governo enfrenta para lidar com os desafios econômicos e a disparada do dólar (USDBRL), que encostrou em R$ 5,90. Economistas veem uma “crise de confiança” similar à vista antes do impeachment de Dilma Rousseff.

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Dólar salta com ‘pandemia fiscal’ e ruma para R$ 6,50

O cancelamento, solicitado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocorre em um momento em que o mercado aguarda ansiosamente as medidas de ajuste fiscal prometidas após as eleições municipais. Uma reunião foi marcada entre Haddad, Lula e outros ministros, para hoje às 9h.

A decisão de Haddad foi interpretada por analistas de mercado como um sinal positivo, indicando que o governo reconhece a necessidade urgente de medidas para conter o descontrole fiscal.

“O mercado ficou absolutamente estressado com a notícia da viagem, pois isso de alguma forma simboliza uma falta de urgência na decisão de controle de gastos”, afirmou Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV. A ausência do ministro em uma semana crítica poderia sugerir falta de prioridade para enfrentar o aumento das despesas públicas, o que gerou apreensão e fez o dólar disparar, atingindo R$ 5,86 na última semana.

Crise de confiança

Para o economista-chefe da Ativa Research, Étore Sanchez, o Brasil já está imerso em uma crise de confiança, que vem impactando os ativos e colocando o país em um “ciclo vicioso”.

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Segundo ele, “o Brasil enfrenta uma crise de confiança” que, como no governo Dilma Rousseff, pode preceder uma retração do Produto Interno Bruto (PIB), agravando a situação fiscal e exercendo mais pressão sobre os ativos brasileiros. O impacto disso é um enfraquecimento da moeda nacional, aumento da inflação e perda de credibilidade junto a investidores e agências de rating.

O aumento do dólar reflete essa crise de confiança. Para Sanchez, medidas paliativas ou promessas de ajuste fiscal não são mais suficientes para mudar a trajetória fiscal do país. “Acreditamos que as ações necessárias para reverter a grave situação fiscal vão muito além de retórica”, enfatizou o economista. O governo precisa ir além das promessas e adotar uma política fiscal rigorosa que inclua cortes estruturais nas despesas, o que, na visão de muitos economistas, beneficiaria o cenário fiscal de longo prazo.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Gastos
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Imagem: Ricardo Stuckert / PR)

Pressão

Haddad e sua equipe avaliam a criação de um limite de aumento real de 2,5% ao ano para as principais despesas do Orçamento, similar ao teto estabelecido no novo arcabouço fiscal. No entanto, Sanchez observa que essa abordagem é insuficiente, considerando o “gargalo fiscal” que o país já enfrenta. Segundo ele, alguns economistas ainda tratam o problema como se o Brasil estivesse apenas entrando em uma crise de confiança, mas o cenário fiscal já se deteriorou significativamente.

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O aumento no valor do dólar pressiona a inflação e encarece a dívida externa do país, agravando a situação econômica interna. Para Sanchez, é crucial que o governo se mova rapidamente para aprovar medidas de corte de gastos que sinalizem uma mudança de trajetória. Ele alerta que, em momentos de crise, ações apressadas e não planejadas podem piorar a situação fiscal.

Resistência política

A implementação de um pacote de ajuste fiscal, no entanto, não depende apenas da vontade do Executivo. Lula e Haddad enfrentarão resistência dentro do próprio espectro político, que vê com desconfiança a agenda de austeridade.

Setores do governo associam a guinada econômica para a direita com o impeachment de Dilma Rousseff, o que pode dificultar o apoio necessário para as medidas de ajuste fiscal. O desafio para o governo é equilibrar a urgência de restaurar a confiança do mercado com as demandas internas por políticas de estímulo e investimento social.

Sanchez observa que o desejo de “fazer algo” rapidamente pode levar a decisões precipitadas, o que seria prejudicial. Além de agilidade, o governo precisa ser estratégico em suas ações, abordando as necessidades fiscais de curto, médio e longo prazo. “A situação do governo é bastante delicada”, explica o economista, acrescentando que o governo deve evitar medidas simbólicas ou paliativas e focar em uma nova trajetória fiscal que inclua reformas estruturais.

O mercado espera que o pacote de corte de gastos traga mais clareza sobre como o governo pretende equilibrar suas contas. Enquanto isso, a cautela da equipe econômica em divulgar informações detalhadas gera nervosismo. Haddad e sua equipe evitam vazamentos e trabalham em um ritmo que contrasta com as expectativas do mercado, uma abordagem que, segundo o Ministério da Fazenda, visa reduzir especulações.

(Com Estadão Conteúdo)

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